Por: Adalberto Luque
Quem vive em cidades de médio e grande porte, com população acima de 100 mil habitantes, muitas vezes tem acesso direto a facilidades do mundo moderno, como comércio forte, shoppings, indústrias e prestação de serviços. Tem também mais ofertas de empregos com carteira assinada e onde, a princípio, é mais fácil empreender.
O problema é que viver nestas cidades, mesmo no interior, é conviver com a insegurança. Apesar do trabalho intenso das polícias no combate à criminalidade, ainda é grande a sensação de insegurança, com muitos furtos, roubos e homicídios. Sem levar em conta o trânsito, normalmente violento e caótico nessas médias e grandes cidades.
Mas ainda há municípios com aquele tão valorizado ar de interior, onde se conhece quase todo mundo, onde não é preciso trancar tudo o tempo todo e onde, pasme caro leitor, as pessoas ainda se reúnem nas ruas, com suas cadeiras, para colocar a conversa em dia. Ou na praça da sua igreja matriz.
As polícias Militar e Civil têm sede regional em Ribeirão Preto, atendendo 93 cidades da região, que por sua vez é dividida por batalhões (no caso da PM) e delegacias seccionais (da Polícia Civil). Essa estrutura subdividiu a região, onde oito cidades (no caso da Polícia Civil) são sedes regionais e, portanto, têm delegacias seccionais.
Deste universo de 93 cidades, 32 delas não registram um homicídio há pelo menos um ano. E, destas 32, doze não têm um crime de morte desde 2021. Além da baixa taxa de homicídios, estas cidades também registram poucos casos de furtos e roubos de veículos ou furtos e roubos em geral.
Os casos que acabam indo parar na delegacia, normalmente, envolvem brigas em bar, entre vizinhos e violência doméstica – infelizmente até nestas “ilhas” de tranquilidade isso tem sido registrado.
Para chegar a estes números, a reportagem pesquisou os índices estatísticos de criminalidade, que são divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) desde janeiro de 2001. Não estão incluídos os dados de dezembro porque, até a conclusão desta reportagem, não haviam sido publicados no site da SSP.
Conheça algumas destas prósperas cidades, onde se vive com qualidade de vida e mais tranquilidade em relação aos municípios maiores. Saiba quais são os CEPs onde é possível viver despreocupado.
Serra Azul
A cidade integra a Seccional de Ribeirão Preto e sua região metropolitana. Está a 40 quilômetros de distância. De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, tem 12.746 habitantes.
Ocupa área total de 283.114 km², o que totaliza uma densidade demográfica de 45,02 habitantes/km². Entre 2014 e 2024, Serra Azul registrou seis homicídios. Praticamente um crime a cada dois anos.
Neste período, 67 veículos foram furtados, cerca de seis por ano em média. Outros 22 carros foram roubados (quando há ameaça com arma de fogo ou outro tipo), quase dois por ano.
Os roubos (assaltos) também têm número relativamente baixo. Serra Azul contou 70 casos entre 2014 e 2024. Num único mês, novembro de 2024, Ribeirão Preto teve 135 casos de roubos registrados na cidade, o dobro que Serra Azul em 11 anos.
Apesar de ostentar números que levam Serra Azul a ser considerada uma cidade tranquila, ainda há pontos a serem observados. A cidade registrou a média de 85 furtos por ano (929 no total). Não é um número absurdo, mas são quatro casos por dia.
As lesões corporais dolosas, casos de violência doméstica, brigas em bares ou em geral, também têm um número de certa forma elevado. Foram 670 casos entre 2014 e 2024.
Dumont
Apesar de estar a apenas 20 km de Ribeirão Preto, portanto em sua região metropolitana, Dumont pertence à Seccional de Sertãozinho. Tem 9.491 habitantes, área total de 111.376 km² e 85,04 hab/km².
A cidade surgiu nas terras da Fazenda Dumont, de Henrique Dumont, pai de Alberto Santos Dumont, um dos maiores produtores de café na história do Brasil. A terra que homenageia o “Pai da Aviação” registrou, entre 2014 e 2024, somente três homicídios, um a cada três anos e meio.
Neste período, 58 veículos foram furtados, o que perfaz a média de um carro furtado a cada dois meses. Outros 27 veículos foram roubados na cidade.
Dumont registrou 562 furtos, 103 roubos e 284 casos de lesão corporal dolosa, números são relativos ao período pesquisado.
Motuca
Pertencente à Seccional de Araraquara, Motuca tem 4.034 habitantes (censo de 2022), com área de 228.700 km² e densidade de 17,64 hab/km². Está distante 69 km de Ribeirão Preto.
No período pesquisado, a cidade registrou apenas dois homicídios, o que significa ter havido um assassinato a cada cinco anos. Apenas 11 veículos foram roubados (um por ano), enquanto outros 19 foram furtados.
O número de assaltos também é baixo: foram 32, praticamente três por ano. Os furtos e os casos de lesão corporal dolosa (quando há intenção de ferir), são os crimes mais frequentes. Foram, respectivamente, 245 e 128 ocorrências.
Taquaral
Localizada próxima de Bebedouro, pertence à área da Seccional de Sertãozinho, distante 85 km de Ribeirão Preto, tem 2.619 habitantes e ocupa uma área total de 53,892 km², perfazendo uma densidade de 48,6 hab/km².
Nestes 11 anos, entre 2014 e 2024, apenas um assassinato foi registrado, justamente no primeiro ano do período pesquisado junto à SSP. A cidade teve seis veículos roubados e sete furtados nesse período. Uma média de um carro roubado ou furtado a cada ano e meio.
Os roubos em geral também são raros: foram nove. Em relação a furtos e lesão corporal dolosa, os dados apontam para 185 casos e 126 casos respectivamente.
Santa Cruz da Esperança
Distante 52 km de Ribeirão Preto, a cidade era distrito de Cajuru até 1993, quando foi emancipada. Tem população de 2.116 habitantes (censo de 2022), em área territorial de 148.062 km², com densidade de 14,29 hab/km².
Na região metropolitana, é a cidade da área de abrangência da Seccional de Ribeirão Preto com os números mais baixos de criminalidade. O único homicídio foi registrado em 2014, início do período da pesquisa. Deste então, não houve mais nenhum assassinato. Morrer em Santa Cruz da Esperança só por causas naturais ou acidente. Pelo menos nos últimos 11 anos tem sido assim.
Os moradores também não devem ter lá muita preocupação com seus automóveis. Na última década, a cidade registrou apenas dois furtos e dois roubos de veículos.
Assaltos também são raros. Apenas 11, resultando na média de um a cada ano. O município registrou 207 furtos no período, média inferior a um por mês. As brigas e agressões também não acontecem tanto em Santa Cruz da Esperança. Foram 79 nos últimos 11 anos.
Trabiju
De todas as cidades que pertencem às regiões do Comando de Policiamento do Interior 3 (CPI-3) e do Departamento de Polícia Judiciária do Interior 3 (Deinter-3), Trabiju é a mais surpreendente. As estatísticas criminais passaram a ser divulgadas a partir de janeiro de 2001. E em toda a série histórica, Trabiju jamais registrou um homicídio. Nunca, neste período, ninguém foi intencionalmente assassinado. Há, todavia, uma triste particularidade (leia box).
De acordo com o censo de 2022, a cidade tem 1.682 habitantes ocupando seus 63.421 km², com 26,52 habitantes por km². Distante 128 km de Ribeirão Preto, está próxima a São Carlos, mas pertence à área da Seccional de Araraquara.
Trabiju teve, em 11 anos, 143 furtos e 107 casos de lesão corporal intencional. No mais, os índices beiram o traço. Entre 2014 e 2024, Trabiju registrou quatro roubos, três furtos de veículos e nenhum roubo de veículo. A título de comparativo, Ribeirão Preto tem população de 728.400 habitantes, com área total de 650,9 km² e densidade de 1.119 hab/km².
Através das estatísticas da SSP, estes exemplos mostram que ainda é possível viver com segurança e tranquilidade, sem a necessidade de se trancar. Claro que isso não isenta ninguém de tomar os cuidados mínimos, como fechar uma porta ou trancar um carro. Mas se alguém sonha em poder colocar a cadeira na calçada num fim de tarde para uma “prosa” com os vizinhos, há que considerar esses endereços. Ou de outros municípios de nossa região, onde ainda é possível viver em paz.
Latrocínio em Trabiju
A cidade mais tranquila da região não tem, como foi citado, nenhum caso de homicídio desde que a SSP criou a série histórica, em janeiro de 2001. Mas um crime que abalou a cidade ainda vive na memória da população local. Trabiju registrou um duplo latrocínio (crime seguido de morte).
No dia 05 de maio de 2017, Pedro Henrique Batista, então com 18 anos, resolveu assaltar um casal de idosos, que vivia em uma propriedade rural. O jovem devia R$ 550 para um traficante.
Durante o assalto, ele assassinou a facadas o casal de idosos, Geraldo Amâncio, de 61 anos, e Beatriz de Souza Milhardo, de 74 anos. Os corpos foram encontrados por um vizinho no dia seguinte ao crime, que abalou a pacata Trabiju.
Batista foi preso um dia depois do duplo latrocínio. Ele foi julgado e condenado a 53 anos de prisão pelo latrocínio dos idosos, com agravante de meio cruel.