Tribuna Ribeirão
Polícia

SEVANDIJA – Gaeco suspeita de ‘agiotagem’

Os promotores do Grupo de Atuação Especial de Repres­são ao Crime Organizado (Gae­co), responsáveis pela Operação Sevandija, suspeitam que o ex­-advogado do Sindicato dos Ser­vidores Municipais de Ribeirão Preto (SSM/RP), Sandro Rovani, emprestava dinheiro a juros bem abaixo dos praticados pelo mer­cado a empresários da cidade e da região para lavar o dinheiro obtido com a fraude nos hono­rários advocatícios do acordo dos 28,35% (Plano Collor).

A suspeita é de que Rovani seria o intermediário da também ex-advogada do SSM/RP, Maria Zuely Alves Librandi, que repas­sava os cheques. Segundo a inves­tigação, eles cobrariam juros de apenas 2,5% e teriam emprestado cerca de R$ 5 milhões. O advoga­do de defesa de Rovani, Júlio Mos­sin, diz que seu cliente vai esclare­cer informações sobre os cheques na sexta-feira (24), durante a au­diência de instrução do processo pelo qual ele é acusado.

O presidente destituído do sindicato e delator da Sevandija, Wagner Rodrigues, confirmou que recebeu R$ 1,2 milhão dos desvios e que todos os recursos foram gastos em festa de casa­mento, viagens, cirurgia plástica e outros serviços e produtos Segun­do o Ministério Público Estadual (MPE), o dinheiro desviado era repassado por Maria Zuely aos demais envolvidos nas fraudes por meio de cheques entregues a Ro­vani, prática negada pela acusada –diz que emitiu cheques apenas para o sindicato. Também afirma que não pagou propina, mas que foi vítima de extorsão..

Uma concessionária de veícu­los seminovos, por exemplo, teria recebido 21 cheques que somam R$ 1,627 milhão, entre outros pa­gamentos, segundo levantamento do Gaeco. São documentos de até R$ 90 mil emitidos entre outubro de 2013 e julho de 2016 que es­tão sob investigação. Para apurar se houve lavagem de dinheiro, a o MPE solicitou aos destinatá­rios dos cheques que expliquem a origem de quantias como essas. Também pediu as declaraçõs do Imposto de Renda (IR) para con­frontar os dados.

Rodrigues também já disse que Rovani e ele receberam propi­na de R$ 13 milhões. A ex-prefeita Dárcy Vera teria embolsado R$ 7 milhões e o ex-secretário da Ad­ministração, Marco Antônio dos Santos, mais R$ 2 milhões. Afora o delator, todos os réus negam a prática de atos ilícitos e dizem que vão provar inocência. Eles respon­dem por organização criminosa e corrupção ativa e passiva.

Afora o ex-presidente do SSM/RP e o advogado André Soares Hentz, também réu nesta ação penal que tramita na 4ª Vara Cri­minal de Ribeirão Preto e que nega envolvimento com o caso, todos os demais réus estão presos – o Superior Tribunal de Justiça (TSJ) negou dois recursos a Dárcy Vera. Todos aguardam julgamen­to de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). A fraude nos honorários é o foco de uma das três ações penais resultantes da Operação Sevandija.

O relatório do Gaeco indica, ainda, que ao fraudar a ata de uma assembleia dos servidores, em 20 de março de 2012, baixando os juros da correção do valor da ação dos 28,35% de 6% para 3%, o es­quema gerou um prejuízo milio­nário aos 3,5 mil beneficiários do acordo judicial. Um parágrafo afir­mando que os trabalhadores deci­diram pela cessão dos valores de­vidos foi incluído no documento. O assunto sequer foi mencionado para discussão no documento ori­ginal, que tratou apenas do reajuste salarial do funcionalismo.

De acordo com o Gaeco, o ter­mo de aditamento previa redução dos juros de mora de 6% para 3%, e esse valor seria destinado à Maria Zuely, cerca de R$ 58 milhões. En­tretanto, o então secretário de Ad­ministração se utilizou de um jogo de planilhas e elevou o valor para R$ 69,9 milhões. Além desta ação, correm na Justiça outros dois pro­cessos resultantes da força-tarefa.

Um deles trata de fraudes em licitações do Departamento de Água e Esgoto (Daerp) e o outro aponta uma negociação de car­gos terceirizados na prefeitura em troca de apoio político na Câmara, esquema que envolveu, segundo o MPE, vereadores e secretários municipais na gestão de Dárcy Vera, além de pessoas ligadas à Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão (Coderp) e à construtora Atmosphera Cons­trruções e Empreendimentos.

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