De nada adiantou a carta aberta lançada por dezessete entidades de classe, lideradas pela Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), pedindo aos 27 vereadores que não aprovassem a instalação de uma Comissão Especial de Estudos (CEE) para discutir o comércio ambulante em Ribeirão Preto.
Na sessão desta terça-feira, 19 de setembro, a Câmara aprovou novo requerimento de Adauto Marmita (PR) para a instalação da CEE, que terá cinco vereadores – o próprio Marmita na presidência, Isaac Antunes (PR), Lincoln Fernandes (PDT), Orlando Pesoti (PDT) e Otoniel Lima (PRB).
Na semana passada, outro requerimento do mesmo Marmita já havia sido aprovado, provocando uma grande reação das entidades representativas do comércio por causa da justificativa, com um texto de viés bastante tendencioso e favorável aos “informais”. Uma nova justificativa foi redigida, outro requerimento foi aprovado e agora é automático – a Mesa Diretora terá de elaborar um projeto de resolução que vai à votação já na sessão desta quinta-feira (21).
Na carta aberta, os representantes das 17 associações signatárias afirmam que “não têm nada contra os mais de 1.500 ambulantes que estão cadastrados na Prefeitura e que, cumprindo a lei, exercem seu legitimo direito de trabalhar. Ribeirão Preto tem inúmeras possibilidades de trabalho para ambulantes. Na maior parte da cidade, esse trabalho é permitido”.
Além de aprovar o novo requerimento, os cinco vereadores que vão compor a CEE – caso a instalação seja aprovada amanhã – divulgaram uma carta em que criticam a tentativa do movimento de barrar a comissão. “Em nenhum momento permitimos ou vamos permitir qualquer ilegalidade”, diz o documento, acrescentando que “esta Casa não vai tergiversar sobre assunto de tamanha importância, democrática que é, vamos ouvir a maioria e a minoria sempre”.
Na nova justificativa para a instalação da CEE, Adauto Marmita explica os motivos para a criação da comissão: “A necessidade de realização de estudo sobre o trabalho ambulante no município, a necessidade de estudar mecanismos de organização e entendimento entre comerciantes e ambulantes e as alterações nas relações do trabalho e emprego com o advento de mudanças na legislação em âmbito nacional”.
Antes da votação englobada dos requerimentos, dois vereadores foram à tribuna para defender a criação da CEE. Isaac Antunes reconheceu que a justificativa anterior não estava equilibrada, e sim tendenciosa, mas destacou que uma nova justificativa foi redigida e que “é uma mera comissão de estudos, não muda a legislação” sobre o trabalho ambulante.
Ele disse também que ninguém “pode roubar a prerrogativa dos vereadores” em debater um tema e pediu aos colegas que aprovem amanhã por unanimidade a criação da CEE, como foram consensuais as aprovações de todas as comissões de estudo instaladas desde o início do ano. “Se não aprovamos por unanimidade, estaremos diminuindo esse plenário, vamos estar diminuindo nossos mandatos”, disse.
Lincoln Fernandes, por sua vez, perguntou da tribuna qual o problema de se criar uma CEE para discutir a questão dos ambulantes. “Estão querendo impedir o vereador de trabalhar?”, perguntou, para depois acrescentar que uma “CEE equilibrada e imparcial é necessária para discutir um problema crônico em Ribeirão Preto”. O Departamento de Fiscalização Geral da Secretaria Municipal da Fazenda é responsável por acompanhar a atuação dos ambulantes. Recentemente, recebeu o reforço da Guarda Civil Municipal (GCM) e da Polícia Militar (PM) durante as blitze porque agentes foram agredidos por camelôs.
Os camelôs querem voltar a atuar em área proibida por lei – esse tipo de comércio é vetado num raio de 300 metros da praça XV de Novembro e de 200 metros do Centro Popular de Compras (CPC). Ou seja, hoje é proibido o trabalho de “informais” no calçadão e no entorno do CPC e do Mercado Municipal (Mercadão), exatamente as duas regiões que atraem mais vendedores ambulantes ilegais.
Outra queixa das entidades é que muitos ambulantes não cumprem as leis que regem o comércio, como a venda de produtos ilícitos (provenientes de contrabando), a defesa do consumidor (mercadorias sem selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, Inmetro), a proteção da sanidade dos alimentos, a obrigatoriedade do pagamento de impostos (produtos sem nota fiscal e garantia) e a defesa dos direitos dos trabalhadores como salário, previdência social, 13º salário, férias e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).