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A cafajestagem bolsominion

Com este título, Juca Kfouri publicou um texto direto e cirúrgico, sem meias palavras, sobre a triste realidade que somos obrigados a viver nestes dias sombrios. Expressa ali uma reação, pelo menos nas palavras, ao golpe que já vai sendo abertamen­te orquestrado contra as instituições democráticas. Em resumo, ele afirma, com todas as letras, que o atual ocupante do Palácio do Planalto reflete o que há de pior e mais insano em parte da sociedade brasileira: o desejo de viver sob uma ditadura.

Ele centra sua análise na relação entre criador e criatura, sendo o criador essa parte da sociedade que deu poder ao imbecil-mór. Abdico hoje do meu próprio texto para compartilhar com os leitores o texto na íntegra de Kfouri. Vale a pena.

“Bolsonaro é um cafajeste. Não há outro adjetivo que se lhe ajuste melhor. Cafajestes são também seus filhos, decrépitos e ignorantes. Cafajeste é também a maioria que o rodeia.

Porém, não é só. E algo que se constata é pior. Fossem esses os únicos cafajes­tes, o problema seria menor.

Mas, quantos outros cafajestes não há neste país que veem em Bolsonaro sua imagem e semelhança?

Aquele tio idiota do churrasco, aquele vizinho pilantra, o amigo moralista e picareta, o companheiro de trabalho sem-vergonha…

Bolsonaro, e não era segredo pra ninguém, reflete à perfeição aquele lado mequetrefe da sociedade.

Sua eleição tirou do armário as criaturas mais escrotas, habitués do esgoto, que comumente rastejam às ocultas, longe dos olhos das gentes.

Bolsonaro não é o criador, é tão apenas a criatura dessa escrotidão, que hoje representa não pela força, não pelo golpe, mas, pasmem, pelo voto direto. Não é, portanto, um sátrapa, no sentido primeiro do termo.

Em 2018 o embate final não foi entre dois lados da mesma moeda. Foi, sim, entre civilização e barbárie. A barbárie venceu. 57 milhões de brasileiros a coloca­ram na banqueta do poder.

Elementar, pois, a lição de Marx, sempre atual: “não basta dizer que sua nação foi surpreendida. Não se perdoa a uma nação o momento de desatenção em que o primeiro aventureiro conseguiu violentá-la”.
Muitos se arrependeram, é verdade. No entanto, é mais verdadeiro que a gran­de maioria desse eleitorado ainda vibra a cada frase estúpida, cretina e vagabunda do imbecil-mór.

Bolsonaro não é ‘avis rara’ da canalhice. Como ele, há toneladas Brasil afora.

A claque bolsonarista, à semelhança dos ‘dezembristas’ de Luís Bonaparte, é aquela trupe de ‘lazzaroni’, muitos socialmente desajustados, aquela ‘coterie’ que aplaude os vitupérios, as estultices do seu ‘mito’. Gente da elite, da classe média, do lumpemproletariado.

Autodenominam-se ‘politicamente incorretos’. Nada. É só engenharia grama­tical para ‘gourmetizar’ o cretino.

Jair Messias é um ‘macho’ de meia tigela. É frágil, quebradiço, fugidio. Nada tem em si de masculino. É um afetado inseguro de si próprio.

E, como ele, há também outras toneladas por aí.

O bolsonarismo reuniu diante de si um apanhado de fracassados, de mar­ginais, de seres vazios de espírito, uma patuléia cuja existência carecia até então de algum significado útil. Uma gentalha ressentida, apodrecida, sem voz, que encontrou, agora, seu representante perfeito.

O bolsonarismo ousou voar alto, mas o tombo poderá ser infinitamente mais doloroso, cedo ou tarde.

Nem todo bolsonarista é canalha, mas todo canalha é bolsonarista.

Jair Messias Bolsonaro é a parte podre de um país adoecido”.

A cafajestagem está chamando, com todo o apoio do presidente, manifesta­ções contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal para o dia 15 de março. A mensagem dos cafajestes, compartilhada aos amigos pelo celular do presidente, tem um vídeo em tom dramático, dizendo que ele quase morreu para defender o Brasil. O vídeo de 1 minuto e 40 segundos traz afirmações como “ele foi chamado a lutar por nós. Ele comprou a briga por nós. Ele desafiou os podero­sos por nós. Ele quase morreu por nós. Ele está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária por nós. Ele sofre calúnias e mentiras por fazer o melhor para nós. Ele é a nossa única esperança de dias cada vez melhores. Ele precisa de nosso apoio nas ruas”. Democratas de todas as matizes, chegou a hora de pegarmos a retroesca­vadeira! Defendamos a liberdade e a democracia agora, antes que seja tarde.

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