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Os desafios de estudar personalidade (5)

Solicitar a uma pessoa a descrição do caráter de seu melhor amigo não pressupõe que a resposta traga informações sobre inconscientes impulsos sexuais reprimidos, tampouco que a descrição informe que o amigo dança e se move ao som de uma música ou que tal pessoa é do tipo que acredita poder ganhar uma maratona simplesmente porque quer competir. Ao contrário: a maioria das pessoas simplesmente descrevem terceiros se valendo de características e traços do tipo “amigável”, “tem iniciativa”, “carinhoso” e “confiável”, entre outros. Ou seja, valendo-se de uma abordagem do senso comum, ingênua ao criar perfis de terceiros. De fato, as pessoas comumente descrevem aos outros, e a si próprio, usando palavras que refletem atributos pessoais específicos.

Em sites de relacionamento, por exemplo, as pessoas descrevem seus atributos físicos (alto, moreno, olhos castanhos, magro etc). Entretanto, usam, também, palavras que designam atributos de personalidade, tais como, amigável, amoroso, simpático, além de atributos materiais e econômicos, do tipo, proprietário de imóveis, rico, colecionador de carro, ama livros e assim por diante. O que eles procuram na realidade? Um parceiro potencial, cujas similaridades incluem não só atributos físicos quanto de personalidade. Assim, as pessoas parecem ver tais atributos (traços, para os psicólogos) como uma dimensão da personalidade.

Muitos estudiosos da personalidade acreditam que os traços constituem um aspecto central da mesma. E que certamente são a unidade de análise mais apropriada no estudo da personalidade. Consequentemente, a teoria do traço da personalidade é considerada um grande, e importante, campo de pesquisa no domínio da psicologia social e da personalidade.

Mas, afinal, o que é mesmo um traço? De forma simples, um traço é um padrão consistente na maneira de uma pessoa se comportar, pensar ou sentir. Se você descreve alguém como afetuoso, você tem feito a suposição da consistência, com dois elementos: a) consistência entre situações e b) consistência ao longo de um período de tempo. Assim, ao dizê-lo, você não está limitando tal traço a apenas algumas circunstâncias, ou períodos, mas, sim, ao que ela é para você o tempo todo, seja com amigos, seja na família. Logo, descrever alguém com certos traços significa que este alguém muito provavelmente se comporta de tal modo, em diferentes contextos e momentos.

Estudiosos do assunto usualmente se referem a tal abordagem com a uma visão disposicional da personalidade, refletindo o fato de que as pessoas parecem pré-dispostas a atuar nessas maneiras consistentes. Ou seja, as teorias posicionais, ou dos traços, contrárias às teorias que destacam que as pessoas são primariamente influenciadas por suas experiências prévias ou ambiente, sustentam que as personalidades das pessoas permanecem estáveis no tempo e no espaço. O que isto indica? Que a teoria dos traços supõe que, a despeito das mudanças que as pessoas experienciam ao longo de suas vidas, parece haver alguma consistência e seu caráter.

Uma pessoa pode, então, mudar de várias escolas, ou fazer vários amigos, mover-se em uma cidade ou mudar de país, e casar e divorciar-se, sem deixar de serem habeis em dizer quem elas são, de fato, e se elas estão atuando de modo estranho. Assim, tal consistência é a base da personalidade de uma pessoas, constituindo os fundamentos da teoria dos traços. Considerando esses esclarecimentos, devemos, então, questionar: a) podemos identificar estes traços básicos? Em caso afirmativo, como?; b) quantos traços básicos uma pessoa tem?

Queremos destacar, então, que os traços nos permitem descrever como os indivíduos diferem um do outro, e assim classificá-los apropriadamente. Entretanto, é necessário considerar outro aspecto não menos relevante: saber quantos traços necessitamos para diferenciar indivíduos.

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