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O que é ser republicano?

Escrevi outro dia que não somos republicanos. Alguns estranhamentos. Quando pensava em responder e ratificar a minha impressão, constatável empiricamente em todos os ambientes que frequentei já nesta longa existência, encontrei a resposta num livro do historiador José Murilo de Carvalho. O nome, instigante, é “O Pecado Original da República”. Como subtítulo, elegeu: “Debates, personagens e eventos para compreender o Brasil”.

Pois lá na página 48, sob o título “Ser Republicano”, ele propõe um verdadeiro poema patriótico. Cita, inicialmente, o jesuíta Simão de Vasconcelos que, em 1663, já proclamava: “Nenhum homem nesta terra é republicano, nem vela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular”.

Soa familiar e atual?

Pois para José Murilo de Carvalho, ser republicano é crer na igualdade civil de todos, sem distinção de qualquer natureza. É rejeitar hierarquias e privilégios. É não perguntar “Você sabe com quem está falando”? É responder: “Quem você pensa que é”? É crer na lei como garantia da liberdade. É saber que o Estado não é uma extensão da família, um clube de amigos, um grupo de companheiros. É repudiar práticas patrimonialistas, clientelistas, familistas, paternalistas, nepotistas e corporativistas. É acreditar que o Estado não tem dinheiro, que ele apenas administra dinheiro pago pelo contribuinte.

É saber que quem rouba dinheiro público é ladrão do dinheiro de todos. É considerar que a administração eficiente e transparente do dinheiro público é dever do Estado e direito seu. É não praticar nem solicitar jeitinhos, empenhos, pistolões, favores e proteções.

Ser republicano, já dizia há 55 anos o jesuíta Simão de Vasconcelos, “é não ser brasileiro”. Refletir sobre esse texto leva à constatação inevitável de que a única alternativa para o Brasil é uma educação consistente. Levada a sério por todos, não apenas pelo governo, que não é o único responsável.

A ignorância – e aqui falo de algo muito diferente da falta de letramento ou escolarização – é, como dizia Rui Barbosa, “a mãe da servilidade e da miséria, a grande ameaça à existência constitucional e livre da Nação, o formidável inimigo intestino que se asila nas entranhas da pátria”.

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