Adolfo Costa du Rels (1891-1980), escritor e diplomata boliviano, embora nascido na Bolívia, foi educado, desde os 8 anos, na França, terra natal de seu pai. Em 1951, seu ensaio “El drama del escritor bilíngue” (O drama do escritor bilíngue), escrito em espanhol, relata a dificuldade linguística que é ser um falante nativo de um idioma (no caso, o espanhol) e ser educado em outro (no caso, o francês). Formado em Direito e em Literatura, retornou à Bolívia em 1912, em plena descoberta de petróleo na terra natal, e, obtendo subsídios para exploração do mesmo na região, tornou-se um dos mais ricos operadores de petróleo do país.
Ingressando na diplomacia, em 1917, exerceu vários cargos políticos na França, representando a Bolívia, e no próprio país, vindo a defender, entre outros, o uso da coca na Bolívia, conhecida mundialmente por seu alcalóide psicoativo, a cocaína, seja por sua importância econômica, seja por seu valor para a saúde e nutrição, ambos de longa tradição entre os bolivianos. Em 1932, du Rels defendeu a Bolívia na disputa pelo distrito de Puerto Casado com o Paraguai, alegando que, embora a região pertencesse à Bolívia desde 1810, o Paraguai vinha ocupando a região clandestinamente, aproveitando sua posição geográfica favorável. Durante a 2ª Guerra Mundial, du Rels também tornou-se presidente do conselho da Liga das Nações, antecessora da Organização das Nações Unidas (ONU).
Nos campo da literatura, o autor escreveu poesia (Le sourire návre / O sorriso de coração partido, em francês, 1922; Amaritudine, em francês, 1949; e Poemas (em espanhol, 1988); peças teatrais (Hacia el atardecer/Para a noite, em espanhol, 1919; La hantise de l’or/O feitiço do ouro, em francês, 1928; Las fuerzas del mal/As forças do mal, em espanhol, 1940; Les forces du silence/ As forças do silêncio, em francês, 1944; Les étendards du roi: pièce en trois actes/ Os estandartes do rei, em francês, 1956), romances (Terres embrasées: roman/Terra em chamas, em francês, 1931; Tierras hechizadas/Terras assombradas, em espanhol, 1940; Terras enfeitiçadas, 1945; La Laguna H. 3 (em francês, 1967; Los Andes no creen en Dios/Os Andes não acreditam em Deus, em espanhol, 1973), contos (El traje del Arlequín/O traje de Arlequim, em espanhol, 1921; Lagune H. 3: récit/ Lagoa H. 3: história, em francês, 1938; El embrujo del oro/ O feitiço do ouro, em espanhol, 1948) e ensaios (Problèmes d’une paix: Documents diplomatiques sur le conflit du Chaco / Problemas de paz: Documentos diplomáticos sobre o conflito do Chaco, em francês, 1933; El drama del escritor bilíngue / O drama do escritor bilíngue, em espanhol, 1941; e Los cruzados de alta mar/ As travessias em mar profundo, em espanhol, 1954).
Sua peça “Les étendards du roi”/”Os estandartes do rei” foi encenada em Paris, em 1956. A versão em espanhol, “Los estandartes del rey”, foi encenada em La Paz, em 1968, recebendo o Prêmio Gulbenkian de 1972, como melhor dramaturgo do mundo latino. Por sua vez, seu romance “Los Andes no creen em Dios” foi adaptado para o cinema, representando a Bolívia na 80ª edição do Prêmio Oscar, em Hollywood, e no prêmio Goya, da Espanha. Apresentando ao cinéfilo a dura realidade do povoado boliviano de Uyuni, onde, entre os anos 20 e 40, jovens procuravam ascensão social por meio do garimpo, du Rels traz Alfonso Claros, jovem engenheiro, educado na França e repleto de inquietações literárias, que se muda de La Paz para Uyuni, no sul da Bolívia, cidade que vive um momento de esplendor, com homens já muito ricos e outros, esperando pacientemente a sorte grande de trabalhar em uma grande companhia mineradora. Neste lugar de estranho magnetismo e euforia coletiva produzidos pelo encanto do minério, cinco personagens entram num jogo de paixões e frustrações. Um deles sendo Claudina, moça sensual e forte, que cativa Alfonso por seu orgulho e sua beleza.