Tribuna Ribeirão
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Por uma educação real e menos nociva

Tenho escrito, em diferentes contextos, que a educação brasileira clama por uma trans­formação não exatamente de meios, mas, principalmente, de fins. Necessitamos mudar, com urgência, a maneira como as escolas tratam seus alunos, assim como, o modo como definimos sucesso educacional. Minhas críticas? Não são dirigidas contra o processo de escolhas dos dirigentes educacionais, ou aos baixos salários, ou ao absenteísmo escolar e, tampouco, contra os baixos escores nos desempenhos acadêmicos, o excesso de avaliação escolástica e a estru­tura curricular. Minhas críticas têm, sim, o intuito mais amplo de alertar a todos que me lêem que o sistema educacional brasileiro vive uma “mentira”.

Uma mentira forjada ao tentarem vender a ilusão de que cada crian­ça, independentemente de seu desempenho cognitivo, possa vir a ser qualquer coisa que ela deseje ser. Pessoas que disseminam isso deve­riam ser admoestadas pelo mal que estão causando a essas próprias crianças ao fazê-lo. Movidas pelo medo, e receio, de afirmar, em alto e bom tom, que as crianças, assim como diferem em altura, peso, saúde e gosto,entre outros, também diferem em suas habilidades para aprender diferentes coisas, ou assuntos, que a escolas ensinam, preferem acusar quem isso reconhece de pessoas ruins e elitistas. Na verdade, o que es­tão a negar é, sim, o fato de diversos indicadores atestarem que crianças são muitos diferentes no ritmo e no potencial para aprender.

O silêncio sobre as diferenças nas habilidades cognitivas, assim como sobre os escores de inteligência e os tópicos educacionais que necessitam ser revistos é impressionante. Ignorando que todos quere­mos o melhor para nossas crianças, optam por se fingirem de cegas para os robustos resulta­dos que centenas de experimentos de campo, e de laboratórios, revelam sobre o desempenho escolar de alunos, independente dos contextos escolásticos. O resultado disso? Colocar crian­ças em situação de risco, sem se incomodar com os efeitos devastadores que tal ignorância imporá sobre as vidas das mesmas. Ignorar, ou negar, tais dados, é, na verdade, o resultado a que chega um sistema educacional falho, que não permite que se converse abertamente sobre as implicações dos diversos limites educacionais.

Quando um sistema de crenças ideológicas passa a se basear em concepções politicamente corretas, eufemismos e igualitarismo bem-intencionado, toda a discussão de temas educacio­nais é obscurecida por inverdades. Em que isso desemboca? Em dados falso e irreais sobre os diferentes níveis de habilidade acadêmica, os quais levam professores a perguntarem exage­radamente àqueles que estão na base (extremidade inferior) da distribuição das habilidades cognitivas, bem como, a perguntarem coisas inadequadas àqueles que estão no meio da dis­tribuição das habilidades e, o que é catastrófico, perguntarem pouco, ou quase nada, àqueles que se situam no topo da distribuição da inteligência, os talentosos, os quais, ainda que sejam muito capazes em fazer algo, são ignorados e desestimulados, por acharem, erroneamente, que estes não precisam de nada.

Tais concepções irrealistas, portanto, ao se espalharem, atacam em muitas direções, quando o necessário é que sejam banidas do siste­ma educacional brasileiro. Neste contexto, que verdades devem ser consideradas? As seguintes: (1ª) Que as habilidades variam, ou seja, quaisquer que sejam as habilidades consideradas, as mesmas variam em tipo e em seus escores (pontuações); (2ª) Que metade das crian­ças brasileiras estão abaixo da média, independente das habilidades, dos contextos e das metas que se pretenda atingir; (3ª) Que ter um grau universitário não é um indicador de alta inteligência, nem um parâmetro de sucesso absoluto, sendo possível ter sucesso em muitas outras arenas da vida; (4ª) Que o futuro da nação depende de como educaremos os academicamente talentosos. Negligenciados, eles são os últimos a serem con­siderados e os primeiros a serem excluídos no sistema educacional brasileiro.

Supondo, sempre, que estes podem aprender sozinhos, urge, sim, que os mesmos sejam estimulados cognitiva e emocionalmente de modo regular e profissionalizado. Conhecer a verdade, e somente a verdade, é o que faz o homem livre e sábio. Somente a verdade é capaz de deixar um educador livre para abolir atitudes politicamente incorretas, cruéis para as crianças e educacionalmente improdutivas.

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