Condenado por um “tribunal do crime”, Uandson Ramalho Bonfim, de 22 anos, foi executado com quatro tiros disparados por uma pistola 380, no início da tarde de domingo, 12 de novembro, dentro de um bar na avenida Monteiro Lobato, Vila Virginia, Zona Sudoeste de Ribeirão Preto.
A suposta sentença teria sido declarada por ele não ter comparecido ao intitulado “debate”, denominação do que antecede a “execução”, na regra dos integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa que atua dentro e fora do sistema penitenciário do Brasil e outros países da América do Sul.
Familiares da vítima relataram que o motivo do assassinato teria sido o furto de uma corrente de ouro de um dos líderes da facção na cidade. Bonfim devolvera o objeto, e mesmo assim foi “convocado” para um “debate” na noite de sábado (11), mas não compareceu. Ele temia ser morto no local. Na mesma noite, ainda segundo familiares, o celular da vítima foi acionado várias vezes por integrantes do “tribunal do crime” que ameaçaram-no caso não fosse até o encontro marcado.
No dia seguinte, quando jogava sinuca com frequentadores do bar na avenida Monteiro Lobato, foi surpreendido por um suspeito que adentrou o estabelecimento usando capacete, e arma em punho fez os disparos contra a cabeça do jovem e fugiu na garupa de uma motocicleta que estava estacionada na calçada e pilotada por um comparsa.
Testemunhas contaram aos policiais militares que, embora o local estivesse cheio, a precisão com que o atirador acertou a vítima não deixa dúvidas que tratava-se de execução. A perícia da Polícia Científica do Instituto de Criminalística recolheu cinco cartuchos de arma semiautomática 380 na cena do crime e requereu o arquivo de imagens de uma câmera de segurança, para investigar a autoria do homicídio, sob responsabilidade da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Ribeirão Preto.
O corpo de Uandson Ramalho Bonfim foi trasladado para o Instituto Médico Legal (IML) onde a necropsia foi realizada. Ele era natural de Paulo Afonso, na Bahia. Até o fechamento desta edição, nenhum suspeito do crime havia sido preso. No dia 18, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPE) em Ribeirão Preto prendeu sete pessoas na Operação Antígona, deflagrada contra integrantes do PCC, suspeitos de participar de “tribunais do crime”.
A investigação apurou que ao menos cinco pessoas foram julgadas e executadas com requintes de crueldade pelos integrantes da facção, a partir de junho deste ano. Uma das vítimas, de uma facção rival, foi morta a golpes de podão – facão de cortar cana Alguns corpos foram enterrados após a execução e ainda não foram localizados. Em setembro, duas vítimas foram resgatadas quando eram julgadas em uma favela do Jardim Anhanguera, na Zona Leste.