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Lumen Fidei: Dom Anselmo Codinhoto e a luz que vem da fé

LUMEN FIDEI SOBRE A FE, carta encíclica do Sumo Pontífice, é a primeira carta encíclica (circular que o Papa envia a todos os bispos do mundo católico, sobre um determinado assunto que quer ensinar) da história do Catolicismo, escrita por dois pontífices: Bento XVI, que a iniciou, e Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, que a finalizou. Do que trata? De um aspecto essencial da fé, a saber, ser luz, esperança e caridade, enquanto caminho, edificação e preparação de um lugar onde os homens possam habitar uns com os outros.

De acordo com ela, “Nos tempos modernos, pensou-se que tal luz não servia para os novos tempos, para o homem orgulhoso da sua razão. Neste caso, a fé seria uma espécie de ilusão de luz, que impede o nosso caminho de homens livres rumo ao amanhã. Por este caminho, a fé acabou por ser associada com a escuridão, como um salto no vazio, que fazemos por falta de luz e impelidos por um sentimento talvez capaz de aquecer o coração e consolar pessoalmente, mas impossível de ser proposta aos outros como luz objetiva e comum para iluminar o caminho. E, assim, o homem renunciou à busca de uma luz grande, de uma verdade grande, para se contentar com pequenas luzes que iluminam por breves instantes, mas são incapazes de desvendar a estrada”.

A que vem essa abordagem? Vem ao propósito de ilustrar, com ela, o trabalho de um religioso que, em seu orar e celebrar, busca, de modo similar, fomentar, fortalecer e recuperar, em seus fiéis, o caráter de luz que é próprio da fé. De quem falo? Falo de Dom Anselmo Sidnei Codinhoto, responsável pelo Santuário das Sete Capelas, que, em suas celebrações, ensina que a fé nasce no encontro com o Deus vivo, com o Deus que, dia após dia, nos chama, incansavelmente, para redescobrirmos Seu amor através da prática do bem. Com o Deus que “nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida”.

Dom Anselmo é um homem de fé. Fé, esta, cuja luz fulgurante transborda por seus olhos, por sua tranquilidade, por sua capacidade de ouvir e ponderar sobre tudo, tornando-o capaz, tal qual a luz de Francisco, de penetrar nas nossas tristezas, temores, inquietações e nos salvar da desesperança. Dom Anselmo também é um líder. Prior do Mosteiro São Bento, em Ribeirão Preto, coube a ele educar, orientar e participar seu modo digno de ver o mundo junto aos monges e padres que, com ele, comungam a Regra de São Bento. Nesta empreitada, buscando transformá-los pelo amor ao próximo, doa-lhes olhos novos para que, com humildade, saibam reler o mundo todos os dias. Doa-lhes, também, tal qual irmão mais velho, e mais sábio, a grande promessa de plenitude pela fé, com a qual ele descortina a visão do futuro. A mesma fé que, recebida de Deus, aparece como luz orientando-nos os passos, no tempo, e como comunhão, orientando-nos os momentos de ultrapassarmos nosso eu.

Observando-o trabalhar pelo bem-estar do outro, lembramo-nos da passagem bíblica, « Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim » (Gl 2, 20). Neste contexto, as palavras do Papa Francisco, ainda em LUMEN FIDEI, são precisas: “Daqui resulta claramente que a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro. O crente não é arrogante; pelo contrário, a verdade torna-o humilde, sabendo que, mais do que possuirmo-la é ela que nos abraça e possui. Longe de nos endurecer, a segurança da fé põe-nos a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos”. É essa humildade, convivência, respeito e diálogo que reluzem nos atos de Dom Anselmo. Líder religioso, sabe acolher os que o procuram. Amigo, sabe sair de si e se colocar no lugar do outro para entender-lhe o sofrimento e o que lhe é necessário fazer.

Deus, em Sua divina bondade e misericórdia, aproxima os homens de bem. Aproximou Dom Fortunato, falecido prior do Mosteiro, de Dom Anselmo, deixando, nos ecos do tempo, o dizer daquele sobre este, “Ansermo è un uomo di buona e di luce”. Aproximou Dom Anselmo de nós, de quem ainda ouvimos as seguintes palavras, “Respeito os que amam e cuidam dos livros, como Dom Fortunato os amou e cuidou”. Retomando a citação com que iniciamos este texto, saudamos Dom Anselmo por sua crença na imensa luz de Deus, e por trazer sobre nós as pequenas luzes que a compõem. Porque entendemos que são pessoas assim que educam, que orientam e que desvendam nossa estrada. Na parábola do semeador, São Lucas refere estas palavras com que o Senhor explica o significado da « terra boa »: « São aqueles que, tendo ouvido a palavra com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança » (Lc 8, 15). No contexto desta abordagem, temos Dom Anselmo como a terra boa sobre a qual disse Santa Isabel: « Feliz de ti que acreditaste » (Lc 1, 45). Somos felizes, Dom Anselmo, por termos o senhor como o caminho, a edificação e a preparação de um lugar onde os homens possam habitar, em paz, uns com os outros.

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