Os consumidores brasileiros que buscam por alimentação saudável poderão em breve encontrar alterações nas embalagens de alimentos. Desde 2014 o tema vem sendo discutido por segmentos ligados à saúde, defesa do consumidor e indústria, na Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é tido como prioritário na agência. A grande questão é como deve ser o rótulo com informações claras aos consumidores sobre a qualidade nutricional do produto.
Uma sugestão é a advertência de excesso de nutrientes e outra é o chamado ‘Semáforo Nutricional Quantitativo’ – o que na prática seria a colocação de cores de um semáforo [vermelho, amarelo e verde], que sinalizam se algum ingrediente está em excesso. O que a princípio aparenta ser uma boa ideia, tem provocado divergências entre os especialistas.
Pela proposta do Semáforo, os produtos deverão ter um rótulo frontal que indica, por porção, a quantidade de sódio, açúcares totais e gordura saturada, coloridos em verde, amarelo e vermelho.
A cor verde demonstra que os níveis do nutriente em questão são considerados baixos ou adequados para o consumo do alimento na porção quando associado a uma alimentação diária equilibrada.
A cor amarela demonstra que os níveis do nutriente merecem atenção, pois sinalizam que um consumo acima da porção recomendada pode comprometer o equilíbrio da alimentação diária.
A cor vermelha demonstra que os níveis do nutriente são considerados altos na porção diária recomendada e por isso devem ter uma atenção maior de consumo, quando associados a uma alimentação equilibrada.
O Tribuna ouviu dois especialistas na área, os nutricionistas Renato Barbim e Isabele Mastelaro que apontam dúvidas e fazem alertas quanto ao novo sistema.
Renato Barbim diz que a ideia é boa, mas a aplicação dessa proposta pela indústria tem que ser muito bem feita. O nutricionista defende que mais nutrientes, fora sódio, açúcar e gordura saturada deveriam entrar nos rótulos.
“Eu considero um pouco complicado essa implantação. As indústrias querem e se elas querem é claro que por algum interesse financeiro. O problema é que não podemos minimizar a nutrição a apenas a três componentes [açúcar, sódio e gordura saturada]. Falar o que é muito e o que é pouco é difícil, pois depende do indivíduo”, explica Barbim.
“Tem muito viés nisso. Por exemplo, se a gente pegar uma Coca zero, é zero açúcar, tem pouco sódio perto do que precisamos no dia a dia, e não tem gordura. Para ela viria tudo verde, mas é um lixo de alimento. Quando minimizamos a nutrição a três nutrientes até pode ajudar para algumas coisas, mas tem muitos viés. O público tem que ter um cuidado muito grande, não é só usar o que tem tudo verde, pode ter muitos produtos químicos que tornam esse alimento ruim”, acrescenta.
Para a também nutricionista Isabele Mastelaro o semáforo, se implantado, chegará mais para complicar do que ajudar. Segundo ela, as pessoas têm demonstrado uma grande fobia na alimentação e dificuldades nos produtos industrializados. “A pessoa vai olhar um determinado alimento, ver tudo vermelho e pensar que não pode comer nada e retira da alimentação, ao passo que se ela ver um sinalzinho verde vai pensar que é bom e acaba consumindo”, diz. “O que precisamos é de uma educação nutricional melhor. O consumidor tem que se capacitar na leitura de rótulos, com informações mais simples e claras, para depois entrar com um novo método de rótulos usando o semáforo de forma específica”, completa.
Mastelaro afirma que o consumidor tem que começar pelo básico. “Por exemplo, como distinguir um alimento integral de um que não é. Identificar a ordem dos alimentos. Saber o quanto é bom de sódio. O quanto de adoçante é aceito, se é muito processado, muito industrializado ou não. São informações básicas da boa alimentação”, finaliza.