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Le Petit Caco e sua ‘Mãe Preta’

“Pele encarquilhada carapinha branca
Gandôla de renda caindo na anca
Embalando o berço do filho do sinhô
Que há pouco tempo a sinhá ganhou
Era assim que Mãe Preta fazia
criava todo o branco com muita alegria
Porém lá na sanzala o seu pretinho apanhava
Mãe Preta mais uma lágrima enxugava
Mãe Preta, Mãe Preta
Enquanto a chibata batia no seu amor
Mãe Preta embalava o filho branco do sinhô.”
(Piratini e Caco Velho)

“Mãe Preta” foi composta pelo sambista Matheus Nunes, conhecido como Caco Velho. Esta música que faz uma forte crítica social e se tornou um dos grandes sucessos de Caco Velho. Segundo o jornalista Luis Nassif, a música faz referência à lenda gaúcha, que teria dado origem à cidade de Passo Fundo.

A composição “Mãe Preta”, de Caco Velho, foi inspirada, segundo o site http://www.samba-choro.com.br/artistas/cacovelho, na imagem de uma mãe preta pintada num quadro de sua casa. Caco Velho, então, mostrara a música a Piratini (líder de um dos mais requisitados regionais de Porto Alegre, onde Caco Velho tocava), que, aperfeiçoada a letra, fora concluída.

A canção original “Mãe Preta” é brasileira, sendo seus autores Piratini (António Amabile) e Caco Velho (Matheus Nunes). A letra, todavia, fora proibida pela censura em Portugal (o momento político ditatorial que vivia Portugal não recomendava textos que fizessem referência à escravatura), sendo a sua letra considerada subversiva.

Pode ser um adendo desnecessário, mas, para quem não sabe, Portugal viveu mais de 40 anos de ditadura, de 1933 a 1974, quando havia um serviço de censura prévia às publicações periódicas, emissões de rádio e de televisão, protegendo permanentemente a doutrina e ideologia do Estado Novo Português e defendendo a moral e os bons costumes. A letra foi proibida em Portugal. David Mourão-Ferreira escreveu, então, outra letra falando da tragédia de um desaparecido no mar. Eis a letra de “Barco Negro” (David Mourão-Ferreira)

“De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n’areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.[Bis]
Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu Barco Negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu’estás sempre comigo.[Bis]
No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.”

A primeira a gravar “Barco Negro” foi a portuguesa “Maria da Conceição”. No entanto, a lusitana que transformou “Barco Negro” num dos fados mais conhecidos de todos os tempos foi Amália Rodrigues, no tema do filme “Amantes do Tejo”. Apenas em 1978 que Amália Rodrigues gravou a versão original com a letra de Caco Velho.

A carreira internacional começou com excursão a Paris com sua orquestra. Na capital francesa foi apelidado “Le Petit Caco”, tendo sido contratado para gravar um LP, que se chamou “Une Soirré a La Macumba”. Artistas famosos de Hollywood, como Fred Astaire, tornaram-se fãs entusiastas de Caco Velho. A canção “Barco Negro” foi gravada por cantores de diversos países.

Salve Caco Velho, aqui no Brasil, conhecido como o “Sambista infernal” por sua ginga, sua bossa e seu samba sincopado, que serviu de referência para vários sambistas, sendo o seu maior seguidor, Germano Mathias, o catedrático do samba.

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