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OPERAÇÃO TÊMIS – Delator acusa Isaac Antunes

O vereador Isaac Antunes (PR) voltou a ser alvo de de­núncia da Operação Têmis, de­flagrada em 11 de janeiro pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organiza­do (Gaeco) e pela Polícia Civil para investigar um suposto esquema de fraudes em pro­cessos judiciais avaliado em R$ 100 milhões. Desta vez, a acusação foi feita ao promotor Aroldo Costa Filho em delação premiada pelo proprietário da associação “Eu vou trabalhar” e presidente da associação “Pode mais, limpe seu nome”, Ruy Rodrigues Neto.

O estagiário de direito e ex-funcionário de um dos es­critórios de advocacia suspei­tos, Luiz Felipe Naves Lima, também fechou acordo com o Ministério Público Estadual (MPE) e citou o parlamentar em depoimento. Na declaração prestada na sexta-feira (23), Rodrigues Neto confirmou ao promotor que o projeto “Muda Ribeirão”, lançado por Isaac Antunes antes da campanha eleitoral de 2016, captou dados de ao menos 1,2 mil morado­res de Ribeirão Preto que pos­teriormente foram usados em ações judiciais não autorizadas.

Segundo o Ministério Pú­blico, as informações eram usadas por advogados em processos de cobranças de perdas inflacionárias dos pla­nos Verão, Collor e Bresser. As vítimas eram, na verdade, homônimos dos verdadeiros correntistas. Por enquanto, Antunes não é investigado pelas fraudes, mas por crime eleitoral – é alvo de ação no Ministério Público e do Con­selho de Ética da Câmara.

Se for comprovada a prá­tica de crime, pode perder o mandato que conquistou com 3.111 votos em 2016 e ainda ficar inelegível por oito anos. Ele também é investigado pela Polícia Federal (PF). O juiz da 4ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, Lúcio Alberto Enéas Ferreira da Silva, responsável pela homologação das dela­ções premiadas e pelos pro­cessos da Operação Têmis, suspendeu o trâmite de 53,3 mil ações, sem contar outros 30 mil recursos no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), além de processos ainda não contabilizados em comarcas como Belo Horizonte (MG).

Ao todo, oito pessoas fo­ram presas por envolvimento no esquema, incluindo quatro advogados do escritório “Lo­doli, Caropreso, Bazo & Vidal Sociedade”. Seis dos acusados permanecem presos – incluindo os quatro sócios da empresa. Ro­drigues Neto e Naves Lima fize­ram acordo de delação e foram soltos. Antunes teria se benefi­ciado do projeto que prometia “limpar o nome” de inadim­plentes para alavancar votos na corrida eleitoral de 2016.

O vereador sempre negou participação na fraude, ape­sar de já ter admitido a par­ticipação de Rodrigues Neto em três encontros do projeto “Muda Ribeirão”. Antunes in­formou, em nota, que não vai mais prestar declarações sobre o caso, nem conceder entrevis­tas. Ele também já admitiu ter encontrado o advogado Klaus Philipp Lodoli. O parlamentar mencionou ter conversado o sócio do escritório investigado em um churrasco. Os dois, se­gundo o republicano, falaram sobre amenidades.

Na delação, Rodrigues Neto diz que Isaac Antunes usou as informações que foram re­passadas aos advogados, na campanha eleitoral. Ele teria, inclusive, enviado material de marketing para as pesso­as cooptadas na periferia. Ao ser perguntado sobre quantas pessoas teriam sido levadas ao escritório pelo vereador, o presidente da associação diz: “Acredito que umas mil, 1,2 mil cadastrados.”

O presidente da “Associa­ção Pode mais” contou que se reuniu com Antunes seis me­ses antes das eleições, a convite de Lodoli – também preso na Operação Têmis. Nesse encon­tro, ficou acertado que “Muda Ribeirão” seria usado para captar dados das vítimas do esquema. Rodrigues Neto afirmou que ele próprio buscava as planilhas com os dados pessoais das víti­mas no escritório de Antunes, no Centro de Ribeirão, e entre­gava à equipe dos advogados presos na Operação Têmis.

Já o ex-estagiário Luiz Feli­pe Naves Lima, que trabalhava com os advogados presos, disse em delação que o alvo do su­posto esquema eram pessoas simples e endividadas, que raramente liam o contrato e outros documentos, muitas vezes procurações para que ações fossem impetradas em seus nomes.

Ele também revelou que o grupo buscava pessoas com nomes comuns e simples, com vários homônimos, e a prioridade era cooptar os mais velhos. E garantiu que todos no escritório sabiam que se tratava de fraude. Ele também diz ter visto pessoal da campanha de Antunes na empresa. O vereador nega a prática de crimes.

Neto e Lima foram liberta­dos após a delação. Ainda es­tão presos os advogados Klaus Philipp Lodoli, Gustavo Caro­preso Soares de Oliveira, Re­nato Rosin Vidal e Ângelo Luiz Feijó Bazo – sócios do escritó­rio –, Ramzy Khuri da Silveira e o empresário e candidato a vereador pelo PPL, Clóvis Ân­gelo, o “Capitão Ângelo”.

Também foram indiciados por organização criminosa, es­telionato, falsidade ideológica, fraude processual e violação de sigilo bancário os advogados Thales Vilela Starling e Dou­glas Martins Kauffman. To­dos foram denunciados pelo promotor Aroldo Costa Filho ao juiz da 4ª Vara Criminal, Lúcio Alberto Enéas da Silva Ferreira, mas negam a prática de crimes e dizem que vão pro­var inocência. Além da Polícia Civil e do MPE, também são investigados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

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