José Aparecido Da Silva*
É forte a premissa de que a formação adequada do capital humano (prefiro Capital Cognitivo) promove crescimento econômico. Todavia, medidas de formação deste capital humano têm se apresentado aquém de satisfatórias. Algumas delas, como os índices de letramento, por exemplo, são extremamente básicas, uma vez que não distinguem, nestes mesmos índices, as habilidades dos indivíduos por elas ditos “alfabetizados” e, tampouco, o numeramento deles. Similarmente, as taxas de matrículas escolares, ao permitirem a distinção apenas das matrículas ocorridas no ensino básico, fundamental e médio, mostram-se inflacionadas pelos registros exagerados, desconsiderando a evasão e o absenteísmo, tanto de alunos quanto de professores, problemas sérios em alguns países. Com isso, tais medidas capturam apenas a quantidade do processo de formação do capital humano, negligenciando, fundamentalmente, o que há de mais precioso no mesmo, ou seja, a qualidade.
Diante disto, encontrar uma medida que relacione a formação de capital cognitivo ao impacto causado por este nos indicadores de crescimento econômico, levou pesquisadores a arguirem que diferenças em inteligência média, mensuradas por testes de QI, fortemente afetam o nível de prosperidade dos Estados que constituem uma nação. A suposição básica é que as habilidades cognitivas ajudam os indivíduos a serem bem-sucedidos na escola, a encontrarem melhores oportunidades profissionais e pessoais, especialmente quando o entendimento e o uso eficaz de relações causais são requeridos. Logo, funcionando, propriamente, como abridores de portas e solucionadores de problemas cotidianos, Inteligência e Conhecimento são elementos que enriquecem a racionalidade individual e cultural, suportando decisões racionais, não apenas ao nível pessoal, mas também em instituições e sistemas políticos. Ajudando a avaliar oportunidades e riscos, a usar meios eficazes, a alcançar objetivos institucionais, a evitar acidentes, a avaliar a importância das fontes, a antecipar resultados e a manter o clima racional, substituindo disputas, algumas vezes, violentas e coercivas, por argumentos verbais, adequados e equilibrados, muito revela do seu poder de insight e precaução, entendidos, respectivamente, como compreensão e prevenção.
Como descrevemos alhures, estudos recentes demonstraram uma forte correlação (r = 0,62) entre o QI nacional médio e o PDB-1998 estimados de diferentes nações. Outros estudos corroboraram estes resultados, mostrando que as correlações dos escores de habilidades cognitivas com indicadores de riqueza nacional e de crescimento econômico fortemente persistem quando outras variáveis, fatores macrossociais e pontos de mensuração são estatisticamente controlados. Analogamente, outros estudos buscaram verificar se, para unidades macroeconômicas subnacionais, tais como os Estados norte-americanos, estas correlações persistiriam. A lógica naturalmente decorreu da suposição de que, se indivíduos mais inteligentes ganham mais do que aqueles menos inteligentes, então, Estados com inteligência mais alta seriam mais ricos do que Estados com inteligência menor. Isto está em acordo com a concepção de capital humano em economia, a qual argumenta que diferenças em inteligência média fortemente afetam o nível de prosperidade dos Estados que constituem uma nação.
Baseando nas evidências de que os escores de QI(s), especialmente a inteligência geral (g), são altamente correlacionados com os escores de desempenho acadêmico (r = 0,86), estudos têm usado os escores obtidos tanto no Teste de Aptidão Escolástica (SAT), quanto no Programa de Avaliação Nacional de Educação (NAEP), aplicados às amostras representativas dos habitantes de diferentes Estados norte-americanos. Lembrando que as correlações variam de -1 a +1, tomados juntos, os resultados revelaram altas associações positivas: (1) entre o QI do Estado e o Produto Estadual Bruto (PEB) per capita, que é o equivalente estadual ao PDB per capita nacional (r = 0,28 e 0,55); (2) entre o QI do Estado e a renda familiar média (r = 0,54); (3) entre o QI do Estado e o indicador médio de saúde (r = 0,75); (4) entre o QI do Estado e o indicador da eficácia do governo estadual em diferentes áreas, e associações negativas: (1) entre o QI do Estado e a porcentagem da população vivendo na pobreza (r = – 0,38) e (2) entre o QI do Estado e taxas de crimes violentos por mil habitantes (r = -0,58).
Sob esta óptica, Estados com inteligência média mais alta são mais ricos e saudáveis, apresentando governos mais eficientes, maior renda média familiar, menor proporção da população na pobreza e menos crimes violentos. É a inteligência se mostrando altamente associada aos diferentes atributos positivos e negativos da sociedade. Portanto, devemos sempre fomentar as habilidades cognitivas.
Professor Visitante da UnB-DF*