O Teatro GT traz para Ribeirão Preto nesta quarta-feira, 15 de novembro, feriado da Proclamação da República, um dos grandes clássicos de Nelson Rodrigues. “Boca de Ouro” chega ao Theatro Pedro II com grande elenco: Malvino Salvador, Mel Lisboa, Claudio Fontana, Lavínia Pannunzio, Chico Carvalho, Cacá Toledo e Guilherme Bueno. A direção é do consagrado Gabriel Villela.
A sessão em Ribeirão Preto será às 19 horas e os ingressos custam R$ 100 (plateia e frisa), R$ 50 (balcão nobre e balcão simples) e R$ 40 (galeria). A meia-entrada para estudantes e professores de escolas públicas e particulares (mediante apresentação de documento como carteirinha da instituição, boleto de mensalidade ou holerite), aposentados (com documento específico) e idosos acima de 60 anos (com cédula de identidade, o RG) é vendida a R$ 50, R$ 20 e R$ 40, respectivamente. Os sócios do Clube GT têm 50% de desconto mediante cartão.
Estão à venda no guichê do Theatro Pedro II, na rua Álvares Cabral nº 370, no Quarteirão Paulista, no Centro Histórico de Ribeirão Preto. Tem capacidade para receber 1.588 pessoas, mas parte foi interditada no ano passado pelo Corpo de Bombeiros por causa da altura do parapeito – hoje aceita até 1.300 espectadores. O telefone para mais informações é (16) 3977-8111. O espetáculo não é recomendado para menores de 14 anos devido ao horário.
“Boca de Ouro” é um lendário bicheiro carioca, figura temida e megalomaníaca – também conhecido como o “Drácula de Madureira” – que tem esse apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura dourada. Quando é assassinado, seu passado é vasculhado por um repórter. Sua fonte é dona Guigui, a volúvel ex-amante do contraventor, uma mulher que, ao longo da peça, revela diferentes versões do bicheiro.
Malvino Salvador é Boca de Ouro, Mel Lisboa e Claudio Fontana fazem o casal Celeste e Leleco, e Lavínia Pannunzio vive a transtornada Guigui, ao lado de Leonardo Ventura, que faz seu fiel e apaixonado marido, Agenor. Chico Carvalho é Caveirinha, o repórter rodriguiano, que carrega em si o olhar afiado e crítico do dramaturgo-jornalista, que durante anos trabalhou em Redações e conheceu ele próprio os vícios e contradições da imprensa. Chico também interpreta a grã-fina Maria Luiza. Cacá Toledo e Guilherme Bueno completam o elenco.
Jonatan Harold assume o piano desta gafieira carioca oferecendo a ambiência musical para Mariana Elisabetsky interpretar as canções imortalizadas por Dalva de Oliveira (1917-1972). Como toda a ação proposta por Nelson Rodrigues parte da mente contraditória de Dona Guigui, as diferentes narrativas da personagem são exploradas pelo encenador de forma muito diversa.
A cada versão de Guigui, a arena de Villela circula, ressaltando o espaço arquetípico convergente, assim como o salão circular de uma gafieira, ou um ciclo de vida que se encerra. Dentro das iconografias do subúrbio carioca, Gabriel se utiliza da simbologia do Candomblé e das mascaradas astecas no espetáculo.
A casa de Celeste e Leleco traz muitas representações de Orixás sincretizados. A figura de Iansã, (Guilherme Bueno) aparece toda vez que uma cena de morte acontece. Iansã faz a contrarregragem das mortes da estória. O Brasil cabe todo nesta arena: a política, as narrativas contraditórias, a libido, a festa da gafieira, o jogo do bicho, a fé e a música.
Retratos de uma época que nos mostram que o Brasil pouco mudou, e que nosso dramaturgo nascido em Pernambuco em 1912 e radicado no Rio de Janeiro, nunca foi tão atual. Além da direção, Gabriel Villela assina os figurinos e a cenografia. A iluminação é de Wagner Freire, a direção musical e preparação vocal são assinadas por Babaya e a espacialização e antropologia da voz por Francesca Della Monica. Os diretores assistentes Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo completam a equipe criativa.
As diferentes narrativas para um mesmo fato, impulsionadas pelos amplos aspectos psicológicos dos personagens, cerne da dramaturgia de “Boca de Ouro”, já foi anteriormente explorada em “Rashomon”, de Akira Kurosawa, filme que descreve um estupro e assassinato por meio dos relatos amplamente divergentes de quatro testemunhas.
Também inspirou “Assim é se lhe parece”, de Pirandello, na qual os depoimentos conflitantes da sogra e do genro sobre suas situações familiares geram curiosidade doentia nos moradores da cidade no interior da Sicília. Esta é a terceira montagem de Nelson Rodrigues feita por Gabriel Villela. Em 1994 ele montou “A Falecida”, com Maria Padilha no papel título, depois foi a vez de “Vestido de Noiva”, em 2009, protagonizado por Leandra leal, Marcello Antony e Vera Zimmerman.