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A segunda tentativa de um campeão mundial juvenil 

Potência do jiu-jítsu, jovem ribeirão-pretano quase desistiu da modalidade por achar que não tinha talento 

Jovem soma 13 títulos desde 2022 (Arquivo Pessoal)

Por Hugo Luque 

Quem vê Gregório Oliveira hoje, aos 15 anos de idade, dominante no jiu-jítsu, nem imagina que, no passado, o jovem chegou a desistir da modalidade que já o levou a dois títulos mundiais da Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu Esportivo. O adolescente ainda divide a rotina puxada de estudos, deslocamento e treinos, mas agora com mais confiança. 

Essa é a segunda tentativa do ribeirão-pretano nessa arte marcial que tanto cresce no país. Dentro de casa, a família sempre acompanhou lutas, sobretudo os torneios de MMA. 

“Pratico jiu-jítsu desde os 11 anos, mas minha trajetória no esporte começou aos 8, quando iniciei incentivado pela minha mãe, devido ao sobrepeso que tinha na época. No entanto, não me identifiquei com o esporte e, por não ser habilidoso naquele momento, acabei desistindo. Após tentarmos diferentes mestres, pedi para minha mãe me retirar das aulas”, conta. 

Tímido, o garoto deixou de ser ativo e teve de lidar com o sedentarismo. Mas isso não durou muito tempo, e a influência veio de casa. Giacomo, irmão mais velho, convidou Gregório para acompanhar seus treinos. Foi ali, com uma figura de segurança ao lado, que a remontada começou. 

“Nos surpreendeu demais a decisão dele de voltar ao jiu-jítsu. Dessa vez, ele voltou realmente decidido, focado, não perdia os treinos e se destacou”, diz a mãe, Paloma Oliveira. 

Segundo Gregório, a ajuda do irmão foi fundamental para seu retorno ao tatame. Não só isso, também impulsionou sua evolução, também guiada pelos treinadores Willian von Söhsten e Bruna Ribeiro. Todo esse suporte ao redor expôs o real potencial do garoto, que conquistou seu primeiro título mundial em 2022. 

Foi então que o jiu-jiteiro, hoje faixa verde, percebeu que aquele poderia ser seu caminho. Com quase 2 metros de altura, Gregório praticamente conheceu uma competição, de fato, no palco internacional. 

“Antes, eu havia participado de dois campeonatos, mas um eu ganhei porque não havia adversários por conta da minha altura e peso. No outro, fiz apenas uma luta. O Mundial foi o primeiro que eu realmente lutei e, após ter feito quatro lutas e ter saído vitorioso com apenas um ano de treino, comecei a me interessar e ver que era isso que eu queria para minha vida”, revela o atleta. 

O esporte e a socialização 

Gregório soma, em apenas três anos de competições, 13 títulos, incluindo um já neste ano. As conquistas e a constante socialização o ajudaram a deixar no passado a timidez e a falta de confiança no próprio talento, o que mostra que o esporte transforma. 

“Ele disputou o primeiro campeonato em Ribeirão Preto mesmo. Quando entrou no estádio, seus olhos brilhavam, a postura mudava e a cabeça se erguia. Pronto, ali estava um Gregório diferente. O jiu-jítsu muda vidas e isso não é clichê, realmente muda. Ele era um menino tímido, não socializava, parecia sem confiança na própria capacidade e o esporte mudou tudo isso, desde a aparência, pois é um esporte que proporciona gasto calórico e definição muscular, e muda o interior porque é inclusivo, não há diferença de idade, cor, tamanho e posição social no tatame. No tatame, todos são iguais”, destaca Paloma. 

Entre os maiores desafios encarados, Gregório destaca problemas físicos, mas, também, o trabalho psicológico, cada vez mais implementado em atletas de alto rendimento. 

“As principais dificuldades são enfrentar lesões e adoecimentos que apareceram pelo caminho, e encarar alguns problemas psicológicos antes das lutas, como uma certa ansiedade e estresse”, relata. 

Mas a imposição física ajuda. Por ser alto, o jovem admite ter uma certa vantagem para ajustar seus golpes. Além disso, outros esportes também fazem parte de seu dia a dia, como o basquete. 

Contudo, sua maior paixão ainda é o jiu-jítsu. Na modalidade que passou a ser parte fundamental de sua vida, o lutador tem uma versão favorita. Assim como o canto gregoriano é praticado a capella, desvinculado do acompanhamento de instrumentos, Gregório gosta mais de lutar na modalidade livre do kimono, chamada de No Gi. 

“Apesar de treinar e competir com os dois, prefiro o jiu-jítsu sem kimono por ser um jogo mais solto, envolvendo menos pegada e certas coisas que podem limitar a luta. O sem kimono acaba sendo mais dinâmico e atrativo, além do fato de se aproximar mais da defesa pessoal”, opina o adolescente. 

Em busca de apoio 

A vida de um vencedor não é só ostentar o ouro no topo do pódio. A rotina de Gregório ainda é dividida entre os cadernos e o tatame. No primeiro ano do ensino médio, o jovem pega dois ônibus para voltar para sua casa e almoçar depois da aula. 

Não há tempo para descansar, já que os treinos, que acontecem três vezes por semana, começam às 17h e o jovem mora longe da academia. Assim, tem de pegar mais duas conduções. De volta à sua residência, resta descansar para o próximo dia. Para ele, porém, tudo fica mais leve com o apoio da família. 

“Minha família me apoia muito. Me ajuda a não desistir, a manter o foco, a alcançar objetivos que eu nunca havia pensado que conseguiria tão rápido. Sou muito grato à minha mãe e a todos os treinadores que tive por que, se não fosse por eles, eu nunca seria quem sou hoje.” 

Todavia, seguir o sonho de disputar as principais competições do mundo é algo que custa dinheiro. Essa, na visão de Paloma, é a maior dificuldade na trajetória do filho. 

“Estamos à procura de patrocínios, parcerias e apoiadores no intuito de viabilizar a participação dele em campeonatos nacionais e internacionais, uma vez que ele conta somente com o apoio dos pais e familiares. Infelizmente, não supre o custo com passagens, transporte, hospedagem, inscrições, além de alimentação do atleta e do responsável durante dos campeonatos.” 

Os principais apoiadores trabalham, na maioria, o lado físico do jovem – academia e preparação. Da Secretaria de Esportes de Ribeirão Preto, ele conta com o Bolsa Atleta. Porém, a burocracia, por vezes, atrapalha na renovação do auxílio. Mesmo com todos os percalços, a chama continua acesa no coração de Gregório, que deseja trazer muitas medalhas para Ribeirão e para o Brasil. 

“Meu sonho é poder me manter do jiu-jítsu, disputar o Campeonato Europeu, deixar uma marca no esporte e poder ser um bom exemplo de atleta e pessoa para aqueles que convivem comigo ou que me conhecem pela luta”, completa. 

 

 

 

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