Tribuna Ribeirão
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Como não perder o sono com os preços dos alimentos 

André Luiz da Silva *
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Esta semana minha amada esposa alertou que devíamos ir ao supermercado. Tomamos nossos vales-alimentação em mãos e seguimos felizes. Lá estávamos nós, prontos para a épica aventura de encher o carrinho de provisões. Porém, a alegria se desfez já na entrada, quando os preços nos saudaram com valores que pareciam ter saído diretamente de um reality show de terror econômico.

Nos corredores, o burburinho era uníssono: suspiros, cálculos mentais e críticas sussurradas sobre quem ou o quê seria o culpado por este martírio moderno. Alguém disse em tom sarcástico: “faz o ‘L’ agora!” e outro prontamente retrucou: “esqueceu que no tempo da arminha era bem pior?”. 

 Nem tentei politizar a coisa, afinal, já está cansativo este jogo de querer estar sempre certo sem qualquer fundamento. Então puxei o celular e digitei no Google: “por que os alimentos estão tão caros em 2025”. A resposta foi “devido a uma combinação de fatores, como a redução da oferta, o aumento dos custos de produção e a instabilidade global”

Lembrei que 2024 foi um show de horrores climáticos. Lá no Sul, chuvas em excesso; queimadas criminosas em todo o país, principalmente na Amazônia e no Cerrado; e, de quebra, as temperaturas batendo recordes de elevação. A matemática disso? Os alimentos e bebidas registraram alta de 7,69%. Nada que um cafezinho não resolva, pensei, até lembrar que a seca no Brasil e o dilúvio no Vietnã resolveram boicotar os dois maiores produtores globais.

Ah, e o churrasquinho de domingo? Nem fale. Descobri que existe um tal de “ciclo da pecuária”, com redução da oferta de bovinos para abate, o que pressiona os custos da arroba e comprime as margens dos frigoríficos. Não sei quem teve a ideia, mas deve ser o mesmo gênio que achou uma boa especular com comida no mercado financeiro.

E o real? Desvalorizado. A Europa? Sofrendo com o calor que dizimou as oliveiras. Tem, ainda, a posse do tal de Trump. Voltando ao supermercado? Virando quase um cassino de apostas, onde, no final, você só ganha se optar por macarrão instantâneo com molho genérico, concorre a álbuns de figurinhas, panelas importadas e até automóveis.

Enquanto isso, a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) resolveu propor medidas salvadoras. Entre elas, liberar a venda de remédios simples nos supermercados. Olha só, se você não conseguir comprar o feijão, pelo menos pode levar um analgésico para dor de cabeça! E tem mais: querem botar a Caixa Econômica para gerenciar o vale-alimentação, tirando o monopólio das quatro gigantes que hoje cobram taxas administrativas como adesão, por transação, tabela de anuidade, gestão de pagamentos e juros para antecipação, todas repassadas ao consumidor final, mesmo o que não compra com vale. Você culto leitor, é capaz de compreender?

Agora, respire fundo. Antes de sair compartilhando vídeos do TikTok ou do WhatsApp, saiba que o governo avisou que não vai congelar preços nem tabelar produtos. Estão estudando as propostas e vão apostar na diplomacia: reduzir taxas de importação e torcer para que alguma coisa faça efeito.

No fim das contas fui à casa do meu pai que acabara de passar um cafezinho, oferecendo a primeira xicara para o São Benedito. Antes de ouvir reclamação tive que explicar para aquele simpático octogenário, que o preço do café que ele colhia na roça é definido por gente de terno que provavelmente nunca sujou a mão de terra. Ele balançou a cabeça e riu, aquele riso de quem já viu de tudo.

O carrinho não ficou cheio, o bolso ficou mais leve, mas a lição foi pesada: somos o país da abundância que vende nossa fartura para o mundo e compra de volta por preços que só o estrangeiro entende. Enquanto isso, seguimos carregando nossa sacola de indignação, torcendo para que as mudanças venham sem crises ainda maiores. E, claro, sem perder o bom humor – porque, convenhamos, rir é de graça, por enquanto.

* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

 

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