Tribuna Ribeirão
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Virose é um aviso 

Renato Nalini * 
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O verão atrai as pessoas para um contato com o mar. Esse mar grandão que banha mais de dez mil quilômetros da costa brasileira. São Paulo é uma região privilegiada. Tem todo tipo de praia: calma, brava, com florestas, com montanhas.  
 
Mas a humanidade, que se diz provida de racionalidade, não é dotada de juízo. A exploração cruel do litoral começou com a derrubada da mata, a destruição dos mangues, a ocupação de todos os espaços com prédios e mais prédios. Até os morros, em Ubatuba, foram sacrificados. É um crime o que se fez naquela bela orla. 
 
A natureza não tem pressa, mas se vinga. O volume de plástico nas praias fez desaparecer os peixes e a fauna marítima que era abundante. Quem é que encontra conchas e caramujos em nossas praias poluídas? 
 
Agora vem a virose no Guarujá e todas as praias de Santos impróprias para o banho. Será que não é tempo de levar a sério a questão do saneamento básico? Esgoto na praia? Isso é surreal. Como se deixar levar pelas ondas, tendo ao lado a companhia de fezes?  
 
Mais educação, minha gente. Que não precisa ser educação qualificada, ecológica ou ambiental. Aquela boa educação de berço que as mães antigas faziam questão de impingir em sua cria.  
 
A virose é um aviso. Se nada for feito, e é muito mais dispendioso corrigir do que prevenir, outras desgraças virão. Nosso litoral já é um espetáculo deprimente ao mostrar como é que não se deve tratar o mar. Ele mesmo se encarregará de corrigir isso, com o tempo. Afinal, o aquecimento global derreterá as calotas polares. O mar retomará aquilo que o homem subtraiu a ele. E talvez volte a ficar, no decorrer dos séculos, aquela beleza indômita, depois expulsar a espécie que o poluiu e conspurcou.  
 
Não estarei aqui nesses tempos. Mas gostaria de ver alguma reação da lucidez que ainda não soçobrou à polarização, à mediocridade e à negligência que impede as novas gerações de curtirem a praia como nós pudemos fazer quando crianças.  
 
* Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo: presidiu o Tribunal de Justiça (2014-2015) 

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