Caio Meneghetti Fleury Lombard, hoje com 28 anos, foi condenado nessa terça-feira, 3 de outubro, a oito anos e quatro meses de prisão em regime fechado por dupla tentativa de homicídio, mas poderá recorrer em liberdade. Ele foi levado a júri popular nove anos depois de atropelar o frentista Carlos Alaetes Pereira Silva e causar ferimentos no motorista Luiz Carlos Dias, que abastecia o carro no posto invadido pelo réu, em 11 de fevereiro de 2008.
Lombard deixou o Fórum Estadual de Justiça sem falar com a imprensa. O advogado dele, Heráclito Mossin, vai recorrer da sentença emitida pela juíza Marta Rodrigues Maffeis Moreira, da Vara do Júri e das Execuções Criminais de Ribeirão Preto. O promotor Marcus Túlio Nicolino também apresentará recurso ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP).
A magistrada aplicou duas penas de nove anos ao réu, mas o fato de ninguém ter morrido e do acusado ser menor de 21 anos na época dos crimes reduziram o período de reclusão para oito anos e quatro meses. Lombard também já havia ficado oito meses preso em Franca. A sentença de pronúncia que definiu o júri popular foi expedida em agosto de 2012 pela 4ª Câmara Criminal do TJ/SP.
Cinco anos depois, o júri teve início por volta de 10h dessa terça-feira. Cinco homens e duas mulheres foram sorteados para formar o corpo de jurados. Entre as 12 testemunhas arroladas no processo, oito falaram perante a juíza e as demais foram interrogadas por carta precatória ou videoconferência. Entre os sete jurados, cinco homens e duas mulheres.
Silva e o motorista Luis Carlos Dias, que também foi atingido pelo réu, estavam entre as sete testemunhas de acusação. Entre as cinco de defesa, apenas uma compareceu ao plenário – as demais foram ouvidas por vídeo ou carta precatória. O representante do Ministério Público Estadual (MPE) diz que já há entendimentos de que a decisão de júri popular equivale a uma sentença de segunda instância, por isso entende que o réu deveria estar preso.
Em 11 de fevereiro de 2008, Fleury Lombard, então estudante de Direito, com 19 anos, invadiu um posto na Avenida Independência, na zona sul, derrubou uma bomba de combustível e atingiu o frentista, que ficou em estado grave, mas se reabilitou, além do motorista de um carro que abastecia no local. Imagens de câmeras de segurança flagraram toda a ação.
Um laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que o estudante estava embriagado. No carro dele, foram encontrados frascos de lança-perfume – também responde por tráfico de drogas. De acordo com a acusação, o estudante teria tentado fugir do local com a vítima presa embaixo do veículo. Em sua defesa, o jovem disse à polícia que passou mal por ter consumido bebida em excesso durante um trote universitário.
O réu atualmente trabalha no setor da construção civil e vive fora de Ribeirão Preto – a defesa informou não ter autorização para divulgar a cidade. A acusação afirma que Caio Meneghetti Fleury Lombard assumiu o risco de matar ao volante por estar bêbado. Ele foi denunciado por dupla tentativa de homicídio. Ainda segundo a acusação, Lombard teria tentado fugir do local, acelerando o carro enquanto a vítima estava presa embaixo dele.
No veículo, a polícia encontrou quatro frascos de lança-perfume e bebida alcoólica. O estudante foi submetido a testes toxicológicos, que constataram a embriaguez. Segundo o laudo do Instituto Médico Legal (IML), a dosagem alcoólica apontou taxa de 0,85 grama de álcool por litro de sangue, enquanto o máximo permitido era de 0,60 grama por litro de sangue.
Em depoimento à polícia, Lombard afirmou que na manhã do dia do acidente havia ido a uma universidade de Ribeirão Preto para realizar a matrícula e foi surpreendido por um grupo de veteranos que aplicava um trote nos calouros. Ele disse que foi levado para avenidas da cidade para pedir dinheiro aos motoristas e obrigado a beber o dia todo. À noite, teria retornado à universidade para levar três veteranos para a casa deles.
Por causa do excesso de bebida, o estudante alegou que se sentiu mal e que perdeu a consciência. Ele só percebeu o que tinha acontecido quando já estava dentro do posto de gasolina. O frentista Carlos Alaetes Pereira Silva foi internado em estado grave no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde permaneceu por 20 dias, parte deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele sofreu traumatismo craniano e queimaduras pelo corpo.
Após passar por um processo de reabilitação que durou cerca de seis meses, Silva voltou a trabalhar no mesmo posto – já saiu do emprego. Ele entrou com uma ação contra o estudante que causou o acidente e foi indenizado. Nesta terça-feira, na porta do Fórum de Justiça, o ex-frentista diz que perdoou Fleury Lombard. “Eu perdoei, não tenho raiva do Caio, mesmo porque Deus me deu a vida de volta. Estou bem de saúde, não tenho mais nada o que questionar. Não tenho raiva dele, não. Sequela que ficou é só a cicatriz onde queimou, mas, quebrado, graças a Deus, não tem nada”, afirma.