Por Catharina Obeid, Paulo Favero e Ricardo Magatti
O que poderia ser um enorme legado esportivo no Brasil, trampolim para novos tempos, ainda mais depois da primeira Olimpíada na América do Sul, tornou-se um duro golpe no esporte olímpico brasileiro. Dirigentes presos, fuga de patrocinadores e futuro incerto tiraram o brilho de uma competição marcada por alegria e bons resultados no Rio-2016.
O momento serve para repensar as relações entre os poderes estabelecidos e tornar a gestão olímpica do Brasil mais forte. Se antes dirigentes e atletas evitavam atritos por temer a perda de recursos importantes, e ficavam em silêncio em momentos turbulentos, agora acham que podem colocar em prática ideias para melhorar o esporte como um todo no País.
“Eu vejo essas coisas de maneira positiva. O erro se transforma em aprendizado. Estou confiante de que todo movimento e situação vão servir para esclarecer a responsabilidade de cada um e fazer melhor. Isso tudo faz parte do legado”, comentou Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da Confederação Brasileira de Vela (CBVela).
Ele lembra que a entidade que comanda soube aproveitar o legado da melhor maneira. A sede da CBVela foi construída com recursos da iniciativa privada e existe até eleições diretas agora. “Temos transparência. A partir do momento que uma entidade está dentro de uma estrutura de boa gestão, isso se transforma. Essa situação vai obrigar todo mundo a ter padrão de governança”, disse Marco Aurélio de Sá Ribeiro.
Se em um primeiro momento os dirigentes esportivos evitaram falar sobre a prisão de Carlos Arthur Nuzman, depois dos esclarecimentos os presidentes de confederações decidiram colocar seus pontos de vista. E, para além do aspecto político, o que impera é o lado financeiro, de muita dificuldade após os Jogos do Rio-2016.
“A posição da CBAt não muda em relação à situação atual do COB, até porque não temos elementos jurídicos sólidos para comentar. A CBAt preocupa-se com o atletismo e com toda a situação esportiva do País, corte de verbas, tudo o que pode dificultar o desenvolvimento da modalidade até Tóquio”, afirmou José Antonio Martins Fernandes, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
Francisco Ferraz, presidente da Confederação Brasileira de Badminton (CBBd), foi um dos poucos a se manifestar no dia da prisão temporária de Carlos Arthur Nuzman. “Para a gente não faz muita diferença no aspecto financeiro, pois nossos recursos já são bem reduzidos. Não temos nenhum tipo de recurso privado. Somos prejudicados com a arrecadação baixa das loterias”, disse, lembrando que a entidade receberá neste ano quase R$ 2,3 milhões de repasses da Lei Agnelo Piva. “Esse valor é pago em parcelas”
APOIO – A situação turbulenta no esporte olímpico pode afugentar patrocinadores, mas duas grandes marcas ouvidas pelo Estado, que têm histórico de investimento nas modalidades dos Jogos, garantiram que não vão mudar seus rumos, mesmo depois da suspensão do COB pelo COI. “A Coca-Cola Brasil mantém sua crença na importância do esporte para o desenvolvimento de uma sociedade plural, que zela pela inclusão social e pelo bem-estar das pessoas”, afirmou a empresa em nota.
“A Nissan acredita no esporte como forma de transformação social e, por isso, apoia atletas com seu ‘Time Nissan 2.0’. A empresa pretende manter seu planejamento inalterado nessa área”, disse a montadora, que patrocina 11 atletas de nove modalidades esportivas.
No lado de quem compete e vive o dia a dia do esporte, a crise no movimento olímpico não pode afetar ainda mais as modalidades, que já convivem com dificuldades. Para Hugo Hoyama, que representou o Brasil em seis edições dos Jogos Olímpicos, entre 1992 e 2012, a expectativa era outra após os Jogos do Rio-2016.
“Na Olimpíada, por exemplo, tivemos bons resultados, a questão do público foi excelente, da torcida. Mas infelizmente não ficou aquele legado que todos desejavam, de estrutura e verbas para cada confederação. Espero que depois de tudo isso acabar a gente possa ter essa ajuda. Com mais apoio, verbas e motivação a tendência é voltar a crescer”, argumentou Hugo Hoyama.
Ele entende que a prisão temporária de Carlos Arthur Nuzman e a suspensão do COB são fatos ruins para o esporte, mas defende a investigação. “O que precisa ser feito é justiça para que essa má imagem possa desaparecer aos poucos. Aqueles que erraram precisam ser punidos”.
Experiente, ele dá um conselho importante para a nova geração. “Os atletas têm de continuar treinando firme, fazendo sua parte. Muitas vezes os investidores poderão ficar com o pé atrás ou algo do tipo. Eu, como ex-atleta, passei por algumas situações parecidas, que não tinha muito apoio, mas sempre continuei treinando”.