Lincoln Fernandes (PDT) protocolou nesta sexta-feira, 20 de outubro, na Câmara de Vereadores, requerimento para instalar uma Comissão Especial de Estudos (CEE) que vai “analisar e avaliar a possível privatização do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp)”. O parlamentar argumenta que o recente áudio que provocou a queda do diretor técnico da autarquia, Waldo Villani Junior, sinaliza para a possibilidade de privatização da autarquia – o governo Duarte Nogueira Júnior (PSDB) já reiterou várias vezes que essa possibilidade não existe. Na campanha eleitoral, inclusive, o próprio tucano disse que o problema do Daerp era de gestão.
“O ex-diretor fala em ‘matar’ o Daerp, e está claro que esse ‘matar’ significa ‘privatizar’”, alega o pedetista. O requerimento protocolado nesta sexta-feira deverá ser votado na sessão da próxima terça-feira (24). Se for aprovado, ele será transformado em projeto de resolução da Mesa Diretora e voltará para a apreciação do plenário. Na gravação apresentada pelo próprio Fernandes em sessão extraordinária realizada na tarde de quinta-feira (19), Villani Júnior chama o Daerp de “paciente desgraçado” e diz que tem ordens do prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) para “matar, acabar, encerrar” a autarquia – a diretoria pediu desculpas á população pelas palavras do executivo, que pediu exoneração do cargo logo após a divulgação da conversa entre ele e outros servidores da repartição que atuaram juntos em São José do Rio Preto (SP).
O ex-diretor acusa Lincoln Fernandes de ter editado o aúdio, mas o vereador nega – “A exoneração dele é uma prova de que o áudio é verdadeiro”, diz. A gravação atribuída a Villani Júnior menciona dificuldades enfrentadas pelo Daerp e uma postura fatalista do prefeito Duarte Nogueira em relação ao futuro da repartição. “Vocês não entenderam? O Daerp está para morrer. O que nós estamos fazendo aqui, assoprando, fazendo respiração boca a boca, massagem cardíaca, para tentar fazer o Daerp levantar, ressuscitar. A ordem do Nogueira foi fazer o quê? Se não tiver jeito, mata, acaba, encerra. Faz quatro meses que estou aqui, vai fazer quatro meses que estou aqui, cara, estou com o braço desse ‘tamanho’ de fazer massagem cardíaca nesse paciente desgraçado.”
Poucas horas após a sessão extraordinária, o departamento divulgou nota informando que o diretor técnico, por causa da repercussão de seus comentários no áudio, pediu demissão “em caráter irrevogável”. “O Daerp lamenta pelo conteúdo da gravação divulgada nesta quinta-feira (19), em sessão extraordinária da Câmara Municipal de Ribeirão Preto. O diretor Waldo Villani Júnior tem um longo currículo de bons serviços prestados à administração pública e contribuiu para o processo em curso de recuperação do Daerp”, diz a nota.
“Suas palavras, na gravação, não refletem a orientação dada pelo prefeito para a autarquia. O que o prefeito sempre pediu foi o máximo de rigor na administração para que o Daerp possa, em breve, sair da situação difícil em que se encontra. De qualquer forma, o Daerp se desculpa pelo ocorrido. O diretor Waldo Villani pediu a sua exoneração, em caráter irrevogável, o que foi aceito pelo superintendente, Afonso Reis Duarte”, informa o comunicado.
A gravação foi divulgada em um momento delicado para o Daerp, que corre contra o tempo para cumprir uma decisão judicial. A autarquia tem prazo de 20 dias concedido pela Justiça para regularizar todos os casos de falta d’água no município, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. Laudos do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) apontam problemas de captação e reservação de água em Ribeirão, já que o volume captado do Aquífero Guarani é seis vezes maior do que o necessário. Waldo Villani Júnior emitiu uma carta à imprensa em que se diz vítima de armação política. Ele esteve na Cãmara para falar sobre um projeto do Daerp que prevê mudanças no sistema de distribuição de água e que demanda investimento de R$ 150 milhões em três anos.