Em sua delação premiada, Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de políticos do PMDB em esquemas de desvio de dinheiro público relatou situações em que houve problemas entre o presidente Michel Temer e aliados. Entre eles, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
No começo de 2015, por exemplo, Funaro relatou que não houve harmonia entre os peemedebistas. Cunha tinha sido eleito presidente da Câmara, e Temer era vice-presidente da República. Segundo o termo de depoimento, Temer ficou “enciumado pelo poder do deputado Cunha” e “diminuiu o contato com ele”.
Anos antes, em 2011, quando Temer também era vice, Wagner Rossi deixou o Ministério da Agricultura em meio a suspeitas de irregularidades. Funaro relatou que o empresário Joesley Batista, do frigorífico JBS, “afirmou que Rossi reclamou de Temer, uma vez que, quando precisava se segurar no Ministério da Agricultura, Temer não se mexeu”. O delator também disse ter certeza de que “parcela da propina paga a Wagner Rossi era redistribuída a Michel”.
No entanto, em 2012 houve uma compensação. Segundo Funaro, por interferência de Temer, a campanha de Gabriel Chalita, candidato a prefeito de São Paulo pelo PMDB, contratou a produtora do filho de Wagner Rossi. Segundo o termo de depoimento, Funaro “entende que a contratação da empresa foi uma compensação pela perda do cargo”.
De acordo com o delator, a campanha de Chalita recebeu recursos de caixa 2 a pedido de Temer. Funaro disse também que o presidente pediu doações não contabilizadas em 2014 para a campanha de Paulo Skaf, candidato do PMDB ao governo de São Paulo.
Na delação, Funaro também citou um amigo de Temer, o coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP) João Baptista Lima Filho. Mas, neste caso, não há relato de divergências. O delator disse que Temer conseguia contratos para empresa de Coronel Lima, como ele era conhecido, inclusive nas obras da usina nuclear localizada em Angra dos Reis (RJ). De acordo com Funaro, a empresa não tinha porte para assumir uma obra desse tamanho.
O outro lado – A Ilha Produção, que pertence a um dos filhos de Wagner Rossi, disse em nota que “com mais de 18 anos de atuação, a empresa tem reconhecidos trabalhos prestados para campanhas publicitárias e corporativas em todo o pais e até fora dele. Já foi vencedora de diversos prêmios nacionais, inclusive uma edição do prêmio “Profissionais do Ano” da rede Globo. Além de possuir uma ampla carteira de clientes que pode credenciá-la a realizar qualquer trabalho sem precisar de ajudas externas ou de qualquer autoridade”.
E conclui: “O então vice-presidente Michel Temer não indicou A Ilha Produção para atuar na campanha de Gabriel Chalita, em 2012 ou para executar qualquer outro trabalho. Registramos ainda que os serviços prestados ao então candidato a prefeito tiveram os impostos recolhidos e, evidentemente, foram comunicados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, diz a nota. Wagner Rossi não respondeu o email enviado pelo Tribuna.