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Sócrates, Fagner e Elba Ramalho

“Cruzo” pela cidade com muitos leitores do nosso querido Jornal Tribuna Ribeirão, que costumam ler minhas crônicas e adoram quando conto histórias que vivi na companhia de Sócrates. Eles pedem para que eu escreva mais sobre o Magrão, e à medida que a memória me dá aquela iluminada eu boto no papel.

Numa das separações matrimoniais de Sócrates, ele foi morar no Edifício Atlântico Sul, que fica na rua Garibaldi, esquina com a Américo Brasiliense. Quando fui conhecer sua nova morada, ao chegar à área de serviço vi uma pilha de engradados cheios de garrafas de cerveja Antártica. Brinquei com ele: “Nossa, Magrão, quantas cevas!!!” Ele disse: “A Antártica me deu de presente tudo isso”.

Eu sabia que o Magrão gostava muito da velha Antártica daqui de Ribeirão Preto, mas depois que ela passou a ser produzida em Jaguariúna, ele mudou para a Skol, que vinha de Agudos. Dizia que gostava da cerveja fabricada aqui por causa da nossa água, a água do Aquífero Guarani.

Neste apartamento, tive o prazer de conhecer Fagner, cantor de quem sempre fui fã. Ele veio fazer um show no RibeirãoShopping, e ficou uma semana hospedado no enorme apê do Sócrates. De manhã eles jogavam tênis, à tarde o Magrão me ligava e eu ia pra lá com meu violão. A gente cantava muito, imagine meu prazer, poder conviver e cantar com Fagner. Lembro-me que era fevereiro, o calor era de matar e Fagner reclamou.

Então, perguntei: “Poxa, Fagner, você mora no Rio e em Fortaleza, são cidades tão quentes como aqui.” Fagner riu e respondeu: “Buenão, o Rio tem a brisa do mar, muito verde e venta. Em Fortaleza venta muito forte, tanto que provoca fortes ondas no mar.”

Os dois contaram tantas histórias, e eu com meu gravador da memória ligado pra não perder o tom. Sócrates falou: “Fagner, conta pro Buenão aquela do João Gilberto e da Elba Ramalho.” Fagner riu um bocado e mandou ver: “Buenão, Sócrates morava no Rio de Janeiro, jogava no Flamengo e um dia foi me visitar. Quando ele entrou no meu apê, eu estava falando pelo interfone com o papa da bossa nova João Gilberto, que morava alguns andares acima e preferia conversar daquela maneira do que descer até o meu apê.”

O cantor, segundo eles, é um mala, cheio de manias, recluso. Fagner falava com ele já há horas quando Sócrates chegou. Fagner falou alto: “Entra, Magrão”. João quis saber quem havia chegado, e Fagner disse: “É o Sócrates.” João falou: “Passe o telefone pra ele.” Fagner passou a bola pro Magrão, dizendo: “Agora é contigo, quero ver você se livrar desta marcação”. E João Gilberto, enchendo a bola de Sócrates, disse ter chorado com o mundo quando a seleção de 1982 perdeu. Sem parar de falar, mudou de assunto.

Virou aquele papo furado e nada de João desligar. Sócrates, educadamente, segurava a onda. Eis que chega no apê… Elba Ramalho! O tempo foi passando e ela quis saber com quem Sócrates falava todo esse tempo, e Fagner revelou: João Gilberto. Ela se empolgou: “Deixe-me conversar com ele, pois não o conheço ainda.”

Fagner disse: “Elba, João é complicado.” Ela insistiu, e o cantor deu um toque pro Sócrates, que sacou o lance dizendo: “João, uma moça bonita quer falar com você.” E passou pra Elba, que toda sapeca falou: “João, é a Elba.” E o mala do João, ignorando-a, disse: “Elba? que Elba?” Ela, meio sem graça, respondeu: “Elba Ramalho, a cantora, sou sua fã e queria te conhecer pessoalmente. Posso ir aí?” João perguntou: “Elba, você tem baralho?” Elba tapou o interfone e perguntou se Fagner tinha, ele disse não, mas na padaria em frente ao prédio tinha.

Ela confirmou, João Gilberto disse pra moça subir, ela comprou o tal baralho, subiu voando até o apê do cantor que abriu apenas uma fresta da porta e perguntou: “Elba, você trouxe o baralho?” Ela toda saltitante disse: “Sim”. Ele pediu pra Elba passar as cartas pela fresta, ela sem entender nada entregou, ele apanhou o baralho e bateu a porta. Por instantes. Elba ficou paralisada, depois desceu decepcionada até o apê de Fagner. Eles ficaram também incrédulos, a consolaram, depois comentaram: “Mais uma do papa da bossa nova”.
Sexta conto mais…

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