No próximo domingo, 25 de fevereiro, os moradores do Ribeirão Verde, na Zona Leste de Ribeirão Preto, vão decidir se os bairros que formam o complexo terão moeda própria, o “Verdinho”. A reunião será às 9h30, na Escola Estadual Jardim Diva Tarla de Carvalho, com comerciantes e toda a comunidade. No encontro, a diretoria da Associação de Moradores vai apresentar o projeto do banco comunitário.
A ideia é do presidente da Associação de Moradores do Ribeirão Verde, Luís Antônio França. A população dos bairros do complexo é estimada em cerca de 60 mil pessoas, 8,8% do total de habitantes de Ribeirão Preto, de 682,3 mil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O “Verdinho”, se aprovado, terá valor apenas na economia local.
O objetivo é fortalecer o comércio e o setor de serviços, além de possibilitar novos investimentos e gerar empregos na região. Depois da apresentação de domingo, se a comunidade for favorável, a associação dará início ao processo de implantação do Banco Comunitário Ribeirão Verde.
O projeto vem sendo pensado desde 2010. França acredita que a moeda social ajudará a manter o dinheiro dos moradores dentro da comunidade. Segundo os cálculos da associação, se cada um dos 60 mil habitantes tiver renda mensal de R$ 1 mil, a injeção de recurso será de R$ 60 milhões por mês. Mas é importante ressaltar que grande parte desse contingente ainda não está no grupo da população economicamente ativa.
O projeto é inspirado em outros semelhantes já implantados em São Paulo (capital, Banco Sampaio), São Carlos (SP), Palmas (TO) e Fortaleza (CE), onde surgiu a proposta pioneira. Atualmente, são mais de 100 bancos comunitários em todo o Brasil.
As moedas sociais podem garantir que os recursos financeiros fiquem na comunidade, ajudando no fortalecimento do comércio local. Geralmente é lastreada pelo Real e, para isso, é preciso se criar um fundo ou um banco comunitário com recursos captados a partir de festas, rifas, e outros eventos, por exemplo, daí vem o dinheiro para dar valor a moeda e pagar os fornecedores externos.
Moeda verde – Para os dois mil habitantes de Santa Cruz da Esperança (SP), papelão e garrafas pet vazias não mais representam somente reciclagem, mas também uma forma rápida de geração de renda. Um projeto iniciado no ano passado tem transformado todo o material recolhido por moradores em uma “moeda verde” que permite a compra de mercadorias no comércio local.
O projeto foi idealizado por uma professora de ciências, Ana Cláudia Ferria, em parceria com a prefeitura, e recolhia, no início, 250 quilos de materiais para reciclagem por mês. Hoje, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, mais de uma tonelada é retirada das ruas e das casas da população.
Tudo que é recolhido é vendido para recicladoras da região e o dinheiro arrecadado retorna para o comércio, para o pagamento do que foi comprado pela população com a “moeda verde”. Antes, esse material ia para o aterro sanitário da cidade.
A professora pediu para os alunos da escola onde trabalha juntarem materiais recicláveis e levarem até uma praça. No dia agendado, foram recolhidas muitas garrafas pets, latinhas de alumínio e papelão. Após a pesagem das sacolas, quem levou o lixo ganhou uma nota de plástico, muito parecida com a antiga nota de R$ 1, usada como “dinheiro de verdade” no comércio local.
Cada dois quilos de papelão, por exemplo, valem duas moedas, o mesmo obtido com um quilo de latas de alumínio. A partir desse dia, o projeto “moeda verde” virou febre em Santa Cruz da Esperança. Os alunos passaram a incentivar uns aos outros, inclusive em casa.
Moeda própria – Em 1874, o fazendeiro João Franco – plantador de café, criador de gado e comerciante de escravos – comprou terras em Ribeirão Preto para formar a Fazenda Monte Alegre, onde hoje está o campus da Universidade de São Paulo (USP) – foi o primeiro local da cidade a receber luz elétrica. Em 1890, ele vendeu a propriedade para o imigrante alemão Francisco Schimidt. No Brasil desde 1858, quando chegou aos nove anos de idade, Schimidt tornou-se conhecido como o maior produtor mundial de café.
Na década de 1920, havia em suas terras 14 milhões de pés de café que –graças ao trabalho de 14 mil colonos – produziam 700 mil sacas por ano. Uma ferrovia particular circulava pela fazenda a fim de escoar a produção. A prosperidade de Schimidt era tanta que ele chegou a ter uma moeda cunhada em alumínio, com o próprio nome, que era aceita no comércio local.