Gláucia Berenice (PSDB) recebeu a “fatura” por seu destemor em assumir a chefia do Executivo de Ribeirão Preto em meio ao caos que marcou os estertores da malfadada administração Dárcy Vera (PSD). Assistente social que atualmente cumpre seu terceiro mandato na Câmara de Vereadores agora responde a processo aberto pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE/SP) e corre o risco de ficar inelegível ou mesmo de ser acusada por crime de improbidade administrativa.
Gláucia Berenice ocupou o Palácio Rio Branco durante 17 dias no mês de dezembro do ano passado. Para quem não se lembra, o contexto daquele difícil período revela a disposição da tucana em enfrentar riscos. A então prefeita Dárcy Vera, hoje presa na Penitenciária de Tremembé, havia sido afastada pela Justiça. O vice-prefeito Marinho Sampaio (PMDB), que dois meses antes, em outubro, havia sido eleito vereador, renunciou ao cargo exatamente para não ter de assumir o comando da administração devastada pela quadrilha investigada na Operação Sevandija.
Na ausência da prefeita e do vice, a principal cadeira do Palácio Rio Branco deveria ser ocupada interinamente pelo presidente da Câmara. Mas Walter Gomes (%TB), também preso em Tremembé, e mais três ocupantes de cargos da Mesa Diretora do Legislativo haviam sido afastados do exercício do mandato pela Justiça.
A então primeira-secretária Viviane Abreu assumiu a presidência da Câmara mas, ao constatar que teria inevitavelmente de ocupar o cargo de prefeita, renunciou ao posto na Mesa Diretora, o comando do Legislativo vago. A cidade esteve, naquele momento, estava à beira do caos administrativo. O 13° salário do funcionalismo municipal não havia sido pago, não havia dinheiro em caixa para honrar a próxima folha de pagamento, a Prefeitura não honrava os pagamentos a fornecedores e nem mesmo pagava os precatórios, que são ordens judiciais.
Faltavam remédios nas farmácias das unidades de saúde, creches serviam merenda fria porque não havia gás, funcionárias de creches levavam papel higiênico de casa e pacientes da Unidade Básica Distrital de Saúde (UBDS) Central eram alimentados com comida que organizações não-governamentais distribuíam a moradores de rua que pernoitam na praça Francisco Schmidt.
Naquele momento, apenas um dos 13 vereadores que restaram no Legislativo se dispôs a encarar o desafio – Gláucia Berenice. Candidata única ao posto de primeira-secretária da Mesa Diretora, ela foi eleita por unanimidade e, na sequência, como presidente da Câmara, assumiu como prefeita interina. Por causa dos 17 dias em que esteve no Palácio Rio Branco corre agora o risco de ter sua carreira política encerrada prematuramente.
Em entrevista ao Tribuna, ela conta que apesar de ter sido prefeita por apenas 17 dias, terá de explicar ao TCE/SP as contas do ano de 2016 inteiro. O tribunal cobra a participação de Gláucia Berenice em irregularidades como o endividamento do município e a falta de pagamento dos precatórios. Ela foi notificada da ação em agosto e teve prazo até 6 de setembro para apresentar defesa.
“Essa é a linha de minha defesa, a de que aceitei assumir como prefeita interina para que Ribeirão Preto não ficasse acéfala. Não ordenei nenhuma despesa nova, nenhuma de minhas ações agravou o endividamento do município”, explica a tucana. Mesmo convicta de que fez o que devia ser feito e consciente de que aceitou um desafio que estava sendo evitado por todos, Gláucia Berenice sabe que corre o risco de sofrer punições, que vão da perda dos direitos políticos à acusação de crime de improbidade administrativa.