Aos 13 anos Paulo César Pinheiro começou a escrever seus primeiros versos e a compor suas primeiras canções. Claro que no início era tudo meio fraquinho, mas o tempo passou, e com o exercício cotidiano e o aprendizado veloz, no ano seguinte já estava compondo coisa séria.
Levando uma vidinha de subúrbio, jogando bola de gude, rodando pião e batendo bola na rua, aos 14 anos o compositor fez uma canção que carimbou para o mundo seu passaporte e sua carteira de trabalho. João Aquino, seu primeiro parceiro, gravou numa fita cassete, a melodia ainda meio inacabada e de andamento rápido demais. Na manhã seguinte, a moçada chamando o menino para as partidas de bolinha de gude valendo grana, e ele no seu quarto, completamente tomado, rabiscando as estrofes, querendo terminar logo, para ir para o gude e defender um cascalho.
A letra foi aparecendo e a canção sendo burilada, transformando-a em valsa e definindo as notas. Era meio-dia e pouco e a música estava finalizada. Seu pai acabara de chegar do trabalho para sua hora de Almoço. Passou pelo compositor, deu a clássica balançada de cabeça em sinal de reprovação e partiu bravo para a mesa. Ele ainda não entendia o que tudo aquilo significava e era contra o menino ser compositor. Achava coisa de vagabundo, que ia atrapalhar meus estudos.
– Isso não dá camisa a ninguém.
Terminada a composição, Paulo cantou mais um pouco para decorar a canção e chispou para o jogo.
Só mais tarde o compositor precoce foi perceber a beleza do que fizera. Era já de noitinha. Correu para mostrar ao João Aquino, que se encantou. Ela foi gravada, primeiro, pelo Baden instrumentalmente, depois pela Márcia em 1968, e finalmente por Marisa Gata Mansa que a Imortalizou. Virou seu cartão de visitas, e, por extensão, de Paulo César também. É, talvez, a mais gravada das que o compositor fez, no Brasil e no exterior, a que dá mais direito autoral e a que fez o compositor se sentir realmente um criador.
Chama-se…
Viagem:
Ô, tristeza me desculpe
Estou de malas prontas
Hoje a poesia veio ao meu encontro
Já raiou o dia, vamos viajar…
Vamos indo de carona
Na garupa leve do vento macio
Que vem caminhando
Desde muito tempo
Lá do fim do mar…
Vamos visitar a estrela
Da manhã raiada
Que pensei perdida
Pela madrugada
Mas que vai escondida
Querendo brincar…
Senta nessa nuvem clara
Minha poesia, anda, se prepara
traz uma cantiga
Vamos espalhando música no ar
Olha quantas aves brancas
Minha poesia dançam nossa valsa,
Pelo céu que o dia,
Fez todo bordado de raios de sol…
Ô, poesia, me ajude
Vou colher avencas, lírios, rosas, dálias,
Pelos campos verdes, que você batiza,
De jardins do céu…
Mas pode ficar tranquila
Minha poesia, pois nós voltaremos
Numa estrela guia, num clarão de lua
Quando serenar…
Ou talvez, até quem sabe
Nós só voltaremos num cavalo baio,
No alazão da noite, cujo nome é raio
Raio de luar…
Salve Paulo César Pinheiro, talentoso e precoce poeta e compositor popular!