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Adoniran Barbosa e suas histórias

As histórias de Adoniran Barbosa sobre
“Saudosa Maloca”, “Iracema” e “Samba do Arnesto”

Quando eu escuto uma canção, ainda mais de Adoniran Barbosa, que sempre é uma crônica e narrativa da cidade de São Paulo e das pessoas humildes que vivem lá, me pergunto no que ele estava pensando ou presenciando para fazer a música? Qual seria a fonte de inspiração dele? Pesquisando em alguns livros, encontrei as explicações do sambista para “Saudosa Maloca”, “Iracema” e “Samba do Arnesto”, e vou compartilhar com vocês.

Adoniran fez amizade com um destes sem teto, morador de maloca, residente do antigo Hotel Albion, na rua Aurora. Seu nome era Mário, bem mais conhecido como Mato Grosso. Uma noite, Adoniran saiu para um passeio com Peteleco, seu cachorro de estimação. Passando em frente às ruínas do Albion, encontrou-se com Mato Grosso, que lhe deu a notícia: logo perderiam o lar, pois o prédio seria demolido.

Condoído com a sorte de Mato Grosso e seus companheiros de maloca, Adoniran, ao voltar para casa, compôs o samba todo, de uma vez só (“Se o sinhô não tá lembrado dá licença de contá…). “Eu só conheci dali o Mato Grosso, pois o Joca foi imaginação minha. Servia pra rimar com maloca…”, contou Adoniran.

Em relação ao samba “Iracema”, Adoniran narra da seguinte forma a sua criação: “Iracema foi que eu vi no jornal. Cuitada, eu vi. E não foi na São João, foi na Consolação. Foi no dia em que eu li deste desastre, como eu li a notícia, fiquei…E falei, aqui vai dar um sambinha. Foi o primeiro samba errado que fiz, Iracema”. Este samba nos traz o Adoniran cronista, aquele que narra os acontecimentos da metrópole de forma simples e direta, com uma linguagem popular, própria do ítalo-caipira-paulista, que ele era.

Quanto ao “Samba do Arnesto”, acredito que é o samba mais curioso e polêmico, quanto à inspiração e as versões que Adoniran criou para explicar a sua origem. Ora o sambista afirmou que o Arnesto sempre existiu, e se chamava Ernesto; ora seu nome verdadeiro era Walter; ou simplesmente “nunca fui a casa dele, nunca existiu”.

Em 1990, o Diário Popular publicou uma matéria sobre Ernesto Paulelli, violonista e advogado, que em 1938 teve o primeiro contato com Adoniran, na Rádio Record, e disse que o sambista foi logo lhe dizendo: “Vou fazer um samba com o teu nome, aduvida?”. Adoniran compôs a música e cumpriu a promessa 14 anos depois.

Quanto a história contada na letra do samba, deixemos que Adoniram explique, mas é apenas uma de suas muitas explicações: “Um dia saí da Record e fui à procura do Joca e do Mato Grosso. Eles tinham me convidado para um samba na casa de um amigo do Joca que morava no Brás. O amigo do Joca se chamava Ernesto, mas a turma o chamava de Arnesto. Apanhamos o bonde na Praça Clóvis e rumamos para o Brás. Descemos na Rua Bresser e caminhamos até a terceira travessa, onde morava o Arnesto. Era um cortiço, e quando chegamos lá ficamos sabendo que o Arnesto não tinha recebido o dinheiro que esperava para fazer o baile. Envergonhado, fechou a maloca e se mandou pra Penha. Decepcionados, voltamos para a cidade e dentro do bonde veio a vontade de fazer este samba”:

“O Arnesto nus convidou, prum samba ele mora no Brás, nós fumu e não encontremo ninguém. Nóis vortemu com uma baita de uma reiva, da outra vez nóis não vai mais. Nóis não semos tatu”.
E como disse Antonio Cândido: “Adoniran é um paulista de cerne que exprime a sua terra com a força da imaginação alimentada pelas heranças necessárias de fora”. “A tristeza é um bichinho que pra roer tá sozinho. E como rói a bandida. Parece rato em queijo parmesão”. Salve Adoniran Barbosa.

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