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A Bolívia e sua Literatura (9): Armando Chirveches

Armando Chirveches (1881–1926) foi um romancista boliviano, graduado em Direito, que iniciou sua carreira literária como poeta modernista, desta fase elaborando as obras “Lilí” (1901, poesia), “Noche estival” (1904, poesia), “Celeste” (1905, romance), “La candidatura de Rojas” (1908) e “Cantos de primavera” (1912, poesia). Em 1908, Chirveches aderiu ao Partido Liberal, passando, nos anos seguintes, a exercer funções diplomáticas em vários países americanos e europeus. Deste período temos, “Cantos de primavera” (1912, poesia), “La casa solaríega” (1916, romance), “La Virgen del Lago” (1920, romance), “Añoranzas, al amor y a ellas” (1920, poesia), “Flor del trópico” (1926, romance), “A la vera del mar” (1926, romance) e “Alcides Arguedas” (1926, artigo de revista).

“A la vera del mar” (1926) e “Flor del trópico” (1926), romances curtos, enquadram a sua personalidade de narrador quase imperceptivelmente no primeiro até chegar à discrição nos outros dois. Integrando a geração de 1910, que passou do romantismo ao modernismo, o autor também se dedicou a obras jurídicas. Entretanto, segundo a crítica, as vicissitudes da vida deixaram-no melancólico e depressivo, mergulhado em profunda solidão. Em suas palavras, “Eu estou tão sozinho. Eu não criei uma casa. Comigo o nome da minha família se extingue e os amigos mal contam”.

Vivendo muitos anos na França, foi realista ao descrever o que acontecia na Bolívia. Influenciado pelos romancistas espanhóis José María de Pereda (1833-1906), um dos mestres dos costumes e dos romances regionais espanhóis, Armando Palacio Valdés (1853-1938), dono de um julgamento independente, humor refinado, poder de observação incomum e esperançoso de coisas melhores por vir, e Vicente Blasco Ibáñez (1867-1928), dedicado ao regionalismo, naturalismo e autobiografias, destes absorveu o melhor viés literário para iluminar seus textos pátrios. Por sua vez, dos modernistas franceses, Chirveches assimilou fugir da artificialidade e do conformismo da vida.

Destacando os romances “La candidatura de Rojas” (1908), “La casa solaríega” (1916) e “La Virgen del Lago” (1920), foi com a primeira dessas três narrativas que Chirveches se tornou o autor boliviano mais famoso no exterior. No entanto, alguns críticos bolivianos consideram a segunda, que narra o triunfo do aventureiro andaluz Juan Luque na sociedade de Chuquisaca, retratando os “costumes latino-americanos” com mão magistral, em clima de luta entre as aspirações liberais e a influência clerical, sua melhor obra. A despeito disso, a crítica, de modo geral, considera esses três romances obras centrais da literatura do autor, todos de construção vigorosa e singular­mente coloridos, embasando-se do realismo para pintar o panorama de sua pátria.

Por sua vez, procurando não se aprofundar muito nos problemas, e anseios, da alma nacional boliviana, Chirveches foi um ferrenho crítico da sociedade boliviana de seu tempo. Em “La candidatura de Rojas” (1908), o autor mostra-nos o desencanto com um sistema político e social que não funciona mais, que necessita de mudanças radicais eliminadoras do caciquismo como hábito político. Na obra, o poder da massa eleitoral questiona a legitimidade de um resultado eleitoral, mas, por outro, confirma que, com isso, o país tornava-se escru­pulosamente democrático, fazendo com que as elites dependessem da sua participação para continuar como um grupo privilegiado e ser capaz de definir sua hegemonia interna.

Nela, a família do clã Garabito apodera-se da exploração e matança da população, controla a vida pública, privada e religiosa da capital, com um de seus membros, D. Manuel, tornando-se o candidato “liberal” rival de outro personagem, Enrique Rojas y Castilla, que, por sua vez, enfrenta o poder provincial de toda a família Garabito, desenvolvedora de todo tipo de estratégias para impedir que o Governo interviesse no controle de seu território, e que, por sua vez, o utilizava para derrubar seus adversários. De acordo com a crítica, “A influência dos Garabitos dá-nos a imagem de que estes caciques procuravam na política apenas um meio de encobrir os seus males, roubos e crimes… acabando por ser vencedores das eleições e sequestradores da vontade popular. Tudo isso com a aprovação do partido governante, que utilizou essa casta para conseguir a perpetuação do poder, falsificando o sufrágio e corrompendo o sistema represen­tativo. Nem é preciso dizer que as coisas não mudaram muito no interior do país desde que Chirveches publicou La Candidatura de Rojas (1908). A obra nos apresenta um pouco da amplitude da vida ‘provinciana’ boliviana. Além disso, mostra-nos as perspectivas da política da cidade e seus personagens característicos, a política provinciana e seu mundo heterogêneo, entre outros, que, desdobrados ao longo deste romance, levam em conta a formação do desenvolvi­mento do pensamento do país. Chirveches está integrado ao tecido cultural daqueles anos, onde a visão que ele tem sobre a realidade boliviana está impregnada de preocupações institucionais; na interpretação dos fatos, evidenciando o confronto de velhas e novas estruturas. Descreve o mau funcionamento do regime partidário, dando continuidade às práticas caudilistas, gerando descontentamento em relação a essa classe”.

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