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A Bolívia e sua Literatura (4): Nataniel Aguirre

Nataniel Aguirre (1843 – 1888) foi um escritor boliviano dedi­cado à advocacia, à diplomacia e à política. Em 1862, praticando o jornalismo, Aguirre fundou o jornal “El Independiente”, em que mantinha uma coluna cultural. No final do século XIX, sua narrativa inaugurou uma exceção à narrativa colonial, ao memorialismo e à reconstrução histórica de até então, levando a literatura boliviana do romantismo ao realismo. Tendo seu trabalho sido reconhecido somente na idade adulta, o autor atuou, anteriormente, na política, em governos de diferentes presidentes. Em 1885 publicou o romance “Memorias del último soldado de la Independencia” de Juan de la Rosa (1991), obra, esta, que lhe rendeu o maior reconhecimento já recebido pelos intelectuais bolivianos. De que trata a obra? Narra al­guns dos episódios mais heróicos da história de Cochabamba, cidade natal de Aguirre, para destacar a resistência do povo contra o general espanhol José Manuel de Goyeneche.

Segundo especialistas, Aguirre, ao tratar de acontecimentos recentes de um romance histórico que ainda estavam na consciência dos leitores, afastou-se do estilo romântico que preferia situar as histórias em épocas mais remotas, aproximando-se de uma literatura didática que buscava formar a população liberal atual. Por adição, no período de 1874 a 1883, o autor publicou vários ensaios de relativo sucesso, como, por exemplo, “Unitarismo e Federalismo”, “Biografia do General Francisco Burdett O’Connor” ou “Bolívia na Guerra do Pacífico”. Também escreveu poesia lírica e patriótica, contos, dramas românticos de estilo folclórico, como “Visionarios y mártires” (1865) e “Represália a um herói”(1869). Dentre os romances, merecem destaque as obras “La belísima Floriana” e “La Quintañona” ambas, ainda segundo estudiosos, obras de reconhecido valor literário, que o inscreveram na chamada “literatura boliviana independente”.

Provocando inquietações sobre a dicotomia vida/arte e sobre as transformações sociais locais, universais e atópicas, a literatura de Aguirre, segundo especialistas, interage com o global por intermédio da arte e da cultura. Em “Memorias del último soldado de la Inde­pendencia” de Juan de la Rosa (1991), a cegueira das elites culturais produzia a invisibilidade do país. Mas, a despeito disso, o soldado ali­menta-se da força de tais derrotas para trazer, ao atormentado povo boliviano a voz e a esperança da libertação. Relato testemunhal, pu­blicado pela primeira vez em 1885, trata-se de um livro de memórias de um coronel veterano da guerra. Em seu tom emocional, segundo a crítica, a obra tende sutilmente ao maniqueísmo, em que o mundo é vis­to como que dividido em dois: o do Bem e o do Mal, buscando equilibrar as injustiças, as desgraças, os ódios, os males, as misérias dos homens, os defeitos das sociedades e muitas outras com a bondade de Deus. Assim, na obra de Aguirre, os bons são os patriotas: Esteban Arze, o personagem principal Juan, sua mãe Rosita, seu tio Fray Justo, seu tio Alejo Nina, etc., enquanto que os maus são os realistas: General Goyeneche, o padre Arredond , Mr. Buguya e a nobre senhora.

Por sua vez, a crítica também entende que, apresentando o indí­gena de forma diferenciada, considerando que este constrói um herói positivo, capaz de representar a imagem do país, é em tal caracte­rística que o soldado busca modificar e redirecionar os rumos da própria nação. Nas palavras da crítica: “A força de presença indígena tinha que ser elemento importante a se considerar durante a criação de nações latino-americanas e em obras posteriores que mediaram sobre a mesma. “Juan de la Rosa: memórias do último soldado da independência” sincretiza várias das influências do romantismo, os costumes, o romance histórico, etc (…) A novela de Nataniel Aguirre ativa nuances e recursos poéticos que a fazem diferente, significati­va e sugestiva em relação a outros romances latino-americanos do século XIX e, em particular estratégica, não constitui senão uma alegoria nacional: a história de um destino pessoal como metonímia do destino social de uma nação”.

Por sua vez, a despeito de alguns estudos afirmarem que esta obra é resultado de um esforço conjunto em que Nathaniel Aguirre seria apenas o editor, em “Juan de la Rosa: memorias del último soldado de la Independencia” (1885), tematiza-se a Guerra da Independência e os ideais americanos, tanto nos ensinamentos de Fray como na resistên­cia das heroínas da coroa e da Batalha de Aroma (1810), em que um exército irregular de índios e mestiços derrotou as forças monarquis­tas. Em tempos comemorativos de independência de várias nações latino-americanas, a obra é um achado que vale ser rememorado.

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