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Personalidade e Literatura: a questão dos tipos (I)

Que proximidade a Psicologia, ocupada com especificidades como conhecer e interpretar o ser humano, e o mundo, mantém com a Literatura, ocupada com a possibilidade de a imaginação desvincular-se de regras? A Psicologia preza pela lógica, situação, esta, que se opõe, substancialmente, à Literatura, ainda que esta seja alicerçada na verossimilhança. De acordo com estudiosos do assunto, “Psicólogos preferem observações que podem ser replicadas, enquanto o escritor sério lida com analogia, metáfora, e ambiguidade talvez intencional”. Entretanto, a despeito disso, ambas apresentam em comum compreender o desenvolvimento de seus sujeitos, reais/ personagens ficcionais, respectivamente, através dos conflitos e problemas que estes apresentam seja na vida, seja no enredo. Qualidade esta que leva o conhecimento de um campo poder contribuir para o outro, fazendo com que as preocupações de ambos possam ser descritas em, pelo menos, quatro categorias: a psicologia do escritor, a psicologia do processo criativo, o estudo do comportamento e as respostas à literatura.

Na psicologia do escritor, a interpretação psicológica de biografias e autobiografias de escritores encontra-se presente auxiliando o conhecimento do autor e do ambiente em que este se encontra. Por sua vez, a psicologia do processo criativo foca tanto as personalidades do escritor e de suas personagens quanto a forma como estes funcionam, ou seja, se são corrigidos, reescritos e reelaborados de acordo com a alteração do modo de ser de seu criador. Estudos psicológicos do processo de criação de obras literárias acusam, de modo geral, as etapas que todo processo criativo desenvolve, respeitadas as variações de estilo peculiares a cada autor. Nesse contexto, o estudo do comportamento descrito busca, alicerçado na lógica psicológica, delinear o caráter e o registro de atitudes que o sujeito humano explicita, ou deixa subentendidas, ao realizá-las. De modo similar, também os leitores respondem, a seu modo, ao que leem, o que faz, das respostas à literatura, “efeitos” que determinados enredos comunicam aos leitores.

O estudo de como as pessoas pensam, agem, influenciam e se relacionam cabe ao contexto da Psicologia Social, ramo da Psicologia que, no século XX, ocupou-se em buscar dialogar com as Ciências Sociais, também tratando da experiência social adquirida pelos indivíduos que participam de diferentes movimentos sociais. No primeiro contexto, especialistas afirmam que denominações do tipo “homem-que-percebe”, “homem-que-necessita” e “homem-que-resolve-problemas” constituem, apenas, uma tripartição que atua como artifício didático para se estudar o homem, ou seja, em psicologia, segundo o autor, “existe apenas um indivíduo – que percebe e luta e pensa”, ou seja, que se notabiliza por apresentar um “padrão de percepções, motivos, emoções e comportamento adaptativo” que “não se parece ao de ninguém mais”. Neste contexto, o escritor, enquanto indivíduo, é um ser único em destaque na unicidade que conjuga o conjunto humano de indivíduos. Seu mundo é feito do que ele percebe, sente, vê, pensa e imagina como nenhuma outra pessoa pode fazer identicamente. O mundo, assim percebido, antecede sua criação linguística, fazendo-o, primeiramente, pensar com seus sentidos. Por decorrência, a percepção individual de um escritor é seu pensamento; sua invenção, uma observação acerca do percebido.

Por sua vez, enquanto tipo, o escritor tem sua personalidade levada em consideração, ou seja, tem seus traços, habilidades, crenças, atitudes, valores, motivos, formas de ajustamento e temperamento, seu aspecto externo, o modo como é percebido pelos outros, e os influencia, analisados e, muitas vezes, generalizados para “esquemas de compreensão”. Os traços estão na pessoa; os tipos, em um ponto de vista externo. Focando analisar valores humanos fundamentais, especialistas admitem como tipos o teórico, o estético, o social, o político e o religioso. Não que uma pessoa pertença totalmente a um desses tipos, mas, sim, que podemos compreender uma pessoa examinando, através dessas denominações, os seus valores. Cumpre ressaltar que, enquanto abstrações criadas para alimentar tais esquemas de compreensão, nenhuma tipologia explica o indivíduo total. Há autores que defendem o emprego de tipos ideais, bem como, os que defendem o emprego de tipos empíricos (que supõem abranger uma grande área de personalidade de muitas pessoas, extremos de um contínuo, como, por exemplo, introvertidos versus extrovertidos); tipos culturais (influenciados por sua participação em grupos, sejam típicos ou dissidentes destes, como, por exemplo, um comerciante, um fazendeiro, um barbeiro, um padre, um político, etc) e tipos propedêuticos (que introduzem conhecimentos básicos sobre um assunto, como, por exemplo, tipos constitucionais, perceptuais, cognitivos, de maturidade, de imaturidade etc). Entretanto, embora tipo, integrando um grupo social, uma personalidade é regulada por traços, ou seja, por sua personalidade atuante, que reside no interior de si, e não em sua profissão.

Assim, ao abordar a questão dos tipos, em Psicologia, estudiosos esclarecem que essa “é uma abordagem parcial da individualidade”, que busca, muitas vezes, a generalidade e a amplitude, ou seja, possibilitar a classificação de um tipo como uma pessoa “liberal, ou narcisista, ou cerebrotônica, autoritária”, entre outras, com a finalidade de encontrar “uma categorização ampla e válida dos seres humanos”. Porém, é “a partir de tipos que pesquisadores, muitas vezes, chegam a informações úteis a respeito de traços complexos”.

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