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Sem previdência não há saúde

Talvez a melhor maneira de julgar o progresso de uma sociedade é observar como ela trata os seus idosos. Depois de toda uma vida de produção econômica, passada a fase de crescimento e de aprendi­zado, e após os anos de esforço e de dedicação aos filhos, os idosos não se encaixam mais em uma visão de sociedade materialista. A função dos idosos em nossa sociedade, no entanto, não pode ser uma visão estritamente econômica – ela deve ser, antes, uma de afeto e de humanidade.

No Brasil, como sociedade, escolhemos duas principais maneiras de cuidar dos nossos idosos: saúde e previdência. Com a mudança no perfil demográfico de nossa população, porém, a forma pela qual cuidamos dos idosos também precisa mudar.

Na saúde, por exemplo, temos uma importante mudança no perfil epidemiológico da população. Uma sociedade de jovens precisa mais de prontos-socorros, urgências e emergências. Normalmente, quando o jovem precisa de atendimento, seja por uma doença infecciosa ou por uma causa externa (violência e acidentes de trânsito, por exemplo), a situação é aguda e requer atenção imediata.

O idoso, porém, normalmente é um paciente crônico. No Brasil, metade da população com mais de 65 apresenta duas ou mais doenças crônicas, como diabetes, hipertensão ou doenças degenerativas, condições que, em geral, requerem medicação e acompanhamento constante. O objetivo não é que esse paciente seja curado de suas doenças – a medicina, infelizmente, ainda não permite isso – mas que possa viver uma vida plena apesar delas.

Para isto, precisamos mudar o nosso sistema de saúde. Se temos mais idosos, precisamos cuidar adequadamente deles. A atenção à saúde precisa ser integrada em uma cadeia de cuidado que inclua uma atenção mais presente e mais humanizada no dia-a-dia deste paciente, ajudando-o com o manejo de sua condição clínica, mas que possa atendê-lo com os cuidados diferenciados de que precisa na aten­ção hospitalar. A nova assistência precisa, também, incluir a questão dos cuidados paliativos, para que se possa oferecer conforto e humanização aos pacientes nos últimos momentos de suas vidas.

Junto com a saúde, porém, precisamos cuidar da questão da previdência no nosso país. A discussão atual no Congresso Nacional é extremamente oportuna e absolutamente necessária para garantir o bem-estar dos idosos no futuro. Não é mais possível, que, como sociedade, continuemos a ter adultos aposentados em plena capacidade produtiva. Os idosos brasileiros dependem de seus talentos e suas contribuições para que o país permaneça sustentável.

Também não é razoável que haja uma assimetria entre aposentados no setor público e do setor pri­vado. O formato atual significa que os quase 1 milhão de servidores da União, menos de 3% do total de aposentados, são responsáveis por mais de 33% do déficit da previdência, no que é, sem dúvida, o maior programa de concentração de renda do país.

As mudanças de que o país precisa para cuidar adequadamente dos idosos são urgentes. Não haverá recursos – inclusive para cuidar da saúde dos mais velhos – se, como país, não endereçarmos a questão da previdência com equilíbrio e justiça. É bom lembrar que, aqueles de nós que tiverem sorte, também serão idosos um dia. Cabe a nós prepararmos o Brasil para que possa cuidar adequadamente dos idosos do futuro.

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