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Cientistas descobrem ovos de pterossauros

Cientistas brasileiros e chi­neses anunciaram no final de novembro a descoberta de 215 ovos fossilizados de pterossauros – répteis voadores pré-históricos que eram parentes dos dinossau­ros –, com cerca de 120 milhões de anos, no noroeste da China. A descoberta, de valor incalculá­vel para a ciência, permitirá que os pesquisadores estudem como esses animais viviam, como se reproduziam e – o mais impor­tante – como evoluiu seu voo. Os pterossauros foram os primeiros vertebrados a desenvolver a capa­cidade de voar.

O estudo que descreve a rara descoberta acaba de ser publicado na revista Science. Segundo os au­tores, até agora haviam sido des­cobertos apenas oito ovos de pte­rossauros, cinco na China e três na Argentina. Desta vez, porém, com uma coleção de mais de 200 ovos preservados tridimensionalmente – isto é, que não foram esmagados –, foi possível identificar 16 deles com embriões em diferentes es­tágios de desenvolvimento. De acordo com um dos autores do artigo, Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universi­dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a descoberta dos ovos com embriões dará um impulso sem precedentes no conheci­mento sobre os pterossauros.

“Pela primeira vez temos em­briões em três dimensões. Jamais se imaginou que isso seria possí­vel, porque esses ovos são extre­mamente frágeis. Eles são flexíveis e têm uma caixa externa de carbo­nato de cálcio extremamente fina e, por isso, é muito difícil que se mantenham preservados por 120 milhões de anos. Quando vi o ma­terial pela primeira vez, em 2015, mal podia acreditar”, diz Kellner.

Os ovos de pterossauros en­contrados em 2015 são da espécie Hamipterus tianshanensis, que havia sido descoberta em 2011 pela mesma equipe, liderada por Kellner e por Xiaolin Wang, da Academia Chinesa de Ciências. A nova descoberta também foi feita no mesmo local da primeira, per­to da cidade de Hami, na provín­cia chinesa de Xingjiang.

Outra autora do estudo, Taissa Rodrigues, do Labo­ratório de Paleontologia da Universidade Federal do Espí­rito Santo (Ufes), o local é um paredão rochoso, onde ossos e ovos se acumulam em diversas camadas. O trabalho é meticu­loso: é preciso escavar a rocha com um cuidado extremo para não danificar o material.

“Quando encontramos essa espécie pela primeira vez, vi­mos que os ossos estavam pre­sentes em grande quantidade – e havia cinco ovos. A equipe chinesa continuou realizando escavações até fazer essa nova descoberta vultuosa. Os novos ovos estão no mesmo estado de preservação, mas, com são mais de 200, isso aumentou a nossa chance de encontrar embriões – e foi o que aconteceu”, diz Taissa.

Segundo Taissa, quando os frágeis ovos são encontrados es­magados, os embriões não for­necem tanta informação. Mas, quando eles estão em três dimen­sões, é possível tirar inúmeras con­clusões. Uma saliência que apare­ce em um osso, por exemplo, é rapidamente identificada como o local onde ficavam os múscu­los e tendões que controlavam as asas – com isso, os cientistas conseguem reproduzir detalhes precisos da anatomia do animal e de seus movimentos e hábitos.

“É incrível ter encontrado esse bloco com tantos ovos e embriões Ovos de dinossauros são comuns, porque têm uma casca dura como os ovos de galinha. Mas os dos pterossauros são moles e, por isso, quebram facilmente e apodrecem. Além disso os ossos dos embriões são muito finos”, afirma Taissa.

“A ossificação dos embri­ões ainda é fraca e esses ossos se quebram com muita facilidade. Acreditamos que essa coleção de ovos possui mais embriões, mas decidimos não abrir todos eles, já que é possível que no futuro sejam desenvolvidas técnicas melhores para estudar o interior dos ovos sem precisar quebrá-los”, emenda Kellner. Segundo ele, só condições muito específicas do ambiente podem explicar a preservação dos frágeis ovos. As características da rocha, segundo ele, mostram que a região era submetida a fortes tor­rentes de água.

“A rocha onde os encontramos não foi o lugar original onde as fê­meas fizeram seus ninhos. Aquilo foi transportado. Nossa hipótese é que há 120 milhões de anos havia tempestades constantes de grande porte naquela região. Em algum momento, um fluxo torrencial le­vou os ovos e alguns ossos poara esse local, onde eles foram soter­rados muito rapidamente – caso contrário, os ovos não teriam sido preservados”, explica.

Como os ovos foram encon­trados juntos em tamanha quan­tidade, Kellner afirma que os pte­rossauros certamente formavam colônias para reproduzir – e pos­sivelmente também para acasalar. “Para encontrarmos esse material, foi preciso ocorrer uma tempes­tade perfeita, com muita água e enchentes, exatamente na área de reprodução dos pterossauros.”

De acordo com Kellner, a abundância do material en­contrado continuará gerando conhecimento sobre os pteros­sauros por vários anos. Mas os estudos preliminares já produziram avanços no co­nhecimento, mostrando, por exemplo, que provavelmente os pterossauros recém-nascidos exigiam ‘cuidados parentais’, como acontece com as aves.
“Conseguimos constatar em alguns dos embriões uma ossi­ficação diferenciada de ossos as­sociados às asas e aos membros posteriores. O úmero, que é o principal osso do braço envolvido com a atividade de voo, não estava ainda tão bem formado como as pernas”, explica Kellner.

Isso indicaria que, ao nascer, os pterossauros ainda não eram capazes de voar – e por isso preci­savam da ajuda dos adultos, como acontece com as aves, e diferente­mente do que ocorre com animais como crocodilos e tartarugas. “É muito provável essa seja a primeira evidência direta de uma necessi­dade biológica de cuidados paren­tais”, diz o cientista.

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