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Personalidade e Literatura: a questão do processo de criação (III)

Recorrendo a obras de arte para exemplificar as propriedades do que pode ser percebido pelo homem através da visão, o behaviorista Arnheim concebe que, uma vez dinâmica, e não estática, a imagem não constitui arranjos, mas, sim, interações de tensões próprias, direcionando para o raciocínio de que não é o olho que constrói a interação dos objetos em um campo visual, mas, sim, que é a dinâmica das formas que determina o modo como esse campo visual é percebido. Vem dai que, definir a obra de arte como forma expressiva, criada para nossa percepção através dos sentidos ou imaginação, permite externar o sentimento, como fez a americana Susan Langer, especialista em enfocar o papel da arte no conhecimento humano, o que é altamente enriquecedor ao horizonte dos estudos literários.

Do processo criador em literatura, especialistas admitem que estudos modernos acercar-se-iam do papel relativo desempenhado pelo consciente e inconsciente, uma vez que o literato é especialista em associação (engenho), dissociação (juízo) e recombinação (fazer um novo todo a partir de elementos experimentados separadamente) de palavras, para ele símbolos valiosos em si mesmo e pelo que representam. Neste caso, supor que a criação de personagens consiste numa fusão de tipos herdados, tipos obervados e do tipo encarnado pelo próprio autor sinaliza para o fato de somente o(s) “eu(s)” reconhecido(s) como matéria potencial para a criação literária poderão tornar-se personagens complexas.

Não obstante, a psicologia pode estudar, também, os diversos métodos de composição, correção e reescritura praticados por literatos. A utilidade disso? Descobrir-lhe brechas que permitam sondar o que ocorre em seu laboratório de produção artística que coíba inconsistências e distorções na obra de arte a qual se propõem a criar; mas, sempre atentos que, a despeito de serem práticas da criação, estas não pertencem à obra de arte; antes, a sua elaboração.

Certamente, afirmar que personagens ficcionais apresentam-se psicologicamente verdadeiras, principalmente nos casos em que o autor buscou na psicologia as figuras e relações interpessoais que utilizou na sua obra de arte, é possível. Mas tais características se sobrepõem tão constantemente que são as situações complexas em que se envolvem, e nas quais atuam, que merecem observações mais agudas que a possibilidade de encaixa-las num tipo social específico. Exemplo disso são obras construídas pela técnica do fluxo de consciência. Nestas, a reprodução fidedigna dos processos mentais apresentados é menos relevante que a possibilidade de dramatização oferecida pela técnica utilizada.

Logo, não é a verdade psicológica, independente de realçar a noção de realidade da criação, que dará valor artístico à obra de arte, mas, sim, como ela foi manipulada para realçar a coerência e a complexidade e, assim, se obter algo realmente novo.

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