José Aparecido Da Silva
A Pandemia da Covid-19 teve resultado em enormes perdas de vidas humanas e em outras enormes perdas econômicas nas diferentes nações do globo. Do mesmo modo, o surto pandêmico tem emergido e agravado, pesadamente, a saúde mental de muitos cidadãos, sejam estas crianças, jovens, adolescentes, adultos ou idosos. Neste contexto, para além das implicações econômico-sociais na saúde física, a saúde mental tem sido impactada num crescendo, o que tem sido registrado na literatura científica mundial. Fruto dessa literatura, dados têm sugerido que as pessoas afetadas pela Covid-19 possam ter alta sobrecarga de manifestações associadas à saúde mental, incluindo depressão, desordens de ansiedade, estresse psicológico, ataques de pânico, agressividade irracional, impulsividade, desordens de somatização, desordens alimentares e de sono, perturbações emocionais, sintomas de estresse pós-traumático e comportamentos suicidas.
Paralelo a essas implicações, vários fatores que lhes são associados vêm sendo encontrados. São eles: idade, sexo, estado civil, educação, ocupação, renda, habitação, proximidade a pessoas com Covid-19, problemas de comorbidade física e mental, exposição às mídias sociais relacionadas à Covid-19, estilos de enfrentamento, estigma, suporte social, comunicação de riscos à saúde, confidência no serviço de saúde, medidas protetivas pessoais, vulnerabilidade de contrair a mesma e a percepção da probabilidade de sobrevivência. Independente da variedade dessas desordens mentais, algumas das mais comuns podem ser agrupadas em três grupos, a saber: 1ª) desordens psicóticas, 2ª) desordens de humor e ânimo e 3ª) desordens de ansiedade.
De outro lado, a Pandemia da Covid-19 agravou a prevalência agregada de sintomas de transtornos de saúde mental durante a Covid-19 nos profissionais de saúde da linha de frente, em profissionais de saúde em geral, na população em geral e em estudantes universitários na América Latina, acima de 18 anos de idade. Cinco anos depois, sabemos que o continente latino-americano de 34 países ou territórios teve a segunda quantidade de casos e mortes per capita devido à COVID-19. Neste contexto, a América Latina mostrou-se vulnerável ao surto destrutivo por várias razões, incluindo desigualdades estruturais e socioeconômicas de longa data, bem como, mais de 20% de a população em situação de pobreza, falta de acesso à saúde, sistemas de saúde subfinanciados, governança ou dinâmica política inadequadas e uma alta carga de condições de saúde crônicas e metabólicas, além da falta de preparo para lutar contra a pandemia. No estudo, a mesma alegou um aumento considerável nas morbidades psicológicas entre vários grupos demográficos, incluindo profissionais de saúde, a população em geral e estudantes. Sendo a América Latina um vasto continente, onde as regiões tropicais abrangem quase todos os países latino-americanos, e disparidades regionais em saúde mental foram relatadas, verificar as evidências sobre a prevalência de sintomas de transtorno mental e suas heterogeneidades, durante a pandemia COVID-19, torna-se extremamente relevante.
Assim considerando, um estudo analisou um total de 36 amostras populacionais, descritas em 33 estudos considerados para uma meta-análise final que envolveu 101.772 participantes da América Latina. Os tamanhos das amostras variaram de 57 a 43.995 participantes. As taxas de participação variaram de 11,4% a 100%, com um valor mediano de 66%. As proporções de mulheres participantes entre as 36 amostras populacionais variaram de 3,4% a 100% com uma mediana de 69,8%. Na América Latina, 32 amostras, de 29 estudos, registraram a prevalência de sintomas de ansiedade entre 99.064 participantes. Agregando-se todos os estudos, a prevalência de ansiedade foi de 32% nos 29 estudos. Dos 24 estudos, um total de 27 amostras registrou a prevalência de depressão entre 53.622 respondentes, sendo a prevalência agregada entre todos os estudos de 27%. Oito estudos estudaram o estresse psicológico entre 7.644 participantes, alcançando a incidência agregada um valor de 32%. Sete amostras de cinco estudos investigaram a insônia entre 11.088 respondentes. O índice de Severidade da Insônia revelou que a prevalência, agregando todos os estudos e amostras, foi de 35%.
A prevalência geral de sintomas de saúde mental em profissionais de saúde da linha de frente, profissionais de saúde em geral, população em geral e em estudantes na América Latina foram de 37%, 31%, 33% e 36%, respectivamente. As taxas de prevalência combinadas de sintomas de saúde na América do Sul e América Central, considerando os países que falam espanhol e os países que falam português foram 33%, 27%, 30% e 36%, respectivamente para as mesmas categorias populacionais. Finalmente, a prevalência de sintomas de saúde mental foi mais alta na América do Sul do que na América Central, 33% versus 27%. Em conjunto, os dados revelaram que a prevalência de sintomas de saúde mental entre os profissionais de saúde na linha de frente de 37% e nos estudantes universitários de 36% foram mais elevadas que na população em geral e nos profissionais de saúde em geral, indicadores, estes, que sugerem que as organizações psiquiátricas, e de cuidados de saúde, devem priorizar os trabalhadores de saúde na linha de frente e os estudantes universitários na América Latina.
Professor Visitante na UnB-DF