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Relatório narra atendimento a andarilho

A morte do andarilho Julia­no Machado, de 40 anos, causou indignação em muita gente. O Ministério Público Estadual (MPE) instaurou inquérito ci­vil e defende a abertura de um procedimento criminal por homicídio culposo – quando não há a intenção de matar – e omissão de socorro. O Conse­lho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) abriu sindicância. A Câmara de Vereadores quer ouvir o secretá­rio municipal da Saúde, Sandro Scarpelini, para que explique o caso em plenário. A própria se­cretaria acompanha o caso.

Todos querem saber quais as circunstâncias da morte do andarilho, no final da manhã de quarta-feira, 28 de fevereiro, na Unidade Básica Saúde (UBS) Wilma Delphina Oliveira G. Rott, na Vila Tibério, Zona Oeste de Ribeirão Preto. Ele teve uma parada cardiorrespiratória, cerca de 24 horas depois de ter sido le­vado ao posto por um morador do bairro, onde teve convulsões. Não havia médico no local para atendê-lo, apesar da escala de plantão informar que deveria haver um profissional no local.

Nesta sexta-feira, 2 de março, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) enviou à imprensa o rela­tório de atendimento a Macha­do e descarta omissão de socor­ro. Diz que, segundo o sistema Hygia, o primeiro atendimento, feito na UBS Vila Tibério na terça-feira (27), ocorreu às 9h04. Ele passou por acolhimento fei­to por auxiliar de enfermagem e foi verificado os sinais vitais do paciente, como pulso, pressão arterial, saturação de oxigênio e frequência cardíaca. Machado estava acompanhado por um amigo e chegou andando, recla­mando de dor de cabeça.

O médico presente na uni­dade constatou, no exame físico, que o paciente estava com crise de hipertensão arterial. Ainda nessa avaliação, segundo o rela­tório médico, foram instaladas soroterapia e medicação no pa­ciente. Quando a infusão do soro terminou, Machado passou ain­da por orientação da equipe de enfermagem, com alta médica às 11h20, ainda na terça-feira.

Segundo os profissionais da unidade, o andarilho fre­quentemente utilizava o espaço embaixo da marquise da UBS para dormir, assim como os sa­nitários e era conhecido de todos do posto e os funcionários até o auxiliavam em suas necessida­des de alimentação e/ou roupas. Também consta no relatório que o espaço embaixo da cobertura em frente a unidade é frequenta­do por outras pessoas em situa­ção de vulnerabilidade social.

No segundo atendimento, ainda no dia 27, as 18h17, o pa­ciente estava deitado embaixo da cobertura quando um munícipe percebeu que ele estava passan­do mal, ocasião em foi solicitado atendimento. Segundo a ficha de Machado, ele foi atendido pela equipe de enfermagem, que ve­rificou sinais vitais do paciente como, pressão arterial, tempera­tura, frequência cardíaca e res­piratória e glicemia capilar. Foi feito também exame físico. De acordo com o relatório, o andari­lho deu entrada na UBS da Vila Tibério e começou a passar mal na frente da unidade de saúde e em seguida aparentemente teve uma crise convulsiva.

O relatório aponta que “o paciente estava confuso, mas respondendo aos estímulos. Minutos antes do atendimento na UBS, como ele apresentava sudorese intensa, sinais vitais alterados, foi acionado o Samu 192, o que ocorreu às 18h11 com saída para o atendimento às 18h23. A ambulância che­gou ao local às 18h35, perfa­zendo um total de 12 minutos até chegar a UBS Vila Tibério e que imediatamente levou o pa­ciente a UBDS Central.”

O documento informa que o paciente deu entrada na Uni­dade Básica Distrital de Saúde (UBDS) Central às 18h54. Ele estava em pós-crise convulsiva. Imediatamente foi verificado os sinais vitais, e após a avaliação médica, foi realizada soroterapia para infusão de medicamentos. Por volta das 21 horas, o paciente sentindo-se melhor, levantou-se da maca, foi ao banheiro, retor­nou, se sentou ao lado da maca e aceitou um prato de comida. Recebeu alta médica e consta no circuito interno da UBDS Central sua saída as 22h22, com acompanhante.

No dia seguinte, 28 de feve­reiro, Machado voltou à UBS Vila Tibério com registro de entrada (ficha de atendimento ambulato­rial) às 8h47, e foi atendido pela equipe de enfermagem. Segundo o relatório, chegou com amigos, de cadeira de rodas, conversan­do, aparentemente orientado, consciente, apresentando hiper­tensão e dor de cabeça.

No entanto, só conseguiu se deitar na maca com auxílio. O registro do atendimento mostra que a equipe médica atendeu o paciente reclamando de dor de cabeça, secundária à crise hiper­tensiva. Por volta das dez horas, ainda de acordo com o relatório elaborado pelo médico que o atendeu, “o paciente apresentou crise convulsiva generalizada de curta duração, com menos de um minuto, seguida de parada cardiorrespiratória”.

Foram aplicadas as mano­bras de ressuscitação e reani­mação pela equipe da unidade e acionado a Unidade de Suporte Avançado (USA), que perma­neceu no local com as medidas de suporte avançado por mais 50 minutos, na UBS da Vila Ti­bério. O óbito foi constatado às 10h50. O corpo foi transporta­do para a UBDS Central para encaminhamento ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO).

“Em resumo, o paciente ob­teve atendimento médico e de enfermagem por três vezes nas 24 horas (nos dias 27 e 28 de fevereiro), contudo na última vez que procurou atendimento chegou em situação mais críti­ca e apesar de toda a assistência prestada, o paciente evoluiu para óbito. A Secretaria Municipal da Saúde está trabalhando na análise de toda documentação referente ao caso para medidas administrativas cabíveis”, diz a pasta em nota.

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