Neste mês de janeiro, a inauguração de uma instituição que marcou época na Vila Tibério, um dos mais antigos e tradicionais bairros de Ribeirão Preto, completa 70 anos. Foi em 18 de janeiro de 1948 que ocorreu a solenidade de inauguração do Lar Santana, originalmente uma escola e depois um orfanato, mantidos pela Ordem das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição.
Essa instituição religiosa católica chegou em Ribeirão Peto em novembro de 1926, quando fundaram o Colégio “Sagrado Coração de Maria”. Quando a instituição decidiu vender a escola, o então bispo dom Manuel da Silveira D’Elboux (1946-1950) sugeriu uma mudança de finalidade – em vez de escola, um orfanato.
Assim surgiu em 18 de janeiro de 1.948 o Lar Santana, com a missão de acolher crianças carentes. O orfanato sobreviveu durante décadas, até que em dezembro de 2014 a Ordem das Franciscanas anunciou sua desativação. Na ocasião, a instituição religiosa citou os três principais motivos para fechamento: a missão de atender crianças carentes ficou prejudicada por estar localizada, agora, distante da periferia; as vocações ficaram escassas e a escola era tocada por apenas três freiras, já idosas; o alto custo do investimento necessário para atender a exigência de adequação do prédio, por parte do Corpo de Bombeiros, e para a reforma da estrutura para atender as normas vigentes de acessibilidade.
Um mês após a desativação, a Câmara aprovou a Lei Ordinária Municipal 13.432, de 22 de janeiro de 2015, instituindo o imóvel como patrimônio cultural, histórico e arquitetônico do município. Como consequência, o Executivo Municipal, através da lei complementar 2.791, de 31 de agosto de 2016, procedeu a permuta desse imóvel por dois terrenos da municipalidade, um na Zona Sul e outro no distrito de Bonfim Paulista.
O agora próprio público municipal localiza-se no quadrilátero das ruas Conselheiro Dantas, Aurora, Jorge Lobato e Conselheiro Saraiva, totalizando 7.863,38 metros quadrados, tendo sido avaliado em R$ 5.970.954,13. E apesar de uma enquete realizada entre moradores da Vila Tibério apontar como principal reivindicação a instalação no local de uma creche (o bairro não possui creche municipal), a prefeitura anunciou que o prédio do Lar Santana será reformado para ser a sede da Secretaria Municipal da Saúde, que hoje funciona em um prédio alugado.
Madre Maurina – O Lar Santana tem grande valor histórico por sua importância para a Vila Tibério e também por ter ocorrido lá a única prisão de uma religiosa feita pelo regime militar – em 1969 a ditadura prendeu a madre Maurina Borges da Silveira, depois torturada e vítima de assédio sexual na delegacia seccional de Polícia. Seus torturadores foram inclusive ex-comungados pela Igreja Católica. Libertada, banida do país e asilada no México, madre Maurina retornou ao Brasil e faleceu em 2011.
Madre Maurina – Madre Maurina Borges da Silveira, a freira presa acusada de subversão, torturada e banida do país durante a ditadura militar, morreu em março de 2011, em Araraquara, onde vivia num convento de sua comunidade, a Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição. A freira tinha 84 anos e sofria do Mal de Alzheimer.
Ela era a diretora do Lar Santana no período mais crítico dos ”anos de chumbo”. Cedeu uma sala do prédio para as reuniões de um grupo de jovens estudantes. Não tinha conhecimento da luta e acabou presa acusada de acobertar militantes da Frente Armada de Libertação Nacional (FALN), que se reuniam e imprimiam material subversivo no porão do Lar Santana. A madre foi presa e torturada.
A história de Madre Maurina marcou a luta da Igreja Católica em defesa dos direitos humanos, nos ”anos de chumbo” do regime militar. ”Madre Maurina foi uma grande vítima da ditadura militar, porque não tinha nenhuma participação política e jamais integrou organização que pregava a luta armada”, disse por ocasião de seu falecimento dom Angélico Sandro Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC), que em 1969 era padre em Ribeirão Preto.