Locomotiva foi descarregada do caminhão na manhã desta sexta-feira (22), após medida cautelar expedida ontem (21) pela Justiça Federal em Ribeirão Preto
A Maria Fumaça estava embarcada desde a quarta-feira (20), conforme matéria exclusiva do Tribuna, após ter sido doada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para a prefeitura de Salto, e seria utilizada numa linha turística Salto X Itú.
A ação foi acompanhada por diretores do Convention&Visitors Bureau de Ribeirão Preto e pelo secretário municipal de Turismo, Edmilson Domingues.
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Maria-fumaça
Vereadores querem ‘tombar’ locomotiva
Dois vereadores apresentaram requerimento pedindo o tombamento da maria-fumaça de 1893 ao Conppac e outro quer instalar CEE para avaliar a situação
Duas ações da Câmara de Ribeirão Preto deverão impedir – ou ao menos retardar – a remoção da maria-fumaça que está no pátio da Estação Ferroviária Mogiana, na Zona Norte de Ribeirão Preto, para Salto (SP), na região de Sorocaba (SP). Os vereadores Isaac Antunes (PR) e Fabiano Guimarães (PR) atenderam ao pedido feito pelo presidente da Federação de Conventions & Visitors Bureaux do Estado de São Paulo e do Brasil, Márcio Santiago, e entraram com requerimento solicitando ao Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac) o tombamento da locomotiva.
A máquina está em Ribeirão Preto há mais de 40 anos. Foi adquirida pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (CMEF) em 1893 e foi fundamental para o desenvolvimento de Ribeirão Preto, que virou a atual metrópole graças à chegada dos imigrantes italianos e de outras nacionalidades que vieram trabalhar nas lavouras de café. Agora, segundo a legislação, a locomotiva não poderá deixar a cidade até que o processo seja concluído pelos conselheiros.
A votação do requerimento e a abertura do processo de tombamento só vão ocorrer em 2018, quando a Câmara voltará do recesso parlamentar. No mesmo mês o Legislativo vai votar outra proposta, de autoria do vereador Jorge Parada (PT), que cria uma Comissão Especial de Estudos (CEE) para acompanhar o caso e avaliar a situação da maria-fumaça como patrimônio histórico e cultural de Ribeirão Preto.
”A história de Ribeirão Preto está diretamente ligada a rede ferroviária. A cidade cresceu graças a chegada da Mogiana em 1883, propiciando a rápida expansão da cultura cafeeira e de toda economia local. Não podemos deixar que essa parte da história da cidade vá embora de uma forma inesperada e insensível”, alerta o petista.
O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT) cedeu a locomotiva e três vagões ao Consórcio Intermunicipal do Trem Republicano (Citrem), formado pelas prefeituras de Salto e Itu para que a maria-fumaça e os demais bens fossem utilizados para transporte de passageiros em roteiros do turismo local. A ação que impediu a transferência foi impetrada pelo procurador André Luiz Morais de Menezes em maio de 2014, amparada por uma decisão da 7ª Vara Federal de Ribeirão Preto na quarta-feira (20).
A Polícia Federal impediu que a maria-fumaça fosse levada para Salto. Santiago usou a tribuna da Câmara para agradecer os vereadores e voltou a afirmar que a cidade deixou de ganhar uma verba de R$ 4,8 milhões solicitada pelo deputado federal baleia Rossi (PMDB-SP) ao Ministério do Turismo (MTur) – o próprio parlamentar diz que conhece o projeto, mas não teve acesso á liberação do recurso. A Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), do grupo VLI, deixou de ser a proprpietária dos bens, que passou para o Dnit.
A locomotiva foi adquirida em 1893 pela Companhia Mogiana. A outra maria-fumaça, a “Amália”, está na praça Francisco Schmidt, no Centro, pichada e constantemente “frequentada” por usuários de crack. Ambas fazem parte do projeto da Federação de Conventions & Visitors Bureaux do Estado de São Paulo e do Brasil, batizado de “Trilhos da Mogiana”, que pretende revitalizar linhas, trilhos e estações, além das locomotivas, e implantar um trem turístico na cidade em um percurso de oito quilômetros.
O secretário municipal de Turismo, Edmilson Carlos Domingues, desconhece o projeto de Santiago, que tenta agendar uma reunião com o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) para apresentar oficialmente a proposta. O tucano defende a permanência da locomotiva na cidade. A prefeitura também ressalta que um projeto semelhante ao de Santiago está em análise em parceria com o Instituto Histórico do Trem. Nogueira enviou ofício ao ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella Lessa, e o diretor geral do Dnit, Valter Casimiro Silveira, para informar que discorda da cessão da locomotiva.
Cinco fotos
Foto Loc: Alfredo Risk
Câmara quer que Conppac tombe a maria-fumaça da Estação Mogiana: estrada de ferro dói fundamental para o desenvolvimento da cidade
Duas fotos (Par e Tri): Alfredo Risk e Divulgação
Jprge Parada quer instalar CEE: Fabiano Guimarães (à esq.) e Isaac Antunes (à dir.) receberam Márcio Santiago e pediram o tombamento da locomotiva
Prefeitura de Salto não explica o caso
Locomotiva e vagões seriam utilizados em ferrovia que ainda não existe
A polêmica tentativa de remoção de uma locomotiva maria-fumaça e de três vagões de passageiros de Ribeirão Preto para Salto, na quarta-feira, 20 de dezembro, não foi esclarecida pela prefeitura daquele município nesta quinta-feira (21), apesar de solicitação encaminhada pelo Tribuna à assessoria de imprensa do prefeito José Geraldo Garcia (PP). O transporte foi impedido com base em uma decisão judicial de 2014, expedida pela 7ª Vara de Justiça Federal de Ribeirão Preto, quando a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) ainda era proprietária desses bens.
Em nota, o Consórcio Intermunicipal do Trem Republicano (Citrem), formado pelas prefeituras de Salto e Itu, informou que a “remoção da locomotiva a vapor 420, da Companhia Mogiana, atendia a pedido do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a quem cabe dar destino a este tipo de patrimônio nacional. Conforme este órgão federal, há mais de 30 anos a Maria-fumaça e vagões de passageiros estão em situação de abandono, sendo alvo de vândalos e espaço para práticas ilegais”, diz a nota.
Diante desta situação”, segue a nota, “e do pleito do Citrem para colocar a locomotiva a vapor para funcionar no ‘Trem Republicano’, o Dnit entendeu por bem a transferência desses equipamentos para as cidades de Salto e Itu, observando que ambos os municípios fariam o devido uso destes bens”. Itu é considerada o “berço da República”, daí o nome “Trem Republicano”. Ele iria circular por uma ferrovia entre as duas cidades, porém o projeto nunca foi adiante e suas obras seguem paralisadas desde 2007.
Houve aporte de verbas federais e a ideia era recuperar a estação de Salto e a de Itu, ambas antigas e sem trilhos. A linha antiga foi substituída, nos anos de 1980, por outra maior e também ficou parada. A ideia do consórcio é recuperar o trilho, as duas estações e criar o trem. O percurso é de cinco quilômetros.
Os anos passaram, a empresa que venceu a licitação, com a demora dos repasses federais e estaduais desistiu da obra, que hoje se transformou em escombros. Houve nova licitação, porém a obra não vai adiante. Em 2017, quase nada foi feito. Falta trilho entre as duas cidades, concluir as duas estações e não há participação da iniciativa privada no processo.
Segundo a imprensa local, a locomotiva não teria onde ser guardada alojada.
Foto: Jornal Taperá
Obras do “Trem Republicano” entre Salto e Itu estão abandonadas: faltam trilhos e estação está depredada (detalhe), sem condições de uso