Foto: Lucas Figueiredo/ CBF
Por Marcio Dolzan
Há pouco mais de um ano, a seleção brasileira vivia o auge da “Neymardependência”. Com o Brasil jogando mal e caindo pelas tabelas, cabia ao craque, então no Barcelona, tentar resolver as partidas. Hoje o time é mais coeso e o protagonismo passou a ser dividido. Mas é inegável que muito da produção ofensiva da seleção ainda depende da atuação de Neymar, o que obriga o técnico Tite a buscar alternativas diante da cada vez mais forte marcação dos adversários em cima do jogador mais caro da história.
O mau primeiro tempo do Brasil diante do Equador, na quinta-feira passada, na Arena Grêmio, em Porto Alegre, passou muito pela marcação cerrada em cima do astro do Paris Saint-Germain. Aberto pelo setor esquerdo, como na época de Barcelona, Neymar era constantemente vigiado de perto por dois marcadores – Valencia sempre era um deles. Seu espaço era tão congestionado por aquele setor que, em determinado momento do jogo, ele só conseguiu arrancar após tentar um “drible da vaca” correndo pelo lado de fora do campo.
A marcação, por vezes, também contou com lances mais duros, ríspidos até, o que tirou o brasileiro do sério. Em dois momentos Neymar foi tirar satisfação com o adversário após receber entrada mais forte, lembrando aquele jogador destemperado dos tempos do técnico Dunga.
Uma das soluções tentadas por Tite para devolver Neymar ao jogo no primeiro tempo da última quinta-feira foi inverter a posição do atacante, colocando-o na direita e puxando Willian para o lado esquerdo. “A troca é para dar liberdade para eles saírem de uma marcação mais próxima”, disse o treinador após a partida.
A necessidade de livrar o jogador da marcação, contudo, fez com que o técnico lançasse mão de algo que ele próprio havia reconhecido não ser o ideal na entrevista que dera na véspera do jogo. Se por um lado deslocar Neymar na direita tirava um pouco da marcação homem a homem que ele sofria, por outro deixava o jogador em uma faixa de campo em que ele não rende tanto quanto se espera.
“Eu lembro que nós jogamos contra o Santos, o Adilson (Baptista) era o técnico e ele o usou na direita”, recordou Tite, citando um jogo da época em que treinava o Corinthians. “Mas o Neymar não se sente à vontade”.
Outra mudança tática testada pelo técnico no jogo do meio de semana para tentar facilitar a vida de seu principal jogador mexeu bastante na engrenagem da seleção brasileira. Renato Augusto foi recuado a fim de dar mais liberdade ofensiva ao lateral-esquerdo Marcelo e ao volante Paulinho, em uma tentativa de abrir a marcação equatoriana.
“A gente estava procurando uma posição melhor para que o Neymar pudesse flutuar”, contou Renato Augusto. “Pensamos em empurrar um pouco mais o Marcelo para frente. A gente não estava conseguindo sair pelo lado esquerdo, justamente por ter dois jogadores que eles respeitam muito”.
A intenção do time era permitir que o atacante do Paris Saint-Germain procurasse a melhor faixa do campo para se movimentar, algo semelhante ao que ele faz hoje na equipe francesa. E Tite não esconde que Neymar tem mais liberdade para isso. “A gente dá um alívio tático para o atleta jogar onde ele se sente mais à vontade. Assim, ele joga com mais naturalidade. É a oportunidade para ele ter a iniciativa do jogo”, observou. “O Neymar tem mais liberdade (tática) do que os outros”.
Com o Brasil já garantido na Copa do Mundo de 2018, na Rússia, o treinador tem dito que quer fazer variações durante o jogo e não esconde que elas incluem mudanças de posicionamento de Neymar, como as vistas na última quinta-feira.
O problema de Tite é tempo para treinar estas variações. Em geral, o técnico tem no máximo cinco treinos com elenco completo a cada apresentação da seleção. Assim, ele se obriga a fazer os ajustes e testá-los durante as próprias partidas. Nove vitórias em nove jogos das Eliminatórias Sul-Americanas mostram que, por ora, tem funcionado. Mas Neymar sempre será visado e o primeiro tempo aquém das expectativas diante do Equador ligou o sinal de alerta.