Durante minha permanência no Poder Judiciário de São Paulo, impregnei-me da certeza de que pacificar, harmonizar as relações, criar condições de convívio fraterno é o maior desafio de uma sociedade prenhe de antagonismos.
Uma das consequências da beligerância é o excessivo número de demandas judiciais, a sugerir ao restante do planeta que o Brasil é um país em que ninguém se entende. Animosidade, conflito, controvérsia, desentendimento, ira e vingança preponderam, se os números dos processos em curso pelas várias instâncias do sistema Justiça forem friamente analisados.
Só que a edificação de uma sociedade justa e solidária tem de começar cedo. Em casa e na escola. É aqui o habitat natural de milhões de crianças que precisam ser conscientizadas de que brigar só leva a mais problemas e a infelicidade reforçada.
Por isso é que o Projeto “Mediação Escolar e Comunitária”, instituído na Rede Pública Estadual de Ensino de São Paulo é um chamamento a que todos os seres pensantes se congreguem para a implementação de uma cultura de paz dentro das escolas. Pretende-se propiciar diálogo com todos os segmentos integrantes do ambiente escolar e da comunidade em que a escola se insere, com o objetivo de irradiar consensos coletivos de convívio social que promovam o desenvolvimento humano e a aprendizagem emocional dos envolvidos.
Para atingir e sensibilizar ainda mais as equipes gestoras e docentes, além de todos os funcionários e partícipes do processo educacional, serão desenvolvidas ações formativas na Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores de São Paulo, a EFAP. Também será necessária a colaboração do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, OAB, IASP, AASP e demais entidades que puderem agregar o valor da pacificação, rumo à edificação de uma geração adulta que saiba dialogar e ser tolerante para com o pluralismo e a diversidade.
A atuação será proativa, preventiva e mediadora, capaz de desenvolver diante de conflitos no cotidiano escolar, práticas colaborativas e restaurativas da cultura de paz. Também são chamados os Grêmios Estudantis, de excelente atuação nesta gestão em que o estudante foi ouvido, teve voz e vez na Escola Pública. Fundamental a participação da família, das Associações de Pais e Mestres, dos parceiros e de todos os que já se aproximaram da gigantesca e complexa Rede Estadual, sob a fórmula da “Adoção Afetiva”.
Reforça-se a figura do Professor Mediador Escolar e Comunitário, de imprescindível presença em cada Escola. É o gesto possível da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, aberta a ouvir ponderações de todos aqueles que querem enxergar na escola pública um ambiente cordial, solidário e fraterno, clima sem o qual a caminhada rumo ao ensino de qualidade crescente não alcançará o ritmo de nossas aspirações.