Na manhã de quinta-feira, 8 de fevereiro, em depoimento à Polícia Federal (PF), o vereador Isaac Antunes (PR) admitiu pela primeira vez que já esteve com um dos advogados presos na Operação Têmis. Apesar de negar a prática de crimes e que tenha cooptado vítimas do suposto golpe estimado em R$ 100 milhões via fraudes processuais, o republicano mencionou ter conversado com Klaus Philipp Lodoli, sócio do escritório investigado, em um churrasco. Os dois, segundo o parlamentar, falaram sobre amenidades.
Um ex-assessor de Isaac Antunes na Câmara de Ribeirão Preto e do Partido da República, o advogado Carlos Renato Lira Buosi, também revelou que o vereador conhecia todos os sócios do escritório de advocacia “Lodoli, Caropreso, Baso e Vidal”, autor de 53,3 mil ações judiciais em nome de pessoas com restrições de crédito que teriam assinado procurações sem saber do que se tratava. Buosi diz que os suspeitos estiveram várias vezes em eventos na sede do PR, na rua Paraíba, nos Campos Elíseos. Nesta quinta-feira, uma fotografia de Antunes ao lado de Lodoli circulou nas redes sociais.
Por meio de nota distribuída à imprensa por sua assessoria, Isaac Antunes informa: “Nós já falamos tudo o que tínhamos que falar, a partir deste momento vamos aguardar a Justiça”. A ligação dele com Lodoli tinha sido mencionada por Ruy Rodrigues Neto, presidente da Associação Pode Mais Limpe Seu Nome, que em depoimento disse ter atuado na campanha eleitoral do republicano a pedido do advogado. O empresário e candidato a vereador pelo PPL, Clóvis Ângelo, conhecido como “Capitão Ângelo”, também disse que o parlamentar trabalhou no escritório de advocacia investigado.
Isaac Antunes é investigado por captação ilegal de votos pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), Polícia Federal (PF) e Conselho de Ética da Câmara. Se ficar comprovado que ele cometeu crime, pode perder o mandato e os direitos políticos por oito anos. Ele nega ter prometido limpar o nome de pessoas com restrições de crédito em troca de votos. Diz ainda que não participou das fraudes.
Em depoimento de quase quatro horas na Polícia Federal, Antunes afirmou que esteve com Lodoli em duas situações distintas. A primeira delas, de acordo com ele, foi no tal churrasco, onde o conheceu por intermédio de Buosi, ex-secretário do Partido da República, não investigado na operação. No encontro, Antunes garante ter conversado rapidamente sobre “amenidades” com o suspeito. A segunda vez, segundo o parlamentar, foi durante um dos eventos promovidos pela Associação Muda Ribeirão. Na ocasião, Antunes relata que Lodoli estava com Ruy Rodrigues Neto, também investigado na Operação Têmis e responsável pelo projeto “Limpe Seu Nome”.
Rodrigues Neto, por sua vez, já havia se aproximado do movimento Muda Ribeirão, criado para promover ações sociais e culturais em periferias, também por intermédio de Buosi com a proposta de ajudar pessoas inadimplentes a recuperar crédito, afirma o vereador. Ele admitiu à PF que alguns voluntários de sua associação, incluindo pessoas que hoje atuam como seus assessores na Câmara, chegaram a ajudar Neto no preenchimento de fichas cadastrais, na obtenção de cópias de documentos e assinaturas, e na divulgação da iniciativa por meio de um carro de som, mas que ele, pessoalmente, nunca se envolveu nessas atividades.
O vereador acrescenta que, durante a realização dos eventos do Muda Ribeirão, se dedicava a outras atividades, como apitar jogos de futebol e a servir suco. E revela que Ruy Rodrigues realmente foi um integrante do Muda Ribeirão, movimento que não possui Cadastro nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e nem sede própria. No início desta semana, o vereador registrou um boletim de ocorrência alegando ter sido ameaçado por uma testemunha de acusação na Operação Têmis.
Todos os citados negam a prática de fraudes e crimes. Segundo o promotor Aroldo Costa Filho, o escritório entrava com ações judiciais contra empresas e recebia indenizações em nome das pessoas que assinaram procuradores sem saber do que se tratava. Também entrava com ações para pedir o ressarcimento de perdas dos planos econômicos das décadas de 1980 e 1990 – Bresser, Collor e Verão –, tudo em nome das vítimas. Oito pessoas estão presas e dez foram denunciadas . Todos rebatem as denúncias do Ministério Público Estadual (MPE).