Um movimento que começou a ser visto no início dos anos 1990, em Ribeirão Preto, continua, mesmo que lentamente, acontecendo: a crise dos clubes associativos e, em alguns casos, o fechamento de alguns deles. No início, o espaço foi perdido para os condomínios, que cada vez mais começaram a ofertar um “clube no quintal de casa”. Com isso, os problemas financeiros. O mais recente ocorreu no ano passado e chocou uma parcela da sociedade ribeirão-pretana: a unidade cidade da Sociedade Recreativa e Esportes, a Recra, foi vendida após enfrentar uma crise financeira oriunda de dívidas trabalhistas que, somadas, ultrapassariam a casa dos R$ 40 milhões.
“Os associados reagiram muito mal à venda, mas a situação chegou a esse desfecho”, disse o presidente da Recra, Ricardo Liporassi.
A Recreativa foi adquirida pelo Serviço Social do Comércio – Sesc, que ainda não detalhou o que pretende fazer com a estrutura existente. Em nota, o Sesc afirma ter adquirido o prédio. “O Sesc São Paulo fez a aquisição do prédio localizado na Av. Nove de Julho. Somente a estrutura predial passou a ser nossa. A Recreativa de Campo continua sendo Recreativa e segue seu funcionamento baseado em suas próprias diretrizes.”
Segundo Liporassi, a unidade Campo possui aproximadamente 800 sócios. A pretensão é dobrar esse número, criando algumas facilidades. “Acreditamos que a Recra Campo terá um crescimento, e para isso iniciamos a venda de títulos para até 15 dependentes da mesma família por R$ 200,00 mensais.” Segundo ele, para o clube se manter, é fundamental não perder sócios. Os antigos sócios da unidade Nove de Julho que optaram por continuar associados terão os mesmos benefícios dos futuros sócios.
Clubes vivem situações bem distintas
Enquanto alguns já fecharam as portas, como o Iate Clube e o Caiçara, nos anos 1980, e outros lutam para se manter vivos, como o Ipanema e o Palestra Itália. A realidade destes é muito diferente que a do Regatas. Fundado em 1933, o clube à beira do Rio Pardo é um exemplo de sucesso. Um abismo o separa dos demais.
De acordo com o presidente do Regatas, José Eduardo Gallo, o clube vive seu melhor momento, embora, em alguns anos, tenha enfrentado problemas com enchentes e com a pandemia. Todos superados. “Hoje temos um número expressivo de 22 mil sócios, entre remidos e contribuintes, e 280 colaboradores. Na prática, há cerca de 1.000 pessoas atuando com serviços diretos e indiretos, compondo nossa estrutura, que segue em constante evolução”, disse Gallo.
Outro clube que tem conquistado sócios e até se beneficiado com o fechamento da Recra Cidade é a Associação Atlética Banco do Brasil – AABB, na Avenida Portugal. Em 2019, o clube foi revitalizado e vem atraindo até sócios da Recra e dos bairros classe A e B no entorno. “A vantagem de estar dentro da cidade, sem os riscos de blitz na rodovia, e principalmente a estrutura que vem recebendo, nos dá a certeza de um grande crescimento a curto prazo”, disse a presidente Rosa Maria Biagetti.
“Saímos de 350 para 1.300 sócios. São quase 1.500 pagantes. Muitos tenistas e nadadores, com a piscina nova e sauna, estão vindo pra cá. É uma grande revolução. Não consigo precisar a quantidade de sócios que migraram da Recra para cá, mas houve. Para isso, foi preciso uma grande reestruturação”, explicou a presidente.
Com a procura e os investimentos realizados, haverá reajustes nos preços. O clube não exige mais que apenas funcionários do Banco do Brasil se associem, como ocorria anteriormente.
Ipanema tenta voltar a ser gigante
Um dos clubes mais tradicionais da cidade, o Ipanema luta bravamente para atrair novos associados. “Chegamos a ter 12.000 sócios. Hoje são cerca de 700, entre remidos e contribuintes”, disse o presidente Ademar Teixeira Campos Júnior.
O Ipanema mantém uma boa estrutura, mas é difícil sustentá-la. Prova disso é que o clube abre de quarta a domingo e tem 15 colaboradores, além dos freelancers aos finais de semana. A área do clube é uma das maiores, com 800 mil m². “Para nós, o ideal é chegar a 1.200 sócios, pelo menos, mas sabemos que o mundo mudou, a realidade mudou. O perfil não é mais o do jovem, adolescente, que se distrai no sofá com o celular”, salientou o presidente.
Ele ressalta, porém, que o Ipanema está conseguindo, com acordos judiciais, equacionar suas dívidas e evitar ações, como as que exterminaram a Recreativa. O clube segue um trabalho incansável para trazer os sócios de volta. Para isso, tem colocado títulos à venda a preços bem atrativos, por até R$ 350,00, mais a mensalidade.
Nesse contraste visível, destaca-se também o Magic Gardens, com sua bela estrutura, que inclui um enorme complexo com parque aquático, piscinas de ondas, um rio calmo, quadras e churrasqueiras.