O ano de 2017 chega ao fim com uma leve sensação de melhora para o produtor rural em relação a 2016. E 2018 promete ser melhor ainda com inflação abaixo da meta, taxa de juros em queda e os reflexos, mesmo que ainda tímidos, de uma lenta retomada econômica do Brasil depois de três anos seguidos de contração do Produto Interno Bruto (PIB).
O acerto da política monetária praticada ao longo do último ano e meio ganhou força ao ser combinado com a forte safra 2016/2017, que permitiu uma intensa retração no preço dos alimentos. Esse acerto pôde então ser materializado na queda da inflação, que pela primeira vez em anos ficou abaixo da meta de 4,5%.
Um cenário que fica mais positivo com os muito bem-vindos sucessivos cortes na taxa Selic, hoje em sua menor porcentagem histórica: 7,5%. Mas é preciso que o agricultor tenha atenção porque nem todos repassaram essa queda.
Muitos fornecedores estão embutindo juros de 1% a 1,5% ao mês na venda de insumos, o que equivale a pelo menos 12% ao ano. Considerando a inflação de 3%, os juros reais serão de 9% ao ano, atrapalhando a vida do produtor rural. Por isso ele precisa estar atento para não sentir um aperto inesperado em seu caixa na próxima safra.
Existem também outros desafios a serem superados. O grande nó permanece no campo fiscal, com um expressivo déficit público do Governo Federal e um crescimento acentuado da dívida. É urgente que sejam tomadas medidas mais efetivas de ajuste fiscal, que o governo demonstre comprometimento com o dinheiro público.
Precisamos nos atentar também para a flutuação do câmbio, influenciando diretamente nas exportações e na aquisição de insumos. A entrada de capital estrangeiro prevista para 2018, com um cenário brasileiro mais propício aos investidores, não pode afetar nosso comércio exterior.
Uma disparada ou queda no preço do dólar influencia diretamente a produção e a exportação. É preciso que o governo se atente a isso e coloque a política cambial como prioridade – e em momento algum tratando-a, como havia sendo feito na administração anterior, como instrumento de estabilidade política.
O setor agro foi o principal, talvez o único, que fez a economia crescer em 2017, não pode ser penalizado. Precisa ser valorizado! O PIB da atividade agropecuária cresceu 11,5% neste ano, de acordo com as projeções da pesquisa Focus/Bacen – que indicam retração de 0,2% no setor industrial e estagnação no setor de serviços.
Se confirmada a projeção, esta será a maior taxa de crescimento registrada nas séries históricas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas há desafios para que o agro continue sendo o esteio da economia brasileira.
Temos muito trabalho pela frente, principalmente na simplificação e maior justiça em nosso sistema tributário, o alto custo do capital e as sofríveis condições de infraestrutura e logística. São fatores que inibem os investimentos internos e externos no setor.
Os avanços obtidos na agropecuária nos últimos 20 anos permitiram melhorar a Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), desenvolver a agricultura de baixo carbono e preservar nascentes, ocupando menos de 10% da superfície do País e produzindo duas ou três safras por ano em algumas culturas.
O papel de alimentar o mundo, que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) reserva ao Brasil, será possível a partir da qualidade das informações e do desenvolvimento que obtivemos. O futuro do setor e as respostas ao desafio colocado ao nosso País, no entanto, dependem de obstáculos internos a superar e de entraves burocráticos que emperram o setor.
Assim como em outras áreas, a Agropecuária poderá se beneficiar de reformas pontuais que poderão melhorar o ambiente de trabalho de nosso agricultor. Orientados pelo governador Geraldo Alckmin, no Estado de São Paulo obtivemos algumas conquistas ao simplificar processos no dia-a-dia do produtor, como o Agrofácil, e na cooperação entre os institutos de pesquisa, por exemplo.
Há ainda muito espaço a conquistar na Agricultura, como difundir e ampliar a inovação tecnológica e retomar a ousadia na área das concessões de transportes, estradas de ferro e portos. Estimular a exportação de produtos com maior valor agregado, aumentando a geração de renda e emprego e deixando de ser apenas fornecedor de commodities.
Ações objetivas fundadas em planos estratégicos e políticas públicas realistas podem ser as respostas para os bons desafios que o setor nos coloca para o curto prazo. Precisamos de um plano estratégico que nos permita alcançar estas metas, um plano estratégico para o País.
Vamos trabalhar!