Tribuna Ribeirão
Polícia

Longo diz que temia sequestro

Guilherme Raymo Longo, que está preso na Espanha - Foto Alfredo Risk

Guilherme Raymo Longo, de 32 anos, acusado de matar o enteado Joaquim Ponte Mar­ques, de três anos, em novem­bro de 2013, em Ribeirão Preto, disse à Justiça da Espanha que temia ser sequestrado por uma organização criminosa brasilei­ra. A declaração foi feita durante a audiência que definiu por sua extradição ao Brasil, em Madri. No início da manhã de sábado, 20 de janeiro, depois de aproxi­madamente oito horas de voo, ele desembarcou no Aeroporto Inter­nacional de Guarulhos (Cumbi­ca), na Grande São Paulo, e foi levado para a Penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba, onde aguardará por julgamento.

Longo foi escoltado pelos agentes da Polícia Federal (PF) Pedro Paulo Christófolo e Vic­tor Spinelli. Durante todo o voo, escondeu as algemas com uma toalha. O promotor Marcus Tú­lio Nicolino, da acusação, des­conhece as supostas ameaças. O advogado dele, Antônio Carlos de Oliveira, também. Diz que seu cliente jamais falou sobre o caso. Às autoridades espanho­las, o técnico em informática diz que temia pela vida e gostaria de cumprir pena no país europeu.

Não é à toa. Ele ficou detido em duas penitenciárias, um em Martorell, à 40 quilômetros de Barcelona, com capacidade para 1.200 detentos, e outro em Aran­juez, perto de Madri, que com­porta 1.765 pessoas. As duas uni­dades têm academia de ginástica, uma tem TV em todas as celas, a outra tem quadra esportiva cober­ta e salas especiais para visitantes. Longo vai ficar dez dias na ala do “isolamento” em Tremembé, sem receber visitas – apenas a do advogado é permitida, a partir de quinta-feira (25) – e sem contato com os demais presos. O tempo que ficou detido na Europa será abatido de sua pena.

Ao chegar ao Brasil, ele foi “recepcionado” no aeroporto pelo pai biológico de Joaquim, Arthur Paes Marques, que acom­panha todo o processo e pede justiça. Ele defende, inclusive, a prisão da mãe do garoto, Natália Mingoni Ponte, de 33 anos. Em setembro, a juíza Isabel Cristina Alonso Bezerra dos Santos, da 2ª Vara do Júri e Execuções Crimi­nais de Ribeirão Preto, determi­nou que o casal seja levado a júri popular pela morte do garoto.

A sentença de pronúncia considera que o processo tem ele­mentos suficientes para associar os dois à morte da criança. A data do julgamento só será definida depois de esgotadas todas as possibilida­des de recurso. No entanto, o pró­prio Marcus Túlio Nicolino acre­dita que o júri popular de padrasto e mãe do menino pode ficar para 2019 porque as defesas dos réus entraram com recursos.

Os advogados da dupla não concordam com as acusações que pesam sobre seus clientes. Antônio Carlos de Oliveira, no entanto, ad­mite que a fuga complicou a situa­ção de Longo. O advogado de Na­tália Ponte, Natan Castelo Branco, diz que “a mulher não pode ser responsabilizada por um compa­nheiro violento.” Nicolino garante que há provas orais, testemunhais e periciais contra o casal.

Guilherme Longo e Natália Ponte respondem por homicídio triplamente qualificado – por motivo fútil, meio cruel e recur­so que impossibilitou a defesa da vítima. Contra o técnico em in­formática ainda existe como ele­mento agravante: a acusação por ocultação de cadáver. Contra ela, acusada por omissão – tinha conhecimento que o compa­nheiro era violento com o filho e havia voltado a usar drogas, mas não reagiu –, incide a acusação por crime contra descendente. Ela está em liberdade provisória.

Longo foi preso em 27 de abril, no centro de Barcelona, na Catalunha, pelas polícias Federal (PF) e Internacional (Interpol), em conjunto com o Cuerpo Nacional de Policia da Espanha. Era considerado foragido da Jus­tiça de São Paulo desde 28 de se­tembro. Também vai responder pelo crime de falsidade ideoló­gica, por ter entrado na Europa com o documento falsificado do primo Gustavo Triani.

O padrasto de Joaquim con­fessou à TV Record ter matado o enteado de três anos, em no­vembro de 2013, com um golpe de jiu-jitsu. No entanto, para o promotor Marcus Túlio Nico­lino, o suspeito matou o garoto com uma superdosagem de in­sulina. Depois jogou o cadáver em um córrego próximo da casa em que moravam, no Jardim Independência, na Zona Norte de Ribeirão Preto. O corpo do menino foi encontrado boiando no Rio Pardo, em Barretos, à 100 quilômetros de onde morava.

Longo foi preso pela primei­ra vez em janeiro de 2014 e dei­xou a Penitenciária de Tremem­bé em fevereiro de 2016, através de uma medida cautelar (habeas corpus) concedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP) – pelo não cumprimento das determinações judiciais impos­tas para sua soltura, teve a prisão preventiva decretada novamen­te. Desapareceu dias antes de ter a prisão decretada.

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