André Luiz da Silva *
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Nesta semana, o Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapárá e Pradópolis conduziu uma série de reuniões setoriais, uma preparação minuciosa para a grande assembleia que definirá a pauta de reivindicações de 2025. Respira-se no ar uma esperança renovada de que a nova administração municipal, quem sabe tocada por sensibilidade, atente-se aos anseios do funcionalismo.
Ao comparecer a um desses encontros, deparei-me com um fenômeno curioso: algumas das demandas apresentadas pelos servidores da Secretaria Municipal da Saúde ostentavam uma respeitável longevidade. Uma delas, para sermos exatos, já soprou doze velinhas, atravessando três gestões sem perder a esperança de ser atendida.
Caminhando pela sede do sindicato, fui subitamente transportado no tempo, de volta a 1991. A primeira assembleia da qual participei aconteceu na sede da então Associação dos Servidores Municipais, na Rua Visconde do Rio Branco. O prédio, apesar de espaçoso, não conteve a multidão de trabalhadores, que se espalharam pelas ruas adjacentes. Eram majoritariamente operários, rostos marcados pela exaustão de longas jornadas sob o sol inclemente de Ribeirão Preto. Naquela época, a prefeitura ainda engatinhava no processo de estruturação e na adequação ao regime de concursos públicos.
Três décadas transcorreram, e o perfil do funcionalismo municipal sofreu uma metamorfose notável. Hoje, superamos a marca de dez mil servidores, a maioria munida de diplomas universitários e especializações. O que antes era privilégio de poucos – um certificado de curso de datilografia – hoje daria lugar a uma relíquia de museu. O domínio das mais modernas ferramentas tecnológicas tornou-se mandamento básico da profissão. O funcionalismo modernizou-se, os processos foram digitalizados, e o famigerado “governo digital” finalmente transpôs o campo das promessas.
Ao longo desses anos, não faltaram batalhas sindicais, greves memoráveis e embates antológicos entre os representantes dos trabalhadores e os ocupantes do Palácio Rio Branco (até a sede do governo mudou de endereço). Entre prefeitos e secretários, houve os amados e os execrados, os indiferentes e os estrategistas. Todos, de algum modo, deixaram suas pegadas na areia da história do funcionalismo municipal. Algumas, vale dizer, foram rapidamente apagadas pelo vento da ineficiência; outras, cravadas a ferro e fogo, perpetuam-se na memória da cidade.
Hoje, um olhar atento pelas secretarias, autarquias e fundações revela um retrato nem sempre animador. Muitos setores padecem com infraestrutura precária, equipamentos obsoletos e equipes esfaceladas. O funcionalismo enfrenta um desafio invisível, mas corrosivo: a desmotivação. O reconhecimento profissional escasseia, e, sem horizonte, muitos servidores optam por abandonar o barco, levando consigo experiência e competência para a iniciativa privada. Uma perda irreparável para a administração pública.
Urge um planejamento que compreenda o servidor como o eixo central da engrenagem pública. Que se façam presentes líderes técnicos que não só gerenciem, mas também inspirem, motivem e caminhem ao lado de suas equipes. Que o ambiente de trabalho seja mais que um espaço burocrático: seja um local de realização e crescimento.
Ao fim e ao cabo, o servidor espera o básico: remuneração justa, estrutura adequada e reconhecimento pelo seu labor. A população, por sua vez, anseia pelo que lhe é devido: água nas torneiras, educação de qualidade, atendimento digno na saúde, ruas transitáveis, praças cuidadas e segurança. Para que essa equação se resolva, o elemento essencial é o mesmo: um funcionalismo preparado, valorizado e motivado.
Que os trabalhadores preparem suas pautas, que o sindicato afie seus argumentos e que o governo tenha a sabedoria de ouvir e agir. E que, com um pouco de sorte e vontade política, as chuvas de março tragam não apenas água, mas também boas novas para o funcionalismo e para a cidade.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista