A Voepass Linhas Aéreas enviou e-mail para seus colaboradores, na noite desta segunda-feira, 14 de abril, anunciando processo de desligamento de parte significativa de sua equipe. A companhia formada pela Passaredo Transportes Aéreos e pela Map Linhas Aéreas e com sede em Ribeirão Preto possui cerca de 480 funcionários em todo o país.
As pessoas demitidas serão comunicadas presencialmente, segundo a companhia, mas todos receberam a carta da empresa por e-mail. Não foi divulgado o número de colaboradores atingidos pela decisão da empresa. Na mensagem a qual o Tribuna teve acesso, o presidente e cofundador da Voepass Linhas Aéreas, comandante José Luiz Felício Filho, explica que a decisão foi tomada devido ao impacto dos acontecimentos recentes envolvendo a empresa.
A Voepass está proibida de voar desde 11 de março devido a falhas na segurança, segundo Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As demissões atingem tripulação (pilotos, copilotos, comissários de bordo), aeroportuários e pessoas da área de apoio.
Nas mensagens, o comandante José Luiz Felício Filho agradece o trabalho de todos os colaboradores e reforça que sente profundamente por essa situação difícil que a empresa travessa. Ele também afirma que o foco da Voepass permanece inabalável em retomar a missão de conectar o interior do Brasil e os grandes centros
Diz ainda que acredita na importância do papel essencial da empresa como motor para o desenvolvimento da aviação regional do país. A empresa enfrenta uma grave crise e teve suas operações suspensas em 11 de março. A companhia ribeirão-pretana não teria seguido as recomendações da Anac.
As medidas envolvem redução da malha, aquisição de novas aeronaves com o objetivo de manter as atuais mais tempo em solo para manutenção, troca de administradores e execução do plano de ação para correções das irregularidades.
No Aeroporto Estadual Doutor Leite Lopes, a Voepass opera com 146 voos mensais, sendo cinco diários de domingo à sexta-feira, e quatro aos sábados, com destino a Guarulhos e Congonhas, utilizando aeronaves ATR-72. Essas operações são responsáveis por uma média de 15 mil passageiros ao mês.
São 7,5 mil embarques e 7,5 mil desembarques, segundo a Rede Voa, concessionária que administra o aeroporto de Ribeirão Pereto. São 16 destinos. A companhia conta com onze aeronaves. A Anac informa que a “suspensão valerá até que a companhia comprove a capacidade de garantir o nível de segurança previsto nas normas da agência”.
No final de fevereiro de 2025, após nova rodada de auditorias, foi identificada a degradação da eficiência do sistema de gestão da empresa em relação às atividades monitoradas e o descumprimento sistemático das exigências feitas pela agência.
“A Anac recebeu informações iniciais da companhia aérea, mas ainda precisa avaliá-las para definir sobre a situação das operações. Cabe destacar que a suspensão seguirá em vigor até que seja comprovada a correção de não conformidades relacionadas aos sistemas de gestão da empresa previstos em regulamentos”, diz a agência.
A Voepass diz que trabalha para retomar as operações “o mais breve possível”, além de pontuar que, desde a suspensão, faz tratativas internas para demonstrar a capacidade de garantir todos os níveis de segurança exigidos pela agência reguladora.
“A companhia reforça sua missão de desenvolver a aviação regional, atendendo diariamente milhares de passageiros e beneficiando municípios e estados brasileiros. A livre concorrência é essencial para o crescimento desse mercado estratégico, que conecta cidades do interior a grandes centros, e contribui para o desenvolvimento econômico e social do país”, cita em nota distribuída à imprensa na semana passada.
“Nos últimos três anos, a Voepass cumpriu sua missão transportando mais de 2,7 milhões de passageiros em mais de 66 mil voos”, complementa. A decisão da Anac de suspender as operações foi tomada após a empresa não corrigir falhas nos sistemas de gestão e ocorreu após o acidente fatal em Vinhedo (SP), em 9 de agosto do ano passado, que causou a morte das 62 pessoas a bordo – 58 passageiros e quatro tripulantes.
Voepass – No dia 11 de março, a Voepass informou, por meio de nota, que sua frota em operação é aeronavegável e apta a realizar voos seguindo as rigorosas exigências de padrões de segurança. A companhia afirma que a decisão de suspensão pela Anac “tem um impacto imensurável para milhares de brasileiros que utilizam a aviação regional”. Por isso, colocará “todos seus esforços para retomar a operação o mais breve possível”.
Latam – No final de março, a Latam Airlines Brasil disse que forneceu solução de viagem sem custos para 85% dos 106 mil clientes impactados pela suspensão das operações da Voepass Linhas Aéreas – as empresas têm acordo de compartilhamento de voos.
Desde 31 de março, a Latam Airlines Brasil opera no Aeroporto Estadual Doutor Leite Lopes com dois voos diários na rota Congonhas-Ribeirão Preto, com aeronaves Airbus A319 (oito passageiros em cabine Premium Economy e 132 em Economy) e A320 (doze passageiros em cabine Premium Economy e 162 em Economy).
Os da rota Congonhas-Ribeirão Preto têm uma hora de duração, decolando de São Paulo às 8h05 e às 17h40 (hora local) e de Ribeirão às 10h05 e às 19h25 (hora local). As informações foram confirmadas pela companhia. As passagens aéreas estão disponíveis em latam.com e demais canais.
Reestruturação – Em fevereiro, o juiz José Guilherme Di Rienzo Marrey, da Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem de Ribeirão Preto, acatou pedido de reestruturação financeira solicitada pela Voepass Linhas Aéreas e suspendeu por 60 dias qualquer ação de credores contra a companhia aérea, que acumula dívida de R$ 215 milhões.
A decisão do magistrado impede a adoção de medidas judiciais por parte de credores que possam afetar as operações da companhia, como apreensão de aeronaves e outros ativos. Para o juiz, ações contrárias a Voepass, como a retirada da frota de aviões pelos arrendadores, podem resultar na falência da empresa.
Além de citar o acidente em Vinhedo, a Voepass também alega que a Latam Airlines deixou de depositar, sem justificativa, R$ 34,7 milhões do codeshare – uma empresa vende a passagem e outra opera o trecho da viagem – que mantém com a companhia ribeirão-pretana desde 2014, pela operação de quatro aeronaves
Em agosto de 2024, quando ocorreu o acidente em Vinhedo, 93% do faturamento da empresa teve origem neste tipo de parceria com a Latam. No final do mês passado, a Justiça de Ribeirão Preto deu prazo de cinco dias para a Latam depositar em juízo os R$ 34,7 milhões, mas ainda a empresa parceira da Voepass poderia entrar com recursos, como embargos de declaração com efeito suspensivo.
Nota da Voepass
A Voepass Linhas Aéreas comunica que tomou a difícil decisão de readequar seu quadro de funcionários à nova realidade da empresa e realizou o desligamento de uma parte do seu quadro de funcionários, incluindo tripulação, aeroportuários e pessoas de áreas de apoio. A decisão foi tomada após a suspensão temporária da sua operação, medida que afetou milhares de brasileiros que utilizam a aviação regional todos os dias e provocou um impacto direto no caixa da companhia, que já estava em processo de reestruturação financeira, tendo ajuizado um pedido de tutela preparatória em fevereiro deste ano.
A companhia está adotando todas as medidas necessárias para demonstrar sua capacidade operacional para restabelecer seu Certificado de Operador Aéreo (COA) pela Anac, com o objetivo de retomar suas atividades o mais breve possível. Nesse processo, sua malha encontra-se sob revisão e análise frequentes, que consequentemente tem impacto direto na quantidade de pessoas que emprega.
A companhia ressalta que, mesmo diante de todos os desafios que vem enfrentando, sempre teve como objetivo preservar o máximo de empregos possíveis e manter a sua sustentabilidade no longo prazo; e com isso manter seu compromisso de conectar o interior do Brasil aos grandes pólos.
Reforça ainda que considera sua história de 30 anos – sendo a companhia aérea há mais tempo em operação no país – uma força essencial e estratégica de desenvolvimento na aviação brasileira – já que poucas companhias aéreas investem na inclusão de cidades do interior no transporte aéreo.
A companhia está tratando do assunto diretamente com os sindicatos das categorias e dando sequência nas tratativas relacionadas às questões trabalhistas.