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A Barcelona de Gaudi

São várias Barcelonas numa só Barcelona. A cidade que hoje é uma das mais importantes da Espanha e da Europa, foi fundada pelos romanos. E foi crescendo, participando das lu­tas políticas, sendo o centro da Catalunha até se tornar hoje cidade maior, cosmopolita, cheia de arte e cultura, agradável de se visitar e vivenciar a enorme herança romana, visigótica, franca e muçulmana, que moldou seu passado. Comecemos pela Barcelona de Gaudi.

Antoni Gaudi nasceu em 1878 e foi um dos maiores artistas da cidade. Arquiteto, inovou o conceito da arte, criando um modernismo catalão, que pregava renovar sem perder a tradi­ção. Usou muito a técnica das “trencadis “, que são pedaços de cerâmicas quebradas, unidas com arte e que dão um produto co­lorido, dinâmico e notável. No Parque Guell isto é demonstrado em abundância em suas fontes, corrimões, edifícios, bancos de jardim. Neste parque, se destacam as coloridas salamandras, que se tornam sua marca. Notáveis são os seus tetos, inspirados na estrutura do caramujo náutilus e que se projetam graciosamente.

No centro da cidade, entre outras obras, destacam-se duas: a Casa Batló e a Casa Milà, ambas Patrimônio Cultural da Huma­nidade. Nelas, o arquiteto navega pelos seus sonhos, criando for­mas onduladas que lembram o mar, usando o azul, que modula em variados tons, reproduzindo a natureza e algumas lendas catalãs. É impressionante o que se sente ao se tentar entender a profusão de cores e formas, todas oníricas e originais, quando se visitam as duas casas. Você é lançado num sonho agradável, apesar de algumas formas refletirem a natureza bruta.

Entretanto, a maior obra de Gaudi é, sem dúvida, A Sagra­da Família, uma igreja a qual dedicou sua vida. As obras não terminaram até hoje e estima-se sua inauguração para 2026, centenário de sua morte. É impressionante olhar as altas torres – são 18 –, decoradas como se fossem colmeias de areia molhada que escorrem, visão sublime, onírica, irreal, única e exclusiva, encimadas por torretes. Das suas três fachadas, Gaudi conseguiu acabar a primeira, a da Natividade, obra que durou 36 anos. Ela representa o nascimento do Cristo e a própria Criação, tem esculturas gloriosas, cheias da influência católica do arquite­to, que a orna com decoração opulenta. As obras do templo sofreram um grande hiato durante a Guerra Civil Espanhola.

A fachada da Paixão foi iniciada somente em 1954 e termina­da em 1976 e como o nome indica, representa a morte e a ressur­reição do Cristo. Foi toda realizada pelo maior escultor contem­porâneo espanhol, Josep Maria Subirachs e se distingue do estilo de Gaudi pelos seus elementos mais modernos e monumentais. É maravilhosa. E a fachada da Glória, a entrada mais importante da igreja, iniciada em 2002 está quase pronta e foi baseada nas orientações gerais de Gaudi, pois ele não deixou projeto para ela. É também majestosa, em três planos e representa a Morte, o Julgamento Final, o Inferno e o Céu.

Visitar a Sagrada Família, mesmo entre o desconforto de transitar num canteiro de obras, é uma experiência fascinan­te. Não se está visitando somente um templo, mas uma ideia, um ideal, uma mensagem transcendental que nos projeta para o sublime.

Os estudiosos da obra genial de Gaudi nos ensinam que ele tinha três motivações para suas criações: arquitetura, na­tureza e religião. Provou-se um arquiteto único. Da natureza, extraiu suas formas curvas, a beleza do mar. E como católico, praticou sua religião por toda vida e expressou a sua fé na sua obra maior, a Sagrada Família. O Vaticano está prestes a beatificar Antoni Gaudi.

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