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A Bolívia e sua literatura (2): Oscar Alfaro

Oscar Gonzalez Alfaro (1921-1963) foi um poeta, escritor, professor e jornalista boliviano que buscou captar em seus escritos os costumes e modos de vida da Bolívia, bem como, dar atenção à literatura juvenil de seu país, para estes escrevendo com sensibilida­de e detalhismo. Integrante da segunda geração de ‘Gesta Bárbara’ (1944), em La Paz, movimento cultural revolucionário fundado em 1918, que reunia integrantes de 17 a 28 anos interessados na cons­trução de dias melhores e mais adequados ao desenvolvimento do país, também colaborou com o Partido Comunista Boliviano (1950), bem como, teve seus poemas musicados pelos amigos. Produtor do programa ‘La República de los Niños’ na Rádio estadual ‘Illimani’, a estes dedicou versos de rimas fáceis e gostosos de recitar”. Por sua vez, segundo a crítica, seus versos ‘Tragedia del Chapaco’ e ‘El Sapo’, inte­gram os cem melhores poemas da literatura boliviana.

Cinco de seus livros são desse gênero, dentro do qual o autor desenvolveu diferentes tipos de poesia infantil. No micro-poema, descreve, em versos, objetos, frutas, animais ou paisagens. Nos poemas-fábu­la, especialmente naqueles com tema sobre animais, o final geralmente ter­mina com uma moral embutida na estrutura do mesmo. De acordo com estudiosos, as diferentes atividades da criança também constituem a maior motivação para as canções de ninar de Alfaro: escola, jogos, etc. Na poesia social, o autor alude à criança pobre, à miséria do camponês, à missão dos trabalhadores, à discriminação racial, à organização do trabalho, etc. Na poesia cívica, busca preencher o vazio que ocorre quando a criança deve enfrentar a homenagem aos heróis e regiões de seu país. Nesse sentido, Alfaro reescreve a história em sua poesia ao oferecer uma visão nova e popular da história da Bolívia. Na poesia de costumes, reflete a paisagem e os homens de seu vale natal. Na poesia de amor, reflete as cenas de amor do morador de Chapaco. Na poesia humorística, gênero de maior atua­ção autoral, contribuiu diariamente no jornal La Nación. Espalhada em diversos periódicos, o conjunto de sua poesia denuncia, a seu modo, as injustiças sociais e o anticlericalismo, sem se descuidar de reivindicar uma Igreja cuja figura do Cristo luta pelos direitos dos mais fracos.

Por sua vez, no gênero narrativo, Alfaro se dedicou a duas linhas: a da história infantil e a do conto popular. No primeiro, desenvolveu a crítica social com traços de humor. No segundo, destacou a des­crição dos costumes do Chapaco, da paisagem rural com traços ora cômicos, ora trágicos. No gênero dramático, Alfaro produziu obras para fantoches e teatro folclórico. Neste aspecto, sua experiência no programa de rádio “La República de los Niños”, da Rádio Illimani, mencionado inicialmente, foi o que motivou sua preocupação em escrever enredos para fantoches. No caso das zarzuelas, Alfaro contribuiu para a compilação de versos e danças populares de San Lorenzo e arredores. A produção dramática também tem o elemento de denúncia social. Em se tratando de outras inclinações criativas, estas foram verdadeiras descobertas de Alfaro.

Uma poesia? “Borboleta”: “Senhorita borboleta, leque que se agita junto ao rosto de uma rosa. É um alegre lenço, Com o qual dança um anão brincalhão algum baile americano. É também uma bandeira diminuta, na rota do vento da primavera. E se pousa no livro de um menininho. Oh… que ilustração mais formosa que do céu há caidinho!”

Segundo Eliodoro Ayllón (1930-1992), poeta e jornalista boli­viano, “Alfaro é o ápice solitário da literatura boliviana. Não surge de uma herança; também nada do seu tamanho aparece à frente. /…/ Os novos poetas para crianças não têm, e não atingem, a força, a pureza e o lirismo de Oscar”. Por sua vez, o historiador Juan Siles Guevara afirma que, seja fazendo poesia, seja dando aulas às crianças, Alfaro sempre está comprometido com a mudança social. No entanto, seus melhores poemas infantis são justamente os que observam e recriam o mundo mágico da infância, conseguindo, neles, materializar uma atmosfera poética que lembra grandes clássicos do gênero como Hans Christian Andersen ou Oscar Wilde.

Seus melhores contos podem ser encontrados em “Cuentos infantil” (1955) e “Cuentos Chapacos” (1963). Suas coleções de poemas incluem “Bajo el sol de Tarija” (1947), elogiado por Juana de Ibarbourou, “Cem Poemas para Crianças” (1955) e “El circo de papel” (1970). Vá­rios compositores colocaram música em vários de seus poemas. Com colunas fixas em jornais nacionais e em revistas e jornais estrangeiros, Alfaro teve muitos de seus poemas traduzidos para o inglês, francês, português, alemão e esperanto. De acordo com estudiosos, Alfaro, “enquanto poeta-criança que é, inter­preta as emoções, dando, aos seus poemas, a clareza da água e o sabor do pão. É por isso que eles têm a validade permanente do autêntico, do genuíno. Nada falso, disfarçado de palavras bonitas”.

Após sua morte, numa noite de Natal, sua esposa deu continuidade a esse trabalho para prolongar sua presença espiritual e alimentar as almas infantis.

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