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O ‘Corvão’, bamba da Pauliceia

Outra grande contribuição do sambista foi o lançamento pela Eldorado do disco “O Canto dos Escravos”, gravado com Clementina de Jesus e Tia Doca, que foi muito elogiado pelos músicos e pesquisadores, além de ter entrado para a história como uma grande contribuição para a cultura afro-brasileira.

Geraldo foi o responsável pela união das escolas de samba de São Paulo, o que proporcionou o crescimento do carnaval paulistano. Participou primeiramente do cordão Paulistano da Glória, fundado por sua mãe, e peregrinou por várias agremiações carnavalescas da cidade.

Foi integrante da Colorado do Brás, da Unidos da Peruche, da Paulistano da Glória (refundada como escola), da Camisa Verde e Branco e da Vai-Vai. Ele dizia não torcer por nenhuma escola, pois o que importava era o crescimento do carnaval paulistano, com a participação de todas as escolas de samba.

No ano de 1972, em pleno regime de ditadura militar, Geraldo foi preso ao compor para a Unidos do Peruche o samba-enredo “Heróis da Independência”, um samba lindo e de muita coragem, pois ele fazia uma crítica à situação política do país, dizendo assim: “sai do teu caminho, meu Brasil, alerta mocidade, para manter acesa a chama da nossa liberdade”.

Desde pequeno Geraldo escutava da sua avó materna as histórias das senzalas, da vida dos escravos, o que marcou profundamente a sua trajetória, o influenciou nas suas composições e o ensinou a prezar pela memória dos afrodescendentes no Brasil. Outra grande influência na sua vida artística foi o samba de Pirapora. Todo mês de agosto, Geraldo e Zeca da Casa Verde costumavam ir com suas mães, que eram amigas inseparáveis, às confraternizações de batuqueiros de Pirapora.

Dentre as suas composições mais famosas, podemos destacar os sambas “Tradição” e “Silêncio no Bixiga”. O primeiro é um samba de quadra, que foi apresentado pelo sambista na escola de samba Vai-Vai e se tornou um clássico da música paulista com os seguintes versos: “quem nunca viu o samba amanhecer, vai no Bixiga pra ver, vai no Bixiga pra ver. O samba não levanta mais poeira, asfalto hoje cobriu o nosso chão, lembrança eu tenho da Saracura, saudade eu tenho do nosso Cordão. Bixiga hoje é só arranha-céu, e já não se vê mais a luz da lua, mas o Vai-Vai está firme no pedaço, é tradição e o samba continua!”

O segundo samba foi uma homenagem ao diretor de bateria da Vai-Vai, “Pato N’água”, considerado um dos melhores do carnaval paulista, que foi assassinado, provavelmente por algum marido traído, pois o ritmista tinha muitas amantes casadas, e com certeza despertou a fúria de algum deles, que deu cabo de sua vida. Geraldo fez um samba emocionante em homenagem ao Pato N’água, que dizia assim: “silêncio, o sambista está dormindo, ele foi mas foi sorrindo, a notícia chegou quando anoiteceu. Escolas, eu peço um silêncio de um minuto, o Bixiga está de luto, o apito de Pato N’água emudeceu”.

Salve Geraldo Filme, o bamba da Pauliceia!

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