BETÂO RONCA FERRO MUNICIPAL
Em uma cidade conhecida por “Juritiquituba”, perto de “Pindamirintiba” e longe de Ribeirão Preto, houve uma época de muita turbulência. Na oportunidade seriam trocados os sistemas de telefonia do Crossbar pelo Pentaconta. Os técnicos apontavam diferenças entre os dois e afirmavam que não eram compatíveis. Os engenheiros se revezavam nas emissoras de rádio tentando passar para a população que um era melhor do que o outro e das desvantagens do oponente. A Câmara de Vereadores não ficou imune à turbulência. Sem que nada tivesse acontecido já acusavam os edis de estarem “vendidos”, cooptados pelo “poder econômico” etc. Os debates ocorriam com tranquilidade no Legislativo. Nada havia de concreto contra este ou aquele sistema.
NERVOSINHO
Havia um vereador que era tido e havido como violento, nervoso e que sempre dizia que queria resolver as coisas à bala. Andava armado, com porte, registro, etc. Queria sempre tirar as questões “a limpo”.
COLOCARAM FOGO NO “BETÃO”
Certa feita no barbeiro, o fogoso edil estava aparando a cabeleira quando alguns gozadores começaram a afirmar que havia corrido muito dinheiro e que o vereador bravo havia sido “passado para trás”. Ele começou a avermelhar da ponta das orelhas e, quando chegava ao pescoço, era o perigo. Explodia, com certeza. E o pessoal foi dando “corda”, ele quase a explodir. Em dado momento, mesmo com a navalha no rosto, teve um rompante e se levantou meio com espuma e meio barbeado. O barbeiro foi “de circo” para não ferir o político conhecido como sendo estampido garantido. Ele desafiou aos seus gozadores e disse que iria armado ao Rio de Janeiro, onde ficava a sede da empresa de equipamentos telefônicos, para ter uma “conversinha” com o Mister X, o seu presidente.
PREPARATIVOS
Ele pegou um avião com seu próprio dinheiro e foi à ex-capital federal. Ficou abismado com a fábrica de telefones e equipamentos. O prédio era enorme. O complexo industrial maior ainda. Pegou seu revólver, colocou em sua maleta tipo “007” e rumou para a portaria. Os funcionários estranharam em pleno Rio 40 graus um cidadão de paletó e gravata, com os cabelos tingidos cuja tinta escorria pelo colarinho branco. Pensaram tratar-se de algum fiscal federal e foram logo abrindo as portas. Ele sabia que o chefe administrava do 12º andar e foi para lá. Por incrível que pareça ninguém brecou o homem. Parecia “autoridade”.
CONSEGUIU CHEGAR
Pegou o elevador e foi falar com o americano que não entendia uma palavra (ou quase) de português. A secretária perguntou em inglês quem ele era, e o nervoso respondeu: “De Ribeirão Preto. São Paulo. Brasil”. Por estas e mais aquelas levaram o vereador para um “teti-a-teti” com o presidente.
GRITOS DE HELP , ETC
Quando o vereador entrou no escritório do chefe, sacou o revólver e gritou: “Onde está o meu dinheiro. Quero o meu dinheiro”. O gringo se aproximou da janela e quase pulou daquela altura, quando citou um nome que era o encarregado da distribuição da propina. Ele parou e pensou. Mas o americano estava com um pé em cima da cadeira e uma das mãos no parapeito da janela. Entraram vários seguranças e impediram fato mais sério. Ele, esbaforido, sentou-se em uma cadeira de espaldar alto e se recostou. Pediu água com açúcar e entendeu que alguém pegou o seu dinheiro e tinha um nome. Voltou para Juritiquituba e foi procurar o “doleiro” distribuidor. Este, avisado, fugiu para bem longe e não retornou para o local onde acontecia a troca de sistemas de telefonia. O vereador precisou ir ao médico pois o seu coração começou a apresentar defeito. Foi a história do “Betão Ronca Ferro Municipal”. Ficou sem o dinheiro e quase sem a vida.