Nicola Tornatore
Um dos principais conhecedores da história de Ribeirão Preto aceitou um novo desafio após mais de duas décadas atuando no Arquivo Público e Histórico da cidade. A trajetória de Mauro da Silva Porto, de 60 anos, mostra como a paixão pela história pode mudar o destino de uma pessoa.
Ele ingressou no serviço público municipal em 1988, quando foi aprovado em um processo seletivo para encanador do Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp). Trabalhou por oito anos na autarquia até que, em 1996, recebeu uma missão diferente – com poucos funcionários, o Arquivo Público, que havia se transferido para o Jardim Paulista (Rua José da Silva, 915), precisava de ajuda.
Porto acatou a determinação e foi trabalhar, em princípio, apenas 30 dias no arquivo, em um simples trabalho braçal – transportar caixas, algumas muito pesadas, do acervo até a sala dos arquivistas. Teve início, então, uma inusitada paixão. Lendo os documentos que precisava apenas transportar, foi se encantando com a história dos primórdios de Ribeirão Preto. Leu dezenas de biografias, conheceu como se deu a chegada dos primeiros ocupantes de nossas terras, na década de 1830, acompanhou a trajetória de vida dos protagonistas que fizeram a história de Ribeirão Preto e acabou caindo nas graças dos diretores que se sucediam o Arquivo Público.
E os 30 dias se tornaram mais de duas décadas. Ao longo desse tempo, Mauro Porto fez uma série de cursos relacionados a técnicas de arquivo e, apesar de ter apenas concluído o Ensino Médio, se transformou no ponto de apoio de centenas de pesquisadores, mestrandos, doutorandos, do Brasil e do exterior. Atendendo a todos com uma simpatia extrema, firmou sua competência auxiliando jornalistas (como o autor deste texto) e pesquisadores das mais diferentes origens. Colaborou de forma decisiva com as pesquisas de acadêmicos vindos do exterior (Inglaterra, Itália, França) e dos mais diferentes estados brasileiros.
A dedicação e o empenho de Mauro Porto o fizeram ser considerado, há anos, como o maior esteio do Arquivo Público e Histórico, vinculado à Secretaria Municipal da Cultura. Após 20 anos atuando como técnico arquivista, ele abraçou nova missão – a de organizar o arquivo do Daerp.
O convite partiu do diretor administrativo da autarquia, Marco Antonio Tibério. No início do ano, após o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) baixar decreto determinando o retorno de todos os funcionários cedidos aos locais de trabalho de origem, Mauro Porto apresentou-se no Daerp, duas décadas após ter sido cedido por 30 dias. Informado sobre a competência adquirida pelo “encanador” durante os mais de 20 anos a serviço da Secretaria da Cultura, Tibério de imediato o convidou para pôr ordem no caótico arquivo da autarquia.
São dezenas de milhares de documentos, amontoados nas últimas décadas, sem nenhum tipo de classificação, no imóvel da Rua Floriano Peixoto, 76, quase esquina com a Avenida Doutor Francisco Junqueira, no Centro. Tudo estava misturado – processos do departamento de Recursos Humanos, do departamento operacional, do setor de finanças, processos de ligação de água, de revisão de contas, sindicâncias, pregões, tomadas de preço…
Mauro Porto está separando os documentos um a um, organizando-os em caixas, fazendo a higienização e depois a classificação. Para o solitário arquivista – é só ele no arquivo – é um trabalho hercúleo, que deve demandar de dois a três anos. Em menos de dois anos, Mauro terá tempo para se aposentar, mas ele já tomou uma decisão – aposentadoria somente após concluir a nova missão, a exemplo do que fez no distante 1996, quando fui cedido por 30 dias e ficou mais de duas décadas no Arquivo Público. Por que se Mauro tem uma paixão insubstituível, ela é a história de Ribeirão Preto.